segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Culto do Corpo

Se há uma coisa da qual pudemos ter certeza é o facto de nascermos e morrermos seres sexuados. Pudemos nascer do sexo masculino ou do sexo feminino, até pudemos nascer com um sexo que não desejamos. Mas nascemos com um sexo...somos seres sexuados e toda a nossa vida e a maior parte dos nossos comportamentos irá ser condicionada por essa constante.

Este corpo sexuado é o objecto mais privado que possuímos, sendo, simultaneamente, aquele através do qual interagimos em sociedade. É através dele que sentimos e “infligimos” a atracção física, e vivenciamos a beleza. É sem dúvida um objecto de culto, alvo de padrões culturais de beleza que diferem de cultura para cultura de sexo para sexo e evoluem com o passar dos anos e das modas. O corpo pode ser também um veículo de uma das nossas melhores linguagens: a linguagem corporal. Os movimentos e as expressões possuem um papel vital na manifestação de emoções e sentimentos como a paixão, o desejo ou o amor.

Quer queiramos quer não, a beleza individual, a imagem, o corpo, desempenham um papel fundamental na escolha do parceiro. O ideal de beleza e o estatuto subjacente sobrepõe-se à escolha de parceiro com fins reprodutivos. A ideia de beleza interior pode parecer um conceito muito nobre, mas na realidade é em prol do aspecto físico que fazemos sacrifícios. Pensando bem, não aproveitamos o nosso pouco tempo livre para lermos as últimas novidades literárias. Não, vamos ao ginásio, fazemos exercício, aperfeiçoamos o corpo, melhoramos o nosso cartão de visita.

Desde cedo aprendemos a olhá-lo e a compará-lo. Este é um ritual que começa logo na infância quando descobrimos as diferenças entre “meninos e meninas”, mais tarde já durante a adolescência iniciam-se as comparações entre os géneros. Entre grupos de rapazes e raparigas gera-se um frenesim e uma competição pela presa do sexo oposto. As raparigas anseiam pelo boom revolucionário de ancas e seios e exterminam pêlos voluntariosos os rapazes contam pelos dedos das mãos os novos pêlos da face, exibem os músculos e medem o pénis, consomem horas em frente a espelhos na esperança de parecer belos aos olhos de quem se quer agradar.

Mais tarde fazem-se novos sacrifícios pela imagem, basta olhar para o comprimento (e também para a largura) de saltos altos sobre os quais milhares de mulheres se equilibram das 9 às 17h ou a fileira de cremes e produtos de beleza, com que nos "besuntamos". A própria força da gravidade é contrariada por wonder bras (aqueles soutiens que levantam os seios) ou por wonder pants (roupa interior que tem o mesmo efeito, mas, neste caso no traseiro de homens e de mulheres). Todas estas práticas retratam formas de estar e viver com o próprio corpo, muitas delas apressando os anos, outras procurando retardá-los.

Um corpo bonito, uma boa forma física foram sempre sinónimos de uma maior receptividade do sexo oposto por estarem associados a uma melhor performance sexual. Padronizou-se que um corpo musculado, atlético era garantia de prazer. Em volta da sexualidade e do corpo criaram-se inúmeros mitos, aliás, sendo ainda a sexualidade um assunto tabu que só em anos mais recentes tem sido desmistificada. A Educação Sexual em meio escolar é popular entre os mais novos, permitindo muitas vezes clarificar conhecimentos e eliminar tabus.

Todavia são ainda inúmeros os mitos erróneos que se espalham à velocidade da luz. Corpos musculados podem ser sinónimo de prazer para uns, longe de o serem para outros, o sexy e o sensual são conceitos muito pessoais, sentidos de diferentes e variados modos. Não são as loiras que detém o poder da atracção sexual e as morenas o intelecto, de certo que não é o tamanho dos seios ou o diâmetro das ancas que semeia desejo ou o tamanho do pénis que assegura orgasmos. É a linguagem do corpo associada a uma boa dose de imaginação que nos torna atraentes e sedutores.

Quando existe desconhecimento ou quando se instala a comparação e se desassocia a linguagem do corpo de todos os sentimentos, implantam-se tabus e medos. O desconhecimento do funcionamento do nosso corpo torna-nos intolerantes e competitivos. A sexualidade deve ser vivida de modo tranquilo, concedendo-nos o tempo necessário, respeitando o nosso tempo e respeitando o tempo dos outros. Aprendendo a viver com o nosso corpo, os nossos defeitos e as nossas qualidades e tirar partido de todos eles.

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