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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Mães adolescentes

Pode até parecer mentira, mas a verdade é que, em pleno século XXI, ainda há muitos jovens sem informação no que diz respeito à sua própria sexualidade. Mas, mais do que falta de informação, é o medo de assumir a vida sexual activa e a falta de espaço para a discussão dos valores com os pais/adultos que, muitas vezes, acaba por levar à gravidez indesejada.

Claro que também há gravidezes falsamente indesejadas, geradas pela necessidade de afecto das raparigas ou para forçar o parceiro a assumir a relação. Esta ocorrência culmina com as gravidezes que se dão para serem o pretexto de a rapariga poder sair de casa, deixar o seu meio familiar, quase sempre desestruturado e desequilibrado, movida pelo sonho de encetar uma vida nova em que tudo será feliz e harmonioso. Não é regra. Infelizmente esses sonhos quase nunca se tornam realidade...

A adolescência é (ou deveria ser) um período de descoberta do mundo, dos amigos, de uma vida social mais ampla (já se pode até ir à discoteca sem ter os pais sempre a melgar!)... Assim, a gravidez pode interromper, na adolescente (falamos no feminino, porque normalmente é a rapariga que acaba por se privar das suas actividades para cuidar da gestação e da criança), esse processo de desenvolvimento que é próprio da idade.

Acrescem as responsabilidades e há que assumir o papel de adulta, já que se vê "obrigada" a dedicar-se aos cuidados maternos. O prejuízo é duplo: nem é uma adolescente plena, nem será inteiramente adulta!

Mas, ao contrário do que acontecia anteriormente, a informação até está muito mais disponível para os jovens. Abriu-se a discussão da sexualidade e até já há escolas com programas de Educação Sexual. Mas, por incrível que pareça, a situação mantém-se.
Mas afinal, poder-se-á perguntar, se há tanta disponibilidade de informação, por que é que o número de mães adolescentes não se reduz?

Bom, não é lá muito fácil responder a esta pergunta! Afinal de contas, cada caso é um caso. Mas uma coisa é certa: os adolescentes têm, hoje em dia, o acesso facilitado à pílula anticoncepcional e ao preservativo. Os meios de comunicação social e as escolas estão sempre a fazer campanhas de sensibilização, os centros de saúde estão à disposição para tirar toda e qualquer dúvida que possa existir...

No meio de tanta disponibilidade, parece que o problema é os adolescentes ainda não terem assumido a atitude que faz a prática ser eficiente. Ou seja, a partir do momento em que têm acesso à informação, este acesso deveria despoletar uma atitude: a de pôr em prática os conhecimentos adquiridos. Mas infelizmente isso não acontece!

Muitos jovens ainda têm a ideia que com eles não acontece nada de mal - nunca. Esse tipo de coisas acontece sempre aos "outros"! De facto, não é raro ouvir uma mãe adolescente afirmar que "nunca pensei que isto me pudesse acontecer, embora soubesse que podia engravidar".

Este tipo de atitude pode ser designada "pensamento mágico". É verdade, não riam. É um momento em que a dimensão temporal, as atitudes, não são pensadas. E como "não há a menor possibilidade disso acontecer comigo" ou, na versão mais comum, "isso só acontece aos outros", os adolescentes vão deixando acontecer...

E quando descobrem que estão grávidas, a maior parte das adolescentes passa por momentos de grande angústia e tensão. Têm medo de contar ao namorado (se é que a relação é estável), de contar aos pais ou que os amigos descubram e as isolem. A opção, para muitas, é o aborto, feito às escondidas, muitas vezes sem dizerem nada a ninguém.

Outras optam (seja por medo, seja por falta de recursos financeiros, ou até devido às suas convicções) por enfrentar tudo e todos e ir avante com a gravidez. Tanto umas como outras acabam por marcar irremediavelmente as suas vidas: forçam-se casamentos, interrompem-se planos de vida e as crianças, mesmo que sejam muito amadas, são um "imprevisto" que fica para sempre.

Também acontece muitas vezes o medo da jovem levá-la a esconder a gravidez até às últimas consequências. Nesses casos, a falta de um acompanhamento médico desde o início da gravidez, pode trazer complicações, tanto para a mãe como para a criança.

Para as jovens que decidem ter o filho, a fantasia deixa de existir para dar lugar à realidade na hora do parto. É um momento muito delicado que pode gerar medo, angústia e rejeição.
E, quando não há apoio da parte da família, companheiro e amigos, o futuro da adolescente fica seriamente comprometido. Interrompem-se os estudos (muitas vezes até definitivamente) e hipoteca-se a oportunidade de arranjar o emprego/carreira dos seus sonhos...

Viver simultaneamente a própria adolescência e ser pai também não é tarefa fácil. Da mesma forma, o jovem adolescente que se torna pai vê-se envolvido na dupla tarefa de lidar com as transformações da idade e as da paternidade, que requerem trabalho, estudo, educação do filho e cuidados com a companheira, esposa ou "apenas" mãe do seu filho.
A somar a isto, quando a relação não é estável ou foi apenas uma aventura, as relações entre duas famílias que "não têm nada em comum excepto a criança" podem ser muito tensas e até hostis... E quem sofre? Não, não é só a criança. São todos!

E, apesar de todas as dificuldades que advêm da gravidez indesejada na adolescência, não é raro ouvir dizer que os programas de Educação Sexual nas escolas só servem para despertar o interesse aos adolescentes. Como se, ao aprender como se utiliza um preservativo, se fosse a correr experimentar ter relações sexuais!!! Na verdade, quanto mais informação os adolescentes tiverem, quanto melhor for a qualidade da mesma, mais condições estes terão de fazer as escolhas correctas para não prejudicar a sua vida.

Mas dar apenas informações técnicas aos jovens não basta! É muito importante que também sejam orientados em casa, na família. É essencial que possam fazer perguntas, conversar com amigos e parentes mais velhos e aconselhar-se quanto à escolha do melhor método contraceptivo. O importante é que falem e sejam ouvidos (e não julgados)!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Educação Sexual, as atitudes e as crenças

Para falar de Educação Sexual é essencial que comecemos por explicar o que entendemos por sexualidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a Sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade. Integra-se no modo como nos movemos, tocamos e somos tocados. Influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia a nossa saúde física e mental. Ou ainda segundo Merleau Ponty (1975), a sexualidade é todo o nosso ser, um ser humano sem sistema sexual é tão incompreensível quanto um ser humano sem pensamento.

A educação para a saúde, na qual se integra a Educação Sexual, concentra-se na mudança de atitudes e crenças, julgados determinantes do comportamento. Procura-se obter com esta estratégia uma promoção do melhor estado de saúde. Paralelamente a este movimento educativo, a promoção da saúde, com o objectivo de melhorar a saúde e prevenir a doença, estendeu-se a campos sociais e legislativos. Tal aconteceu com a Educação Sexual. O Estado, numa perspectiva de melhorar a saúde dos adolescentes e prevenir a doença, deu início a um processo legislativo e de implementação da Saúde Sexual e Reprodutiva nas escolas através do conceito Educação Sexual.

A Educação Sexual tem como objectivo a integração harmoniosa das diversas facetas da sexualidade humana, promovendo a aquisição de uma postura responsável, flexível e gratificante de crianças e jovens enquanto seres sexuados. Neste sentido a Educação Sexual foi pensada através de uma abordagem transversal não reducionista . Isto é, respeitando uma estrutura multifacetada da sexualidade humana, abordando relações interpessoais, responsabilidades, anatomia e fisiologia, etc.

O primeiro grupo de estudo sobre «Sexualidade e Educação» aparece em 1971 no âmbito da «Reforma Veiga Simão» e funciona até 1973, produzindo uma actividade no âmbito da educação mista. A 24 de Março de 1984 surge o primeiro documento legal publicado sobre Educação Sexual em meio escolar, a Lei 3/84. O Estado garante deste modo o direito à Educação Sexual como componente do direito fundamental à educação. O Estado português tem vindo então a enquadrar legislativamente a Educação Sexual, quer a nível das Leis de Base do Ministério da Saúde, quer do Ministério da Educação. Todavia, só através do Decreto-Lei N.º 120/99 de Agosto de 1999 foram definidos e nomeados os conteúdos da Educação Sexual:

Sexualidade Humana;
Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor;
SIDA e outras doenças transmitidas por via sexual;
Métodos contraceptivos e planeamento familiar;
Relações interpessoais;
Partilha de responsabilidades e igualdade entre os géneros.

As atitudes e as crenças face à sexualidade – As atitudes podem ser definidas como uma predisposição para a avaliação favorável ou desfavorável. Estas predisposições vão sendo consolidadas, em particular na adolescência, através das experiências de vida ou da aprendizagem com os pares. De acordo com Félix López, esta predisposição pode ser subdividida em crenças (componente cognitiva da atitude), sentimentos (componente afectiva da atitude), e ainda numa disposição para o comportamento (componente comportamental).

Durante a adolescência a estrutura valorativa entra muitas vezes em ruptura, as atitudes entram muitas vezes em contradição com o sistema de crenças. O comportamento nesta fase do ciclo de vida contraria um sistema valorativo muitas vezes imposto por pais e educadores. A procura de um próprio mapa valorativo conduz o jovem a atitudes contraditórias e a uma constante procura de harmonia entre crenças e atitudes. A Educação Sexual procura de certa forma capacitar para a reflexão, responsabilização e para o desenvolvimento de atitudes positivas face à sexualidade.

As atitudes podem mudar ao longo da vida e podem ir desde uma atitude conservadora – erotofóbica - em que a sexualidade é vista unicamente no sentido da reprodução, até uma atitude liberal – erotofílica -, na qual a sexualidade é entendida como dimensão humana com múltiplas possibilidades. A mudança num ou noutro sentido depende de numerosos factores, todavia, conhecendo-se a estrutura de determinada atitude, é mais fácil compreender certos comportamentos sexuais e levar a cabo intervenções que facilitem a mudança (López, 1999).

A presente legislação relativamente à Educação Sexual é a prova da restruturação do mapa de atitudes sociais face à sexualidade. Na realidade afastámo-nos de uma atitude de negação, interdição, proibição e obsessão face à sexualidade dominada pela ideologia judaico-cristã. Esta perspectiva assentava num modelo dualista de corpo (matéria impura) e alma (matéria pura), dando origem ao modelo biomédico, a uma estrutura social e legislativa de proibição e recriminação da sexualidade. Todavia, para muitos, as atitudes socais face à sexualidade, confrontadas com um boom da comercialização da imagem e do sexo, mudaram-se do campo da interdição para o campo da permissividade. Aqui nasce uma certa preocupação social face ao que pode ser aprendido e controlado através da Educação Sexual em meio escolar.


Referências Bibliográficas

Bennett, P., & Murphy, S. (1999) Psicologia e Promoção da Saúde (traduç. portuguesa). Lisboa: Climepsi Editores.

Equipa de Apoio Técnico sobre Educação Sexual (EATES) ao Centro Nacional da Rede de Escolas Promotoras de Saúde (2000). A Educação Sexual em Meio Escolar – Linhas Orientadoras. Lisboa: Ministério da Educação e Ministério da Saúde.

López, F. (1995). Amor, Erotismo, Biologia e Educação Sexual. Sexualidade e Planeamento Familiar, S.2 (6), 8-12.

López, F., & Fuertes, A. (1999). Para Compreender a Sexualidade (traduç. portuguesa). Lisboa: APF.

López, F.,García, C., Montero, M., Rodríguez, J. A., & Fuertes, A. (1986). Educacíon Sexual en la Adolescencia. Salamanca: Edições Universidade de Salamanca.

Loureiro, I. (1998). Educação Sexual nas Escolas. Sexualidade e Planeamento Familiar, N º 17/18, Série 2 ( Jan/Jun 1998 ), 10-12.

Vaz, J.M., Vilar, D., & Cardoso, S. (1996). Educação Sexual na Escola. Lisboa: Universidade Aberta.

Vilar, D. (1987). Aprendizagem Sexual e Educação Sexual. In Sexologia em Portugal: sexualidade e cultura, II Vol. (pp.165-180). Lisboa, Texto Editora.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Culto do Corpo

Se há uma coisa da qual pudemos ter certeza é o facto de nascermos e morrermos seres sexuados. Pudemos nascer do sexo masculino ou do sexo feminino, até pudemos nascer com um sexo que não desejamos. Mas nascemos com um sexo...somos seres sexuados e toda a nossa vida e a maior parte dos nossos comportamentos irá ser condicionada por essa constante.

Este corpo sexuado é o objecto mais privado que possuímos, sendo, simultaneamente, aquele através do qual interagimos em sociedade. É através dele que sentimos e “infligimos” a atracção física, e vivenciamos a beleza. É sem dúvida um objecto de culto, alvo de padrões culturais de beleza que diferem de cultura para cultura de sexo para sexo e evoluem com o passar dos anos e das modas. O corpo pode ser também um veículo de uma das nossas melhores linguagens: a linguagem corporal. Os movimentos e as expressões possuem um papel vital na manifestação de emoções e sentimentos como a paixão, o desejo ou o amor.

Quer queiramos quer não, a beleza individual, a imagem, o corpo, desempenham um papel fundamental na escolha do parceiro. O ideal de beleza e o estatuto subjacente sobrepõe-se à escolha de parceiro com fins reprodutivos. A ideia de beleza interior pode parecer um conceito muito nobre, mas na realidade é em prol do aspecto físico que fazemos sacrifícios. Pensando bem, não aproveitamos o nosso pouco tempo livre para lermos as últimas novidades literárias. Não, vamos ao ginásio, fazemos exercício, aperfeiçoamos o corpo, melhoramos o nosso cartão de visita.

Desde cedo aprendemos a olhá-lo e a compará-lo. Este é um ritual que começa logo na infância quando descobrimos as diferenças entre “meninos e meninas”, mais tarde já durante a adolescência iniciam-se as comparações entre os géneros. Entre grupos de rapazes e raparigas gera-se um frenesim e uma competição pela presa do sexo oposto. As raparigas anseiam pelo boom revolucionário de ancas e seios e exterminam pêlos voluntariosos os rapazes contam pelos dedos das mãos os novos pêlos da face, exibem os músculos e medem o pénis, consomem horas em frente a espelhos na esperança de parecer belos aos olhos de quem se quer agradar.

Mais tarde fazem-se novos sacrifícios pela imagem, basta olhar para o comprimento (e também para a largura) de saltos altos sobre os quais milhares de mulheres se equilibram das 9 às 17h ou a fileira de cremes e produtos de beleza, com que nos "besuntamos". A própria força da gravidade é contrariada por wonder bras (aqueles soutiens que levantam os seios) ou por wonder pants (roupa interior que tem o mesmo efeito, mas, neste caso no traseiro de homens e de mulheres). Todas estas práticas retratam formas de estar e viver com o próprio corpo, muitas delas apressando os anos, outras procurando retardá-los.

Um corpo bonito, uma boa forma física foram sempre sinónimos de uma maior receptividade do sexo oposto por estarem associados a uma melhor performance sexual. Padronizou-se que um corpo musculado, atlético era garantia de prazer. Em volta da sexualidade e do corpo criaram-se inúmeros mitos, aliás, sendo ainda a sexualidade um assunto tabu que só em anos mais recentes tem sido desmistificada. A Educação Sexual em meio escolar é popular entre os mais novos, permitindo muitas vezes clarificar conhecimentos e eliminar tabus.

Todavia são ainda inúmeros os mitos erróneos que se espalham à velocidade da luz. Corpos musculados podem ser sinónimo de prazer para uns, longe de o serem para outros, o sexy e o sensual são conceitos muito pessoais, sentidos de diferentes e variados modos. Não são as loiras que detém o poder da atracção sexual e as morenas o intelecto, de certo que não é o tamanho dos seios ou o diâmetro das ancas que semeia desejo ou o tamanho do pénis que assegura orgasmos. É a linguagem do corpo associada a uma boa dose de imaginação que nos torna atraentes e sedutores.

Quando existe desconhecimento ou quando se instala a comparação e se desassocia a linguagem do corpo de todos os sentimentos, implantam-se tabus e medos. O desconhecimento do funcionamento do nosso corpo torna-nos intolerantes e competitivos. A sexualidade deve ser vivida de modo tranquilo, concedendo-nos o tempo necessário, respeitando o nosso tempo e respeitando o tempo dos outros. Aprendendo a viver com o nosso corpo, os nossos defeitos e as nossas qualidades e tirar partido de todos eles.

sábado, 1 de outubro de 2011

Amor - uma abordagem "científica"



Este artigo expressa as teorias apresentadas por vários autores. Como todas as teorias, também estas são constestáveis.







APAIXONAR-SE

É frequente distinguir três fases no processo de enamoramento e em cada uma delas se observa a intervenção de diferentes hormonas. Vejamos:

Fase 1: Desejo
O desejo é "alimentado" pelas hormonas testosterona e estrogénio. A testosterona não existe apenas nos homens e desempenha um papel importante no desejo sexual das mulheres.
Fase 2: Atracção
Esta é a fase mais "aguda", durante a qual as pessoas envolvidas parecem não ser capazes de fazer mais nada além de suspirar pelo(a) eleito(a) do seu coração. Os casos mais graves incluem perda de apetite e insónia.
Nesta fase há um grupo de neurotransmissores que desempenham um papel importante para induzir o comportamento que a caracteriza. Entre estes estão:
- dopamina
(é também activada pela cocaína e pela nicotina)
- norepinefrina/adrenalina
(acelera o ritmo cardíaco e provoca sudação)
- serotonina
(a sua acção traduz-se em alterações do comportamento)

Fase 3: Ligação afectiva
Ninguém aguenta ficar na fase 2 para sempre, pelo que a necessidade de estabelecer uma ligação mais forte e assumir um compromisso surge naturalmente. Há duas hormonas cuja presença marca esta fase:
- oxitocina
(é libertada durante o parto e está directamente implicada na produção de leite materno; é também libertada por ambos os sexos durante o orgasmo e pensa-se que será de alguma forma responsável pela ligação entre dois adultos que mantêm uma relação de intimidade)
- vasopressina


ATRACÇÃO

Segundo alguns estudiosos, existem alguns factores que nos tornam mais ou menos atraentes para o sexo oposto.

Simetria perfeita
Pensa-se que, sem nos apercebermos, encaramos a assimetria do rosto como um indício da existência de problemas genéticos no indivíduo em causa. Assim, muitos estudos revelaram que os homens parecem sentir-se atraídos pelas mulheres com os rostos mais simétricos. Nas mulheres essa preferência não é tão acentuada.

A «mulher-ampulheta»
Os homens parecem apresentar uma preferência por mulheres com uma relação anca-cintura de 0,7. Esta relação pode ser obtida graças à seguinte fórmula: medida da cintura ÷ medida da anca. Esta atracção não parece estar associada ao peso. Há quem estabeleça uma ligação entre esta relação e a fertilidade da mulher.

E quem diz que os elementos de um casal são frequentemente bastante parecidos não está assim tão errado, uma vez que (mais uma vez) há estudos que indicam que temos tendência a procurar um parceiro que tenha algumas características em comum connosco.

domingo, 25 de setembro de 2011

Educação Sexual no Ensino Secundário - uma experiência de interdisciplinaridade

No texto que a seguir se apresenta indicam-se, numa primeira parte, Introdução, as razões que motivaram a escolha do tema e, numa segunda parte, Metodologia, os passos percorridos para concretizar o programa de Educação Sexual. Segue-se uma breve análise dos Resultados e algumas Conclusões e sugestões para projectos nesta área.


Introdução

A necessidade de escolher um tema no âmbito da saúde pública para um trabalho de investigação, que servisse pela sua actualidade e pertinência, simultaneamente os objectivos curriculares da escola, tais as razões que levaram a autora a abordar este assunto.

A maneira a desenvolver neste artigo será, no corrente ano, alvo de uma dissertação de mestrado. Daí que o que aqui se pretenda apresentar, sinteticamente, sejam apenas as razões motivadoras e os procedimentos envolvidos numa experiência de interdisciplinaridade.

Esta experiência centrou-se, fundamentalmente, na aplicação de um programa informativo e formativo de Educação Sexual, cujas consequências se pretendia que fossem: a alteração dos conhecimentos e atitudes dos alunos sujeitos a esse programa, relativamente ao seu estado inicial; a promoção da sua saúde e bem-estar; a prevenção de doenças e melhoria das suas capacidades de comunicação e tomada de decisão.

Poder-se-á dizer que, em termos de justificação, a necessidade deste ou de outros programas de Educação Sexual, nos dias de hoje surge, como todos têm consciência, mais do que indispensável.

- Primeiro, porque, nas ultimas décadas, o comportamento e desenvolvimento físico e sexual dos adolescentes se modificou acentuadamente. Os jovens estão a atingir a puberdade muito mais cedo do que as gerações anteriores (1). Em consequência disso têm, também, os seus primeiros relacionamentos sexuais mais cedo, sabendo-se, através de um estudo efectuado (1), que entre os 15-19 anos 60% dos jovens são já sexualmente activos e 13% desse grupo, aos 14 anos e menos que isso, já tinham relacionamentos sexuais completos.

Em Portugal, os últimos estudos neste campo, levados a cabo por Nuno Nodim (2) e Pedro Vasconcelos (3), sugerem que 23% da população jovem se inicia sexualmente com menos de 16 anos, sendo de 80% o número dos que, entre os 18 e os 25 anos já tiveram relações sexuais.

- Segundo, porque, a socialização dos jovens é feita relativamente não a um único código moral, mas a um leque variado de valores, por vezes em contradição.

- Terceiro, porque se alterou a estabilidade familiar através da mobilidade da mesma e da facilidade do divórcio.

- Quarto, porque as novas formas de cultura de massas, como consequência do advento dos meios de comunicação social, apresentam uma sexualidade sobrevalorizada.

Ora, como é sabido, a conduta sexual dos jovens tem implicações consideráveis na sua saúde. As estatísticas sobre a gravidez na adolescência e sobre as doenças sexualmente transmitidas, demonstram-no claramente. Sabe-se, também, que na faixa etária dos adolescentes o uso de contraceptivos é, ainda, reduzido devido, principalmente, a falhas na informação e comunicação com os jovens. Daí que, baseado nestes pressupostos, se tenha orientado a pesquisa sobre o papel da informação, adquirida durante uma experiência de três meses, na mudança dos conhecimentos e atitudes prévios, de um grupo de alunos.

Para tal, fez-se uma revisão de literatura e constataram-se outras experiências semelhantes e seus resultados (1,4,5,6,7). Em trabalhos anteriores a estes reconheceu-se que os conhecimentos são não só cruciais para a adaptação psicológica necessária durante a adolescência mas também pré-requisitos para um comportamento seguro. É, igualmente importante, avaliar o que os jovens sabem sobre puberdade e sexualidade, para que se possa fazer a elaboração de programas de Educação Sexual nas escolas. Para assegurar que os programas atinjam os fins a que se propõem é necessário, também, avaliar os conhecimentos antes e depois de ensinar (1).

"Efectivamente, a Educação Sexual só pode ser levada a cabo se, a posteriori, houver urna avaliação dos resultados'' (Winn, 1998). Então, porque as investigações, sobre os conhecimentos de sexualidade que os jovens têm, revelaram que esses conhecimentos são escassos, incompletos e incorrectos e que isso afecta a sua saúde, o modo como interagem sexualmente e a sua capacidade de tomar decisões, pensou-se ser importante e necessário implementar um programa cujos objectivos fossem, além de outros, aumentar também os conhecimentos dos alunos em matérias de natureza sexual.

Nos assuntos revistos foi encontrado e evidenciado o papel dos Programas de Educação Sexual de 4.° Geração, programas que se baseiam em currículos intitulados de "Redução do Risco" (7). Tratam-se de programas interactivos, dinâmicos, centrados em objectivos compartimentais, que levam os alunos a desenvolver capacidades e destrezas, a desenvolver a assertividade, a par de uma informação, o mais completa possível.


METODOLOGIA

As actividades realizadas desenvolveram-se ao longo do ano lectivo de 1999/2000. As etapas mais representativas da planificação estão apresentadas no quadro síntese, que resume todo o trabalho desenvolvido durante esse período.

Este estudo experimental consistiu em submeter uma amostra da população escolhida (uma turma do 11.° ano, do agrupamento I) à influência da variável "frequência de um programa de Educação Sexual", que decorreu na Escola Secundária D. Dinis ao longo do 1.° período lectivo de 1999/2000, em 27 sessões (27 horas aproximadamente), em condições controladas e conhecidas, e avaliar as modificações nos conhecimentos e intenções/atitudes sobre sexualidade, desse grupo.

A temática da Educação Sexual foi abordada nas disciplinas do ano em questão, mais precisamente naquelas em cujos conteúdos e objectivos se podiam sobrepor, tal como é preconizado, quer na actual legislação (Decreto-lei n.° 259/2000 de 17 de Outubro) quer no manual Orientaçãoes Tecnicas Sobre Educação Sexual Em Meio Escolar (8).



Etapas do trabalho
Datas

Elaboração do projecto de um programa de Educação Sexual, submetido à
armação do Conselho Pedagógico da Escola Secundária D. Dinis.
Julho de 1999

Elaboração questionários de conhecimentos e altitudes sobre sexualidade.
Julho e Agosto de 1999


Aplicação dos questionários de conhecimentos e altitudes.
Setembro de 1999


Avaliação dos questionários reformulação do programa de Educação Sexual,
tendo um vista os resultados obtidos nos questionários.
Outubro de 1999


Preparação das sessões de Educação Sexual.
Outubro a Dezembro de 1999
1999


Implementação do programa de Educação Sexual.
1.° Período do ano lectivo
1999/2000


Nova aplicação dos questionários aos alunos, para avaliar mudanças.
Janeiro de 2000





Fonte: A tese de mestrado "O papel dos conhecimentos e atitudes em Sexualidade como pré-requisitos para comportamentos saudáveis".


A autora deste estudo adaptou um programa original, incluído na bibliografia citada (4), a sua realidade curricular específica, constatada, quer através dos resultados obtidos pela aplicação dos questionários, quer através dos conteúdos das disciplinas do 11.° ano de escolaridade. Nesse sentido foi elaborado o Quadro II, onde se evidencia a forma transversal e integrada como a Educação Sexual foi implementada, nos currículos que melhor a podiam tratar. Para a elaboração deste quadro a autora baseou-se num projecto/programa de Educação Sexual para o ano lectivo 1999/2000, apresentado e aprovado em Conselho Pedagógico da Escola Secundaria D. Dinis.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Educação Sexual nas Escolas

Introdução: Isabel Maria Cunha (1)


Os jovens "são apaixonados, irascíveis, e capazes de ser levados pelos impulsos, sobretudo os impulsos sexuais... em relação aos quais não exercem nenhum autocontrolo. Além disso são volúveis e instáveis nos seus desejos, os quais são tão transitórios quanto veementes..."

Aristóteles

Neste número do Boletim resolvemos por em destaque o tema da Educação Sexual nas Escolas, por considerarmos ser um assunto que está na ordem do dia e na preocupação dos Professores, Pais e Escolas. Contudo, se dermos uma vista de olhos ao que já foi escrito e dito em entrevistas, artigos de jornais, revistas, noticiários... tem-se a impressão de que já foi tudo dito. Mas, qual ou quais as conclusões?



Se nós fossemos assexuados, produziríamos clones de nós próprios e seríamos potencialmente imortais como o são, ainda hoje, muitos seres unicelulares. Mas a evolução empurrou-nos para um destino em que a nossa sexualidade é a causa da nossa grande diversidade e da nossa mortalidade. Pagamos caro a capacidade de produzirmos seres diferentes de nós e entre si. Mas quanto ganhamos em afectividade!... A expressão da nossa sexualidade é, afinal, uma forma de comunicação. Se fossemos assexuados, o tão falado Amor de Mãe não existia, como não existiria o amor entre homem-mulher e entre Pais e filhos. A nossa sexualidade é indutora de sentimentos de afecto, de paixão, de amor, atingindo-se por vezes um grau de intimidade entre duas pessoas que se conhecem e compreendem de tal modo que já não precisam de falar. Um simples olhar e sabe-se o que o outro está a pensar e o que nos quer dizer... Uma intimidade onde o silêncio fala e não é solidão. E é quando os corpos e as almas se encontram numa relação sexual cheia de amor que ser sexuado é gratificante para o indivíduo. Mas, nos dias de hoje, os corpos andam tão depressa que nem esperam pela alma.

Lembro-me do caso, verídico, de um rapaz que, tendo pedido namoro a uma colega, foi confrontado no dia seguinte com a entrega de um calendário onde, segundo ela informou, podia verificar os dias em que podiam ter relações sexuais e aquelas em que as mesmas eram interditas. E... ele foi-se embora. Aquela moça não sabia que não há nada mais excitante do que o jogo da sedução.

É triste ver os nossos jovens, alguns ainda tão novinhos, em práticas sexuais para as quais não estão preparados nem física nem psicologicamente. Quantas relações antes de tempo deixam marcas negativas para toda a vida. Quantos problemas físicos e psicológicos resultantes de situações complicadas com as quais não se está preparado para lidar.

Ouvimos os alunos a pedir com uma certa emotividade: Educação Sexual na Escola, já! Mas que entendem eles por Educação Sexual? Quem a vai dar? Qual a preparação desses professores (ou não vão ser professores?)? Quem e como avaliar os resultados dessa educação?

Há anos que a Educação Sexual é obrigatória nas Escolas do Reino Unido, a partir dos 12 anos. Quais os resultados? A número 1 da Europa em adolescentes grávidas. O que significa isto? Que lá a educação não foi bem orientada? Então, como fazer? O Primeiro-Ministro Britânico, além de ter afirmado em recente entrevista que pretendia tomar a profissão docente como a mais prestigiada na Grã-Bretanha, dizia também uns meses antes que pretendia fomentar a virgindade entre os jovens do seu país. É por aí que se deve ir?

Tantas interrogações e tão poucas certezas...
De todas as mudanças que se processam na adolescência, o aumento do impulso sexual, acompanhado de sentimentos e ideias novas e muitas vezes estranhos, é dos mais característicos. E, tanto para os rapazes como para as raparigas, uma das tarefas mais difíceis de realizar, nessa altura, e a de lidarem com a sexualidade nascente e ajustarem-na ao seu sentido de identidade e aos seus valores, sem conflitos ou ansiedades excessivos. As mudanças físicas que vêem acontecer no seu corpo, as ideias novas que lhes chegam a mente, os sentimentos e impulsos que experimentam, confundem-nos. Os pais, os professores e os amigos podem ajudar ou dificultar o ajustamento a essas mudanças e podem também influenciar no sentido de se tornarem motivo de orgulho ou uma fonte de confusão e ansiedade. Os jovens querem e têm direito a receber informação correcta sobre questões práticas como relações sexuais, concepção, gravidez e controlo de natalidade mas, e talvez sobretudo, querem saber como integrar o sexo com os outros valores e como se devem relacionar de forma mutuamente compensadora e construtiva com indivíduos do seu próprio sexo e do sexo oposto. Muito provavelmente, eles gostariam que os ajudassem a construir uma ética sexual pela qual se norteassem, que tivesse por base os valores em que acreditam. Dar aos jovens uma informação franca e adequada sobre o que e o desenvolvimento normal de um adolescente e as possíveis variações que podem acontecer pode evitar muita angústia e aflição desnecessárias.

E como é que a nossa Sociedade responde a tudo isto?
A sociedade actual, numa altura em que ela busca um equilíbrio que sente precário, dá-lhe uma resposta incoerente, conflituosa e hipócrita, atirando-lhe aos olhos, filmes, telenovelas, imagens (que podem ser vistas em qualquer escaparate de rua), livros e até bandas desenhadas, que só usando de eufemismo se podem classificar de eróticas em vez de pornográficas, ao mesmo tempo que lhes exige que se saibam comportar. Face aos problemas que surgem de gravidez na adolescência propõe a despenalização do aborto; face ao aumento de SIDA, coloca máquinas de preservativos nas escolas; face à necessidade de uma educação para a sexualidade seria, objectiva, equilibrada, promotora de uma consciência reflexiva que conduza a uma ética sexual baseada em valores universalmente aceites de liberdade responsável, de responsabilidade consciente, de respeito pelo outro e pela vida e de justiça individual e social, propõe uma educação transversal, transdisciplinar, dada por quem a quiser dar, uma "educação para os valores, sejam eles quais forem".

Só podemos concluir uma coisa: não são os jovens que andam desorientados. São os adultos que não sabem que orientação lhes dar. E tudo isto se faz em nome de uma liberdade que, analisada criticamente, defende interesses económicos que ninguém tem a coragem de enfrentar. E os nossos jovens não deviam ser respeitados dando-lhes a oportunidade de crescerem equilibradamente sem serem espicaçados para uma sexualidade prematura que só aumenta as suas dificuldades? Depois... os professores que os eduquem...

Muitos adultos na nossa sociedade ocidental permanecem contrários a programas de Educação Sexual nas escolas. Uns porque acreditam que a Educação Sexual, mesmo quando só iniciada na puberdade, é prematura para jovens menos maduros e pode leva-los à promiscuidade. Outros porque acham que as informações sobre o sexo só devem ser dadas pelos Pais na intimidade do Lar. Contudo, temos hoje nas escolas, pelo menos teoricamente, todos os jovens com idades entre os 6 e os 15 anos. E todos sabemos que muitos dos Pais não discutem questões relativas à sexualidade ou porque não sabem, ou porque não têm tempo, ou porque não se sentem a vontade para o fazerem.

A educação da sexualidade faz parte da educação global do ser humano e, como tal, deve ser tratada com o mesmo cuidado que qualquer aspecto da educação da nossa juventude nos deve merecer. Mas, como deve ser feita? Na tentativa de procurarmos a resposta que a nossa sociedade propõe, levamos até vós a legislação e extractos de alguns artigos que recolhemos sobre esse tema. Tire depois as suas próprias conclusões.

Considerando útil a todos os professores o conhecimento da legislação que suporta a Educação Sexual nas escolas passamos a transcrever os extractos mais significativos da mesma.

- Lei n.° 120/99, de 11 de Agosto

Artigo 2.°

1- Nos estabelecimentos de Ensino Básico e Secundário será implementado um programa para a promoção da saúde e da sexualidade humana, no qual será proporcionada adequada informação sobre a sexualidade humana, o aparelho reprodutivo e a fisiologia da reprodução, sida e outras doenças sexualmente transmissíveis, os métodos contraceptivos e o planeamento da família, as relações interpessoais, a partilha de responsabilidades e a igualdade entre os géneros.

2- Os conteúdos referidos no número anterior serão incluídos de forma harmonizada nas diferentes disciplinas vocacionadas para a abordagem interdisciplinar desta matéria, no sentido de promover condições para uma melhor saúde, particularmente pelo desenvolvimento de uma atitude responsável quanto a sexualidade humana e uma futura maternidade e paternidade conscientes.

3- A educação para a saúde sexual e reprodutiva deverá adequar-se aos diferentes níveis etários, consideradas as suas especificidades biológicas, psicológicas e sociais, e envolvendo os agentes educativos.

4- Na aplicação do estipulado nos números anteriores deverá existir uma colaboração estreita com os serviços de saúde da respectiva área e os seus profissionais, bem como com associações de estudantes e com as associações de pais e encarregados de educação.

5- Nos planos de formação de docentes, nomeadamente os aprovados pelos centros de formação de associações de escolas dos Ensinos Básico e Secundário, deverão constar acções específicas sobre Educação Sexual e reprodutiva.


Artigo 3.°

(...)

2- Considerando a importância do uso do preservativo na prevenção de muitas doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente a SIDA, será disponibilizado o acesso a preservativos através de meios mecânicos, em todos os estabelecimentos do Ensino Superior e nos estabelecimentos de Ensino Secundário, por decisão dos órgãos directivos ouvidas as respectivas associações de pais e de alunos.


- Decreto-Lei n.º 259/2000, de 17 de Outubro

Artigo 1.°

1- A organização curricular dos Ensinos Básico e Secundário contempla obrigatoriamente a abordagem da promoção da saúde sexual e da sexualidade humana, quer numa perspectiva interdisciplinar, quer integrada em disciplinas curriculares cujos programas incluem a temática.

2- O projecto educativo de cada escola (...) deve integrar estratégias de promoção da saúde sexual (...) favorecendo a articulação escola-família, fomentar a participação da comunidade escolar e dinamizar parcerias com entidades externas a escola, nomeadamente com o centro de saúde da respectiva área (...)

3- O plano de trabalho de turma (...) deve ser harmonizado com os objectivos do projecto educativo de escola e compreender uma abordagem interdisciplinar da promoção da saúde sexual, por forma a garantir uma intervenção educativa integrada.

Artigo 3.°

1- A instalação de dispositivos mecânicos para acesso a preservativos em estabelecimentos de Ensino Secundário (...) deve decorrer de um amplo consenso na comunidade escolar, competindo aos respectivos órgãos de direcção executiva desencadear o processo de audição das associações representativas dos pais e encarregados de educação e dos alunos, fazendo incluir tal medida, se for caso disso, nos planos anuais de actividades das suas escolas.

Artigo 5.°

1- Para efeitos do disposto no n.°5 do artigo 2.° da Lei n.° 120/99, de 11 de Agosto, os serviços competentes do Ministério da Educação devem integrar nas suas prioridades a concessão de apoios à realização de acções de formação contínua de professores no domínio da promoção da saúde e da Educação Sexual.

Isto é o que a lei diz... Contudo, percorrendo a imprensa a que nos foi possível aceder, encontramos as mais variadas opiniões sobre a Educação Sexual nas escolas, o que indicia que o assunto é, no mínimo, polémico.

Em declarações ao Jornal de Notícias de 27.10.2000, Ana Benavente, Secretária de Estado da Educação, confirma que "(...) todas as escolas terão de ter esta dimensão, mas irão concretizá-la apenas da forma que forem capazes de o fazer. Não vai haver modelos únicos a implementar da mesma forma em todas as escolas". A mesma fonte revela que Ana Benavente "justifica a opção pelo tratamento interdisciplinar da Educação Sexual - sem a criação de uma disciplina específica - com a necessidade de uma estratégia flexível".

"Uma disciplina pressupõe um determinado conjunto de informações, a mudança de comportamentos e, no final, a avaliação. Ora, a Educação Sexual prende-se com a vida afectiva de todos e não é por se ensinar que se aprende", esclarece a Secretaria de Estado.

Para Ana Benavente, "a escola esta disponível para dar o seu contributo, mas isso não liberta a sociedade de intervir nessa área". (...) "Por outro lado, gostaríamos também que as associações de estudantes tivessem um papel activo, organizando as iniciativas que entenderem de forma a mobilizar os jovens nas escolas".

Mas, ainda segundo a Secretária de Estado, o ministério poderá não contar com as gerações mais antigas de docentes, "menos abertas à discussão da sexualidade", afirmando ainda que "haja professores com formação em Educação Sexual, mas que não conseguem avançar com projectos nas escolas devido a essas tendências".

Entrevistado por Sérgio Vitorino, Duarte Vilar, da Associação para o Planeamento e Família confiou ao Jornal de Noticias de 27.10.2000 as suas opiniões sobre este tema reconhecendo que a "Educação Sexual não é uma panaceia mas e um contributo para que os jovens possam tomar decisões conscientes quando precisarem de as tomar. (...) E não há receita mágica para todas as escolas a não ser o envolvimento de toda a comunidade educativa, incluindo os pais". Relativamente à legislação que suporta a Educação Sexual em contexto escolar, Duarte Vilar acrescenta ainda que estamos "perante uma boa lei, cujas reflexões técnicas resultam, aliás, de um longo processo de debate e projectos experimentais da APF". Pretendendo desfazer equívocos, Duarte Vilar esclarece que "não se pretende promover qualquer comportamento específico mas dar às crianças e aos jovens instrumentos para escolhas responsáveis", advertindo, contudo, para a necessidade de "avaliar daqui a uns tempos as dificuldades e eventuais vazios legais".

Nesta altura, muitos professores questionarão, e legitimamente, as suas capacidades para lidar com a Educação Sexual mas Duarte Vilar, relembrando que "nenhum professor é obrigado a fazer Educação Sexual", tranquiliza os docentes os quais "poderão contar com a ajuda dos técnicos", assegurando ainda que "a Educação Sexual não e nada de especial e prepara-se como qualquer outra actividade pedagógica, com objectivos e estratégias" e que o "a vontade para falar do tema aos jovens se ganha com a prática".

A mesma fonte ouviu André Pires e Diana Dionísio, dois dos milhares de alunos do Ensino Secundário que saíram à rua exigindo a Educação Sexual na escola. Sobre a natureza da Educação Sexual, Diana Dionísio exige que "ela diga a verdade sobre a diversidade das formas de viver a sexualidade e de relações afectivas e familiares, sem preconceitos ou tabus. É que às vezes parece que ainda nos querem fazer acreditar na cegonha". Quanto à aprendizagem normal dos jovens em matéria de sexualidade André Pires acrescenta que os "rapazes só falam entre rapazes e as raparigas entre raparigas, em contexto informal. As ideias erradas e as pressões para se assumirem determinados papeis persistem, e os tabus e as vergonhas também".

A formação em Educação Sexual devera ser extensiva a todos os professores, como reconhecem Diana e André. "Sem ela, a maioria dos docentes tenta fugir ao assunto", afirma Diana. No que concerne à intervenção dos pais, estes jovens não concordam que "uma minoria de pais possa vetar a existência de máquinas de preservativos nas escolas". Para Diana, "se os alunos quisessem a interferência dos pais na matéria, falariam com eles em casa sobre a sua sexualidade, mas muitos não encontram essa liberdade".

No mesmo artigo desta fonte, João Cruz, da Confederação das Associações de Pais, CONFAP, afirma a extrema utilidade da legislação que a confederação "só aceitou por esta determinar que é a escola - toda a comunidade educativa, incluindo alunos e pais - quem decide". João Cruz considera ainda que a Educação Sexual deve ser "voltada para a questão dos afectos e para o envolvimento dos centros de saúde, que têm muito a ensinar aos nossos jovens" sendo necessário "criar neles as condições para que façam um atendimento eficaz aos jovens e que a aplicação da Lei seja avaliada dentro de dois anos".

No Diário de Coimbra, de 10 de Novembro de 2000, o psiquiatra Daniel Sampaio sustenta que "a eficácia dos programas de Educação Sexual vai depender da forte ligação da escola à comunidade e do apoio dos pais". Para este psiquiatra, estas realidades são pouco consistentes em Portugal atendendo a que "a ligação entre escolas e comunidade é reduzida, a articulação com os centros de saúde é praticamente inexistente, a saúde escolar tem pouca expressão e os professores e técnicos de saúde pouco cooperam".

Daniel Sampaio acrescenta ainda que "a falta de formação dos professores, a dificuldade em apresentar projectos originais relacionados com o contexto local e a insuficiência e indefinição dos materiais de apoio poderão complicar esta missão. Daniel Sampaio critica também as "orientações técnicas sobre Educação Sexual em meio escolar", realçando "a sua falta de flexibilidade, utilização de expressões equívocas e opções discutíveis e inexistência de definição de objectivos". E conclui, advertindo que é "necessário agir com prudência", pois "um início errado pode lançar o descrédito sobre o tema, comprometendo as acções futuras".

Numa perspectiva diferente, no Diário de Coimbra, de 10.11.2000, Rui Rosas da Silva no seu artigo "Educação Sexual nas nossas escolas", considera que "o Ministério da Educação e o Governo que o sustenta, partem da premissa dogmática de que é inevitável que os jovens tenham relações sexuais". Dos riscos que tais relações acarretam, "cabe ao Ministério da Educação protegê-las a partir das escolas, tentando, no entanto, torná-las o mais prazenteiras possíveis: a sexualidade dos rapazes e das raparigas, por força da natureza, é bom não esquecer, pode ser reprodutora", conclui Rui Rosas da Silva. O mesmo autor continua referindo que "o Ministério não alerta os alunos para viverem de acordo com qualquer critério de continência e, muito menos, de castidade, como ultimamente tantas autoridades públicas o tem feito noutras terras bem mais avançadas do que a nossa. Facilita-lhes a prática sexual, minorando-lhe ao máximo os perigos da concepção. Para o efeito, explica-lhes nas aulas como se realiza a cópula sem perigo de engravidar, e põe à disposição dos estudantes preservativos nas escolas, a fim de que os actos que eles efectuem sejam, simultaneamente, inócuos, quer sob o ponto de vista da higiene venérea, quer da fertilidade natural. (...)". Rui Rosas da Silva questiona ainda a obrigatoriedade curricular da educação sexual, tal como a lei prevê, porque "retira a uma boa parte dos pais Portugueses o direito de dizer não a um Governo e a um Ministério que lhes impõem matérias atentatórias dos seus princípios ético-educativos fundamentais".

Em entrevista ao Diário de Coimbra, de 22.10.2000, D. João Alves, Bispo de Coimbra, defende "que a informação e educação acerca da sexualidade fazem-se melhor na família, quando ela esta verdadeiramente preparada para esta sua importante missão" pois aí "reinará um clima de confiança, de equilíbrio, da responsabilização de cada um, em doação espontânea e feliz" que toma "fácil a formação progressiva conforme os problemas vão aparecendo e a progressividade é regra de ouro a nunca desrespeitar". Não desprezando a informação que - como adverte - "deve ser dada na altura própria e pelo modo mais adequado", D. João Alves salienta que ao "falar-se de sexualidade, a educação há-de levar a que ela seja a energia positiva e enriquecedora e não força perturbadora e anuladora do verdadeiro desenvolvimento pessoal". Contudo, D. João Alves acrescenta que "num clima de pansexualismo com reflexos graves sobre os jovens " é "incontestável que muitas famílias não têm condições para fazer uma boa formação de seus filhos e particularmente no campo da sexualidade".

Compreendendo o contexto em que emerge agora a promoção da Educação Sexual dos adolescentes, até porque "os efeitos negativos estão aí à vista em tantos jovens", D. João Alves acolhe a nova regulamentação com alguma preocupação "atendendo as numerosas tendências e ideologias entre os professores, por vezes contraditórias; atendendo à impreparação e à imaturidade de alguns professores; atendendo à fraca ligação da escola à família, etc., etc." o que, segundo o bispo de Coimbra, "não facilitará a formação de uma estrutura definida de pensamento e de critérios seguros de vida". "Cresce por isso o valor das associações de pais em colaboração com as escolas de seus filhos (...)" que poderão "prestar uma ajuda inestimável", sustenta D. João Alves, que exorta a escola a desenvolver um grande esforço (...) para provocar essa ajuda e a acolher, e para os pais saírem de uma atitude apática e de desinteresse por este trabalho".

Estamos a iniciar um processo educativo inédito no nosso pais cuja importância parece inquestionável mas convém não esquecer, como lembra Rui Rosas da Silva, que "toda a Cândida inocuidade das iniciativas deste tipo, como se está a verificar em muitos países onde ela se instalou, nem se tem mostrado inofensiva nem favorável a saúde publica".

In Boletim n.º 15 da Associação de Professores de Biologia e Geologia, de Dezembro de 2000.

(1) Presidente da Direcção Nacional da APPBG e Directora do Boletim.

sábado, 3 de setembro de 2011

Características da sexualidade na infância - considerações gerais

Consideramos hoje a infância como o período que ocorre entre o nascimento e a puberdade (10/12 anos). No entanto, nem sempre foi assim e, até ao século XVII, a infância não era sequer reconhecida como um período individualizado da vida humana (Badinter, 1980; Ariès, 1988; Strecht, 2001). Sob esse enfoque, a criança era vista apenas como um pequeno adulto, não recebendo educação específica e tendo que, precocemente, conviver com o trabalho e corn as preocupações próprias dos adultos. Esses factos, ligados à sociogénese da infância, aparecem com muita clareza através do estudo do vestuário infantil típico dessas épocas, bem como na análise das expectativas acerca das crianças das diversas classes sociais.

A partir desse século, com o empobrecimento da nobreza e com a ascensão da burguesia, ocorrem vários movimentos humanistas, passando a criança a ser exaltada pela sua pureza, dentro de todo um contexto social de revalorização. Nessa época, compreendia-se a prática do sexo como actividade pecaminosa e não merecedora de aceitação divina e social. As crianças, por não terem os genitais externos ainda desenvolvidos e por se considerar que não praticavam actividades ?sexuais?, estavam em estado de pureza, isentas, assim, de qualquer ?culpa?. Ainda sob esse ponto de vista, acreditava-se que essa ?inocência? era proveniente da ignorância sobre as questões relacionadas com a sexualidade (Ariès, 1988; Pais, 1987).

A partir desses conceitos, foi valorizado um tipo de ?educação? que ao mesmo tempo mantinha as crianças (e os adolescentes) sem informação e impunha-lhes um padrão que reprimia determinadas expressões da sexualidade. Visando mantê-las afastadas da curiosidade sobre os comportamentos sexuais. Os resquícios sociais de tais padrões educacionais continuam, ainda hoje, em evidncia na angústia que a maioria dos adultos sofre face às manifestações da sexualidade infantil (Ariès, 1988; Pais, 1987).
No entanto, ao longo do séc. XX assistiu-se a importantes mudanças no que se refere aos padrões socialmente aceites para as diferentes expressões da sexualidade. Embora, de uma maneira geral, exista, ainda, um duplo padrão relativamente aos dois sexos, a sexualidade tem vindo, gradualmente, a ser melhor compreendida, deixando de ser, quase sempre, exercida sem permissão social e usualmente condenada a clandestinidade (Lopez, 1999).

Grande parte desta mudança foi influenciada pelas ideias de Freud, ao afirmar a existência da sexualidade na infância, correlacionando-a com as fases de desenvolvimento da criança. As suas declarações foram muito contestadas pela sociedade da época, que relacionava ainda a ausência de sexualidade a pureza e a inocência. Nessa concepção, era virtuoso todo aquele que negasse a satisfação dos seus próprios desejos, especialmente quando a razão não os autorizava. Freud ousou declarar que todos praticávamos sexo e que ele estava inserido na natureza humana desde o nascimento, tratando a questão não como um ?pecado?, mas como causa de sentimentos de culpa e, portanto, de algumas perturbações emocionais (Freud, 1905).

Hoje, admitimos que a sexualidade se manifesta desde o início da vida e que se desenvolve, acompanhando o desenvolvimento geral do indivíduo e integrada no seu bem-estar biopsicossocial (Lopez & Fuertes, 1999). Sabemos que, independentemente do ciclo de vida em que estejamos, somos sexuados e temos manifestações e interesses sexuais. Sabemos, igualmente, que a sexualidade muda ao longo da vida e que cada idade tem as suas manifestações próprias, admitindo várias formas de expressão consoante os indivíduos (Félix. 1995).

Se a sexualidade infantil tem muitos aspectos semelhantes à dos adultos (procura de prazer e de comunicação; conhecimento do seu corpo e do corpo dos outros), tem, no entanto, características específicas, tais como:

1. Os órgãos genitais estão pouco desenvolvidos e os caracteres sexuais secundários iniciam o seu desenvolvimento apenas no final da infância.
2. A quantidade de hormonas sexuais em circulação no sangue é também muito pequena, o que vai interferir na pulsão sexual, que é diminuta.
3. Por razões hormonais, o prazer sexual é difuso.
4. Os estímulos externos não têm significado erótico. Na infância, a atracção por outras pessoas é mais uma atracção afectiva que sexual.
5. A orientação do desejo (homossexual, heterossexual ou bissexual) não está consolidada; esta acontecerá somente na adolescência.
6. É mais dificil às crianças fazer a distinção entre os desejos e sentimentos especificamente sexuais e os desejos e sentimentos afectivos.

Por último, não será demais realçar que as actividades sexuais das crianças se baseiam em motivações muito diferentes das dos adultos. O que, na maioria das vezes, as crianças desejam é imitar os adultos, conhecer o seu corpo e o dos outros. Assim se explicam muitos dos jogos de conteúdo sexual que se realizam na infância, quer seja o brincar ?aos médicos?, quer aos ?pais e mães?.
Na faixa etária entre os 2 e os 6 anos a actividade sexual é essencialmente lúdica, exploratória e informativa e assenta no auto-erotismo.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Adolescência terminável e interminável

Quando olhamos para trás, para os acontecimentos que nos marcaram ao longo da nossa vida, quais são os que nos vêm à mente? O primeiro beijo? O falecimento de um familiar querido? A nossa estreia, mais ou menos atribulada, na escola? O dia do nosso casamento? O nascimento do nosso primeiro filho? As possibilidades são múltiplas. Quantos destes acontecimentos marcantes tiveram lugar durante a adolescência? Provavelmente apenas uma minoria deles.

Mas se reformularmos a questão e perguntarmos quantos deles marcaram o início ou o fim de uma fase da nossa vida, provavelmente constataremos que muitos deles, efectivamente, tiveram um impacto decisivo no nosso modo de vermos o mundo, de interagirmos com os outros, enfim, no nosso posicionamento face a nós próprios e face aos outros. Quero com esta discussão chamar a atenção para o facto de que provavelmente a nossa vida é feita de fases, não necessariamente marcadas por aquilo que se convencionou que fossem as “fases normativas do desenvolvimento”, como seja a adolescência.

Um dos problemas é que uma vertente importante da Psicologia, a Psicologia do Desenvolvimento, fez de sua tarefa a delimitação da sucessão de períodos, marcadamente diferentes do ponto de vista qualitativo e quantitativo, que os seres humanos atravessam ao longo da vida, no que respeita a diferentes dimensões do seu funcionamento psicossocial.

São exemplos deste tipo de perspectiva a teoria do desenvolvimento psicossexual de Freud, a teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget bem como a do desenvolvimento da personalidade de Erikson, só para citar as mais conhecidas. De acordo com esta perspectiva, a transição de cada um dos períodos para o seguinte estaria condicionado pelo cumprimento de determinadas tarefas do período anterior, sem o que tal transição estará inviabilizada.

Do ponto de vista académico e enquanto auxiliar na leitura da realidade, as teorias desenvolvimentais são extremamente úteis, no sentido em que nos permitem a compreensão dos factores que, ao longo do desenvolvimento, são característicos da maioria das pessoas. Podem assim, auxiliar-nos a perceber o que é de esperar que em certos momentos da vida aconteça e também nos alertam para o facto de que existem capacidades e funções que apenas se podem desenvolver após estarem concluídas as anteriores que lhe servem de base. As teorias desenvolvimentais tornam-se obsoletas e transformam-se em factores obstructores do pensamento, quando tomadas como realidades por si, inalteráveis e condicionantes do nosso modo de olhar para a realidade.

Tomemos aqui, como exemplo estratégico, a adolescência. De acordo com as teorias desenvolvimentais da personalidade, bem como do ponto e vista do senso comum, a adolescência é o período cujo início é marcado pela puberdade e cujo final decorre da completa autonomização do indivíduo do ponto de vista funcional, emocional e económico. Esta delimitação seria simples, não fosse o facto de não ser eficaz. Começamos logo por pôr em causa a ideia da puberdade como um acontecimento que marca o início da adolescência. Se é verdade que todo o fogo de artifício hormonal da puberdade é uma verdadeira revolução no processo de desenvolvimento, com marcadas alterações do ponto de vista fisiológico, o certo é que muitas vezes, as mudanças ficam-se mesmo por aí.

Mesmo que, na maioria dos casos, estas mudanças sejam acompanhadas por diferentes formas de o indivíduo se relacionar com os outros, em particular com os pais e com a família, de olhar para o mundo, nomeadamente pelo acesso ao raciocínio abstracto e de um interesse crescente pela sexualidade, o certo é que nem em todos os casos isto acontece e encontramos muitos ditos “adolescentes” cujo funcionamento é francamente infantil, por vezes até aos 16-18 anos, para não dizer mais tarde.

Ou seja, se a adolescência é mais do que um processo de alterações fisiológicas, mas todo um conjunto de mudanças psicológicas, sociais, sexuais e emocionais, então não é possível fixar o seu início no aparecimento da menarca nas raparigas ou das primeiras ejaculações com espermatóides nos rapazes, uma vez que há outros factores a ter em consideração. Só a título de exemplo, sabe-se que, ainda que nas raparigas a puberdade surja em média dois anos antes dos rapazes, estes tendem a despertar para o prazer sexual em média dois a três anos antes das raparigas (Knoth et al., 1988, cit. por Baldwin & Baldwin, 1997), o que nos indica que algumas das alterações que tendemos a considerar típicas da puberdade são na verdade condicionadas por outros factores sociais e culturais que podem antecedê-la.

Se do ponto de vista do seu início é possível questionar a universalidade da adolescência como decorrente da puberdade, no que respeita ao seu final a situação é ainda mais complicada e torna-se quase impossível determinar com algum grau de precisão o momento em que esta “fase” termina. Como foi já referido, aponta-se a autonomização a vários níveis como o indicador de que já se entrou no mundo dos adultos.

Porém, o aumento do período de escolaridade que actualmente, se incluirmos mestrado e, para os mais arrojados, doutoramento, pode chegar aos 30 anos de idade, acrescido das dificuldades que muitos jovens adultos têm em encontrar um emprego minimamente estável e que lhes proporcione um rendimento suficiente para se puderem mudar para um espaço que seja seu, além do puro comodismo que é o de ter comida, cama e roupa lavada em casa dos pais, estamos perante um arrastar da adolescência vida fora, ao ponto de algumas pessoas com 40 e 50 anos poderem enquadrar-se no conceito mais lato de adolescência!

Existe até quem fale da geração canguru, ou seja, aquela que vai permanecendo na protecção e conforto da bolsa materna, diga-se de passagem muitas vezes com o incentivo implícito ou explícito dos próprios pais, até bastante tarde, em particular se comparado com o que acontecia em gerações anteriores.

Assim, acontecimentos que poderiam ser indicadores de uma maior autonomização das figuras parentais e que se poderiam constituir como momentos-chave de entrada na vida adulta (rituais de passagem, se se quiser), como é o caso da maioridade legal (e com ela a possibilidade de votar e de tirar a carta), do cumprimento do serviço militar, do início de uma vida profissional activa, ou até mesmo do ter filhos, acabam, nos dias de hoje por não pôr um ponto final à adolescência.

Outros factores também põem em causa algumas das ideias que vigoram tanto no discurso científico quanto no senso comum sobre a adolescência. Referimo-nos em particular à ideia de que este é um período marcado pela instabilidade, pelos conflitos e pelo sofrimento. Esta é uma herança que nos chega em grande parte de Stanley Hall (1844-1924), psicólogo norte-americano que dedicou uma parte importante do seu trabalho ao estudo da adolescência.

Ainda que, por esse mesmo motivo tenha tido fulcral importância no colocar o enfoque sobre a mesma, a sua perspectiva sobre o adolescente não era das mais positivas. De acordo com Hall, durante este período ocorre como que uma recapitulação das fases de desenvolvimento da humanidade, começando com a barbárie, entre os 7 e os 13 anos, em que o indivíduo não teria posse de funções mentais superiores tais como razão, a moral ou o amor. O progresso ao longo do desenvolvimento permitiria ao indivíduo o alcançar de estadios superiores do desenvolvimento humano. Assim, a adolescência seria caracterizada pela instabilidade - sturm und drang (tensão e agitação) - devido ao facto de recapitular um período histórico de transformações rápidas e caóticas ligadas ao processo civilizacional (Sprinthall & Collins, 1988).

Apesar de muito criticadas na sua época e agora já ultrapassado muitas das suas ideias, chega-nos como uma forte herança de Hall a ideia da adolescência como um momento particularmente problemático do desenvolvimento. Porém, o que os estudos nos demonstram, é que durante o período de vida que decorre aproximadamente entre os 10 e os 21 anos, apenas uma minoria (entre 10 e 20%) sofre de distúrbios psicológicos ou desenvolvimentais graves. O consumo de drogas duras, por exemplo, apesar de chegar à opinião pública com contornos de uma pandemia entre os jovens, ocorre apenas em menos de 2% dos adolescentes portugueses (Matos et al, 2003). Da mesma forma, problemáticas como sejam as relacionadas com o comportamento alimentar (anorexia e bulimia), com a depressão e o suicídio, são característicos de apenas uma minoria dos adolescentes.

O que, de resto, se verifica, é que o funcionamento típico durante a adolescência irá também ser típico durante o resto do percurso de vida do indivíduo, ou seja e a título de exemplo, a delinquência de um adolescente irá muito provavelmente ter continuidade na vida adulta através dos mesmos comportamentos de desrespeito pela integridade e propriedade de outros, da mesma forma que o adolescente que atravessa a transição para a adultícia sem sobressaltos irá muito provavelmente ter uma entrada e continuidade na vida adulta também pacífica.

Donde se depreende que o desenvolvimento psicossocial de cada pessoa é marcado mais pelo progresso e continuidade do que pelos sobressaltos e por paragens mais ou menos bruscas que possam ocorrer nesse processo. Sobressaltos, bem como acontecimentos positivos, podem ser marcantes e afectar o modo habitual de funcionamento do indivíduo, para bem ou para mal. Porém, como já referimos, estes acontecimentos não são apenas conotados ao período da vida a que se convencionou chamar de adolescência, mas a todo o nosso percurso desenvolvimental.

Quais é que são, então, as grandes conclusões que daqui podemos retirar? Uma delas será que a ideia de crise desenvolvimental, ou seja, a conceptualização de momentos da vida em que, tipicamente, todos os indivíduos passam por determinado tipo de problemas (e aqui falamos de adolescência, mas também da meia-idade, da entrada para a escola, entre outras) é altamente questionável. Ainda que Erikson, um dos pais deste conceito, o tenha descrito como um momento de crescimento potencialmente positivo, o certo é que com ele se presume sempre uma standardização no funcionamento psicossocial dos seres humanos, o que os padroniza e lhes retira assim a sua especificidade individual que os torna seres únicos e especiais.

Outra conclusão que daqui se pode retirar, refere-se em particular à adolescência e prende-se ao facto de tanta atenção se dedicar a este período da vida dos indivíduos, correndo-se o risco de efectivamente a problematizar - as realidades também se criam através da veiculação e manutenção deste tipo de ideias. Deste modo, quando no título desta apresentação se refere a terminabilidade da adolescência ou a ausência dela, referimo-nos a duas questões diferentes, mas complementares - a da terminabilidade de uma fase que, no sentido em que se encontra definida, cada vez mais se verifica estar a arrastar vida fora, mas também nos referimos à terminabilidade de um conceito com diversas limitações intrínsecas e que podem afectar a forma como os indivíduos a vivem e também a forma como outros, técnicos em particular, lidam com ela do ponto de vista conceptual e da intervenção.


Referências bibliográficas:

Matos, M. E equipa do Projecto Aventura Social & Saúde (2003). A saúde dos adolescentes portugueses (Quatro anos depois). Lisboa: Ed. FMH.

Sprinthall, N.A. & Collins, W.A. (1999). Psicologia do adolescente. Uma abordagem desenvolvimentalista. 2.ª Edição (Edição original de 1988). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Por que somos diferentes?

A diversidade de comportamentos eróticos nas diferentes culturas e no interior de cada sociedade deixa a ciência intrigada. O ambiente e os genes têm muito a dizer.

Tonga é um pequeno país insular situado a Leste da Austrália, no Pacífico Sul. O actual rei continua a desempenhar certas funções (trata-se de uma monarquia constitucional), mas há muito que já não tem a obrigação de desflorar as mulheres virgens da ilha. Um dos seus antepassados, Fatefehi, foi obrigado a cumprir o extenuante dever durante anos: estima-se que iniciou nas artes do amor 37.800 raparigas, entre 1770 e 1784, a um ritmo de seis ou sete por dia.

As mulheres nayares da Índia também podem manter um número considerável de relações sexuais, mas não como uma obrigação; fazem-no por diversão. Nesta casta de guerreiros hindus (ou seja, a nayar), as meninas devem passar por uma cerimónia que dura quatro dias antes da primeira menstruação. No fim do ritual, recebem o tali, um colar que simboliza que contraíram matrimónio. A partir desse momento, podem manter relações sexuais com quantos amantes (sambandha) quiserem, um de cada vez ou no número que considerem mais apetecível. Um deles poderá tornar-se seu marido, mas isso não é obrigatório. De facto, não costuma ser habitual.

Os jovens etoros da Papuásia/Nova Guiné, pelo contrário, tratam de restringir o número de parceiros eróticos e a quantidade de relações sexuais que mantêm ao longo da existência. Praticam a castidade ("a mais desnaturada das perversões sexuais", segundo o escritor inglês Aldous Huxley ) com as suas companheiras durante a maior parte do tempo. O motivo é simples: acreditam que a quantidade de sémen é limitada e que morrerão quando esgotarem as suas reservas. A quantidade do precioso fluido de que um homem etoro poderá dispor ao longo da vida é adquirida durante a adolescência. Como? Através da prática de sexo oral aos homens maduros da tribo. Por isso, um jovem não pode ter um aspecto demasiado saudável: considera-se que abusou do sexo oral e que ingeriu demasiado sémen. Nesse caso, é obrigado a manter relações sexuais com mulheres para recuperar o equilíbrio.

No mundo ocidental, semelhante teoria seria liminarmente descartada; ninguém acredita que se tenha de limitar o número de coitos para racionar o sémen. O que se verifica na nossa sociedade é a castidade voluntária: um número considerável de indivíduos não praticam sexo porque não desejam fazê-lo. A Sociedade Assexual Americana estima que esse grupo integra cerca de três por cento da população mundial, mas talvez a percentagem real seja ainda maior, agora que já não se esconde a opção assexual. No Japão, país que muitos especialistas consideram ser um exportador de tendências, cada vez se mantêm menos relações. Uma sondagem da Associação Japonesa de Planeamento Familiar efectuada junto de pessoas entre os 16 e os 49 anos mostrou que 31% não tiveram contactos sexuais no último mês, "sem qualquer razão especial".

A variedade de comportamentos que emerge destes exemplos dá uma ideia da diversidade sexual humana. Os antropólogos assinalam que a nossa conduta erótica poderá ser mais heterogénea do que a forma de vestir, os hábitos alimentares ou as normas éticas. A cantora e actriz norte-americana Bette Midler perguntava há tempos: "Se o sexo é um fenómeno tão natural, por que existem tantos livros sobre como fazê-lo?" A verdade é que os cientistas continuam a interrogar-se por que motivo reagimos de forma tão variada a algo que é, na sua essência, uma imposição biológica.

A motivação sexual é o mecanismo que favoreceu a selecção natural para aumentar a probabilidade de sobrevivência da espécie. Quando duas pessoas se sentem atraídas, não costumam parar para pensar que estão a ser guiadas pelos seus genes, mas o prazer que as move é um mecanismo mental, dirigido pela pulsão biológica, que é fruto da adaptação. Talvez essa inconsciência que a natureza estabelece seja a causa para se ter demorado tanto a começar a estudar as estratégias sexuais humanas.

Um dos primeiros especialistas a tentar quebrar o tabu foi Alfred Kinsey, professor catedrático de biologia e zoologia da Universidade do Indiana: surpreendido por haver tantas referências à sexualidade animal e tão poucas à nossa, decidiu efectuar um macro-inquérito. Foi alvo de acesas críticas por parte de sectores médicos e grupos religiosos, que chegaram a ameaçar incendiar-lhe a casa, mas não conseguiram intimidá-lo. O célebre Relatório Kinsey, publicado em 1948 (homens) e 1953 (mulheres), reunia dados sobre a vida erótica de 11.240 pessoas e os resultados deixaram a sociedade norte-americana atónita, pois mostravam um panorama inesperadamente heterogéneo que não correspondia ao que era considerado "normal". Por exemplo, 37% dos homens tinham tido uma experiência homossexual, 62% das mulheres tinham-se masturbado e quase metade tinham tido relações antes do casamento.

Todavia, o que mais chamava a atenção era a grande diversidade na actividade sexual quotidiana. Surgiam homens e mulheres que afirmavam nunca ter tido um orgasmo, e outros que usufruíam de quatro ou mais por dia. Os dados também mencionavam pessoas absolutamente monógamas que há décadas mantinham relações com a mesma pessoa (a única parceira sexual da sua vida) e outras que não conseguiam manter-se fiéis mais de um ano. Isto para não falar das singularidades e dos comportamentos excêntricos: daqueles cuja maior fonte de excitação eram os dentes, os sapatos de salto alto ou as reuniões de trabalho.

O que tornava o estudo revolucionário era a sua metodologia. Kinsey adoptou uma abordagem relativamente ao sexo inédita na altura: o chamado "ponto de vista etic". Os antropólogos designam assim os estudos que procuram investigar o funcionamento de uma cultura de forma objectiva, baseando-se em números e dados reais, e não no que os indivíduos supõem sobre o que os seus vizinhos fazem ou não. O biólogo sabia que, quando se trabalha com interpretações (com o que os membros de uma cultura pensam que acontece na sociedade em que vivem, o "ponto de vista emic"), é fácil cair num padrão de normalidade fictícia. Kinsey averiguou o que se passava verdadeiramente nos quartos sem deixar que ninguém lhe filtrasse a realidade, e descobriu uma grande variedade de comportamentos eróticos.

A partir do relatório que publicou, a homogeneidade foi cientificamente descartada e os estudos centraram-se em procurar explicar a diversidade. Marvin Harris, professor de antropologia nas universidades de Columbia (Nova Iorque) e da Florida, é um dos principais representantes dessa corrente. O "pai" do materialismo cultural coloca em questão "que existam em absoluto modos de sexualidade humana obrigatórios, para além dos impostos por prescrição cultural". Nada funciona de forma idêntica em todas as culturas. Segundo Harris, as condições materiais constituem o principal factor a condicionar os conceitos sobre sexualidade. A proporção de comportamentos homossexuais, o grau em que se permitem relações consanguíneas ou as leis implícitas e explícitas sobre o adultério podem ser explicadas com base na adaptação ao meio em que cada colectividade vive. E indica um exemplo: quando o investimento na prole se torna muito dispendioso, a sociedade torna-se mais puritana, pois é mau negócio andar a criar e educar filhos alheios. Em contrapartida, nas populações onde esse custo é menor, os costumes tornam-se mais permissivos relativamente ao adultério e à promiscuidade.

O antropólogo francês Pascal Dibie, professor da Universidade de Paris VII, oferece outro exemplo de como a socieade nos molda em função das necessidades materiais. Em Etnologia do Quarto de Cama, fala do ghotul, uma escola erótica frequentada de noite pelos adolescentes da etnia muria, na Índia. As regras deste local de iniciação sexual foram alteradas: antes, os que ali se dirigiam ficavam com o mesmo par dia após dia para aprender as artes do amor. Todavia, no ghotul moderno, as relações duradouras são proibidas: permanecer mais de três dias com o mesmo companheiro ou companheira acarreta sanções.

O motivo, segundo Dibie, é a necessidade de preservar a ordem social numa cultura cada vez mais permeada por valores e formas de vida alheias. Até agora, os jovens não questionavam os casamentos arranjados tradicionais dos murias. Agora, no entanto, reivindicam o amor e as uniões espontâneas ou por paixão. Como esse tipo de relações quebraria alianças antigas, criaria tensões desnecessárias e complicaria o pagamento de certas dívidas, os adultos procuram proibi-las. Para dissuadir os adolescentes e atenuar a sua curiosidade sexual, permitem que se deitem com todos os membros do ghotul. Argumentam que se reduz, deste modo, o risco de adultério e os ciúmes nos futuros casamentos. Mais uma vez, vemos uma explicação emic (a suposta vantagem para a harmonia do casal) a servir para disfarçar causas etic (a preservação das convenções sociais e económicas). A necessidade adaptativa promove uma promiscuidade que seria sancionada noutro contexto.

Os casos já referidos recordam-nos o valor evolutivo da heterogeneidade, algo que não suscita, sobretudo desde a revolução darwiniana, qualquer dúvida aos cientistas. A variabilidade é a matéria-prima da evolução, pois o que funciona num ambiente pode ser um desastre noutro. Assim, para que a selecção natural possa agir sobre uma característica, tem de haver diferentes versões do gene (ou genes) que o controlam. Ronald Fisher, um dos fundadores da genética de populações, demonstrou matematicamente que quanto mais alelos (variantes) existirem de um gene, maior será a probabilidade de um se conseguir impor aos restantes. Isso implica que uma maior variabilidade genética se traduz num maior ritmo de evolução de uma população.

A sexualidade constitui a base de propagação e sobrevivência dos genes. Quanto maiores as diferenças entre nós, maiores probabilidades teremos de subsistir em qualquer tipo de circunstâncias. Marilyn Monroe afirmou: "O sexo faz parte da Natureza, e eu dou-me maravilhosamente com a Natureza." A ciência actual recorda que darmo-nos bem com o biológico implica entender e respeitar a diversidade. Castos ou promíscuos; pessoas que associam o sexo ao amor e outras a quem os sentimentos diminuem a líbido; heterossexuais, homossexuais, bissexuais e "quadsexuais" (uma nova categoria lançada por Angelina Jolie que engloba os que gostam de homens, mulheres, homossexuais e transsexuais)... Todos contam.

Ainda persistem curiosos comportamentos sexuais noutras culturas, surpreendentes ou mesmo questionáveis, de acordo com a nossa perspectiva.

A iniciação sexual em muitas tribos africanas é muito precoce. Os chewas (ou chicheuas, da Zâmbia e do Malawi) acreditam que se deve manter uma intensa actividade erótica durante a infância para se ser fecundo na idade adulta. Todavia, o elevado risco de contágio da sida fez subir a idade de iniciação.

Na tribo dos nandi, no Quénia, as meninas de oito anos são consideradas maduras para terem relações e tornam-se propriedade de todos.

Os turus da Tanzânia aceitam que as esposas tenham amantes desde que mantenham as aparências. Os vizinhos colaboram e não as denunciam.

Os adolescentes das ilhas Trobriand, na Papuásia/Nova Guiné, dispõem de uma casa de solteiros onde mudam de parceira todas as noites.

Algumas mulheres do Iémen pintam a pele de negro com pigmentos naturais antes de se deitarem com um homem, pois pensam que essa cor aumenta a potência sexual masculina.

No ritual matrimonial dos arandas, na Austrália central, a noiva deve passar uma noite com os pais do noivo antes de ir para a cama com ele.

Em Samoa, ver um umbigo é muito excitante; na ilha de Celebes, o mais apetecível é mostrar o joelho, enquanto para os hotentotes, etnia do Sudoeste africano, picante é observar os genitais dos animais.

Entre os sakalaves de Madagáscar, o estranho é ser exclusivamente heterossexual, pelo que praticam uma espécie de pansexualidade.

Entre vários povos da Nova Guiné, os adolescentes preparam-se mantendo relações homossexuais, mas, depois do casamento, tornam-se heterossexuais.

Normal vs. perverso

Ao longo da História, as instituições religiosas e jurídicas tentaram controlar o comportamento erótico dos cidadãos, apesar das diferenças naturais que existiam em matéria de gostos e tendências sexuais. Para atingir os seus objectivos, classificavam como perversão tudo o que se afastava da alegada normalidade.

O tabu era criado com base em critérios religiosos (pecado) ou jurídicos (delito); começaram também a ser esgrimidos, desde o século XIX, motivos de saúde para anatemizar os instintos desregrados.

Por exemplo, o médico britânico William Acton tornou público, em 1857, um estudo em que afirmava que algumas mulheres tinham orgasmos durante o coito, concluindo que esse efeito era um distúrbio produzido pela sobre-estimulação. Um século depois, William Masters e Virginia Johnson trocaram-lhe as voltas e afirmaram que o anómalo era a anorgasmia.

Até 1973, a homossexualidade foi considerada uma doença mental e constituía um delito em muitos países. Ainda hoje é considerada crime em cerca de 70 estados. Em Portugal, só foi despenalizada em 1982.

L.O. super interessante 148