quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Métodos contraceptivos - o adesivo



O pequeno adesivo cola-se na pele - pode ser colado nas nádegas, costas, braços ou abdómen - e muda-se uma vez por semana, sempre no mesmo dia. As hormonas que contém passam para a corrente sanguínea e chegam até aos ovários. O efeito é idêntico ao de uma pílula monofásica, tem os mesmos compostos, actua da mesma forma e, tal como esta, deve ser usado durante vinte e um dias. Segue-se uma pausa para que aconteça a menstruação.

Segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, este método tem a vantagem de diminuir os problemas hepáticos pois, por serem absorvidas pela pele, as hormonas não passam pelo fígado. Os efeitos secundários são os que são observados em mulheres que utilizam a pílula.

Este contraceptivo estará disponível no mercado português a partir de Janeiro de 2004. Será comercializado em caixas para um mês e para três meses, mediante receita médica e ainda sem comparticipação do Estado.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Lendas em torno da pílula


Esquecer-se de tomar a pílula
Se se esquecer de tomar a pílula, siga este procedimento:
Se passaram menos de 12 horas desde a hora em que deveria ter tomado a pílula, tome a pílula de que se esqueceu e tome a pílula seguinte na hora habitual. Não importa se tomar duas pílulas no mesmo dia. E é tudo.
Se já passaram mais de 12 horas desde a hora em que deveria ter tomado a pílula, tome a pílula que “falhou” assim que se apercebe do esquecimento e a próxima à hora prevista. No entanto, deve utilizar outros métodos contraceptivos (como o preservativo durante a semana seguinte).
Se já passaram mais de 24 horas, então deve deitar fora a pílula que esqueceu e também tomar precauções adicionais como, por exemplo, o uso do preservativo durante os próximos sete dias.
Se o esquecimento aconteceu quando já faltavam menos de sete pílulas para acabar a carteira, não faça a pausa habitual dos sete dias e comece uma nova carteira assim que terminar a actual.
Não se preocupe se nesse mês a menstruação não aparecer.

Nota: O risco de engravidar será maior quando as pílulas esquecidas são as do princípio e do fim da carteira. O que não é “desculpa” para ignorar descansadamente as pílulas “do meio”…


Fazer uma pausa e não tomar a pílula
Há alguns anos atrás recomendava-se um período de pausa na tomada da pílula, um procedimento que visava minorar os eventuais efeitos secundários desta. O facto é que, nessa altura, as doses de hormonas que a pílula continha eram relativamente elevadas e não havia estudos (que actualmente já estão publicados) sobre os eventuais efeitos da ingestão da pílula durante longos períodos de tempo.

Actualmente as pílulas têm uma dosagem muito mais baixa, pelo que não é recomendado um período de pausa às mulheres que a tomam excepto, claro, se estas quiserem engravidar ou houver alguma indicação específica por parte do médico assistente.


Os antibióticos anulam o efeito da pílula?
Efectivamente alguns antibióticos reduzem a eficácia da pílula. Outros, com princípios activos como a penicilina ou algumas tetraciclinas, por exemplo, em determinadas circunstâncias, podem diminuir a eficácia da pílula.

Portanto, se tomar e pílula e lhe for receitado um antibiótico, fale com o médico sobre o assunto. Com muitos antibióticos não é possível prever com certeza essa redução de eficácia, pelo que será mais prudente recorrer também a outro método contraceptivo, como o preservativo.
Este segundo método contraceptivo deverá ser mantido até uma semana após a ter terminado a toma do medicamento. Não suspenda a toma da pílula.

Existem outros princípios activos que poderão diminuir a eficácia da pílula, pelo que, se estiver a tomar a pílula, deverá perguntar ao seu médico assistente se os medicamentos prescritos poderão reduzir o efeito da pílula.


A pílula engorda?
Não. Isso era antes. Ou seja, há alguns anos atrás, quando a pílula continha dosagens relativamente elevadas de hormonas registaram-se aumentos de peso. Esse aumento acontecia por duas razões: porque os estrogénios que compunham as pílulas combinadas podem provocar retenção de água (resultando num aumento de peso) e porque os progestagénios (outro componente da pílula) podem provocar um ligeiro aumento de apetite.
Actualmente são receitadas pílulas de baixa dosagem que não têm esse efeito secundário.

domingo, 25 de setembro de 2011

Educação Sexual no Ensino Secundário - uma experiência de interdisciplinaridade

No texto que a seguir se apresenta indicam-se, numa primeira parte, Introdução, as razões que motivaram a escolha do tema e, numa segunda parte, Metodologia, os passos percorridos para concretizar o programa de Educação Sexual. Segue-se uma breve análise dos Resultados e algumas Conclusões e sugestões para projectos nesta área.


Introdução

A necessidade de escolher um tema no âmbito da saúde pública para um trabalho de investigação, que servisse pela sua actualidade e pertinência, simultaneamente os objectivos curriculares da escola, tais as razões que levaram a autora a abordar este assunto.

A maneira a desenvolver neste artigo será, no corrente ano, alvo de uma dissertação de mestrado. Daí que o que aqui se pretenda apresentar, sinteticamente, sejam apenas as razões motivadoras e os procedimentos envolvidos numa experiência de interdisciplinaridade.

Esta experiência centrou-se, fundamentalmente, na aplicação de um programa informativo e formativo de Educação Sexual, cujas consequências se pretendia que fossem: a alteração dos conhecimentos e atitudes dos alunos sujeitos a esse programa, relativamente ao seu estado inicial; a promoção da sua saúde e bem-estar; a prevenção de doenças e melhoria das suas capacidades de comunicação e tomada de decisão.

Poder-se-á dizer que, em termos de justificação, a necessidade deste ou de outros programas de Educação Sexual, nos dias de hoje surge, como todos têm consciência, mais do que indispensável.

- Primeiro, porque, nas ultimas décadas, o comportamento e desenvolvimento físico e sexual dos adolescentes se modificou acentuadamente. Os jovens estão a atingir a puberdade muito mais cedo do que as gerações anteriores (1). Em consequência disso têm, também, os seus primeiros relacionamentos sexuais mais cedo, sabendo-se, através de um estudo efectuado (1), que entre os 15-19 anos 60% dos jovens são já sexualmente activos e 13% desse grupo, aos 14 anos e menos que isso, já tinham relacionamentos sexuais completos.

Em Portugal, os últimos estudos neste campo, levados a cabo por Nuno Nodim (2) e Pedro Vasconcelos (3), sugerem que 23% da população jovem se inicia sexualmente com menos de 16 anos, sendo de 80% o número dos que, entre os 18 e os 25 anos já tiveram relações sexuais.

- Segundo, porque, a socialização dos jovens é feita relativamente não a um único código moral, mas a um leque variado de valores, por vezes em contradição.

- Terceiro, porque se alterou a estabilidade familiar através da mobilidade da mesma e da facilidade do divórcio.

- Quarto, porque as novas formas de cultura de massas, como consequência do advento dos meios de comunicação social, apresentam uma sexualidade sobrevalorizada.

Ora, como é sabido, a conduta sexual dos jovens tem implicações consideráveis na sua saúde. As estatísticas sobre a gravidez na adolescência e sobre as doenças sexualmente transmitidas, demonstram-no claramente. Sabe-se, também, que na faixa etária dos adolescentes o uso de contraceptivos é, ainda, reduzido devido, principalmente, a falhas na informação e comunicação com os jovens. Daí que, baseado nestes pressupostos, se tenha orientado a pesquisa sobre o papel da informação, adquirida durante uma experiência de três meses, na mudança dos conhecimentos e atitudes prévios, de um grupo de alunos.

Para tal, fez-se uma revisão de literatura e constataram-se outras experiências semelhantes e seus resultados (1,4,5,6,7). Em trabalhos anteriores a estes reconheceu-se que os conhecimentos são não só cruciais para a adaptação psicológica necessária durante a adolescência mas também pré-requisitos para um comportamento seguro. É, igualmente importante, avaliar o que os jovens sabem sobre puberdade e sexualidade, para que se possa fazer a elaboração de programas de Educação Sexual nas escolas. Para assegurar que os programas atinjam os fins a que se propõem é necessário, também, avaliar os conhecimentos antes e depois de ensinar (1).

"Efectivamente, a Educação Sexual só pode ser levada a cabo se, a posteriori, houver urna avaliação dos resultados'' (Winn, 1998). Então, porque as investigações, sobre os conhecimentos de sexualidade que os jovens têm, revelaram que esses conhecimentos são escassos, incompletos e incorrectos e que isso afecta a sua saúde, o modo como interagem sexualmente e a sua capacidade de tomar decisões, pensou-se ser importante e necessário implementar um programa cujos objectivos fossem, além de outros, aumentar também os conhecimentos dos alunos em matérias de natureza sexual.

Nos assuntos revistos foi encontrado e evidenciado o papel dos Programas de Educação Sexual de 4.° Geração, programas que se baseiam em currículos intitulados de "Redução do Risco" (7). Tratam-se de programas interactivos, dinâmicos, centrados em objectivos compartimentais, que levam os alunos a desenvolver capacidades e destrezas, a desenvolver a assertividade, a par de uma informação, o mais completa possível.


METODOLOGIA

As actividades realizadas desenvolveram-se ao longo do ano lectivo de 1999/2000. As etapas mais representativas da planificação estão apresentadas no quadro síntese, que resume todo o trabalho desenvolvido durante esse período.

Este estudo experimental consistiu em submeter uma amostra da população escolhida (uma turma do 11.° ano, do agrupamento I) à influência da variável "frequência de um programa de Educação Sexual", que decorreu na Escola Secundária D. Dinis ao longo do 1.° período lectivo de 1999/2000, em 27 sessões (27 horas aproximadamente), em condições controladas e conhecidas, e avaliar as modificações nos conhecimentos e intenções/atitudes sobre sexualidade, desse grupo.

A temática da Educação Sexual foi abordada nas disciplinas do ano em questão, mais precisamente naquelas em cujos conteúdos e objectivos se podiam sobrepor, tal como é preconizado, quer na actual legislação (Decreto-lei n.° 259/2000 de 17 de Outubro) quer no manual Orientaçãoes Tecnicas Sobre Educação Sexual Em Meio Escolar (8).



Etapas do trabalho
Datas

Elaboração do projecto de um programa de Educação Sexual, submetido à
armação do Conselho Pedagógico da Escola Secundária D. Dinis.
Julho de 1999

Elaboração questionários de conhecimentos e altitudes sobre sexualidade.
Julho e Agosto de 1999


Aplicação dos questionários de conhecimentos e altitudes.
Setembro de 1999


Avaliação dos questionários reformulação do programa de Educação Sexual,
tendo um vista os resultados obtidos nos questionários.
Outubro de 1999


Preparação das sessões de Educação Sexual.
Outubro a Dezembro de 1999
1999


Implementação do programa de Educação Sexual.
1.° Período do ano lectivo
1999/2000


Nova aplicação dos questionários aos alunos, para avaliar mudanças.
Janeiro de 2000





Fonte: A tese de mestrado "O papel dos conhecimentos e atitudes em Sexualidade como pré-requisitos para comportamentos saudáveis".


A autora deste estudo adaptou um programa original, incluído na bibliografia citada (4), a sua realidade curricular específica, constatada, quer através dos resultados obtidos pela aplicação dos questionários, quer através dos conteúdos das disciplinas do 11.° ano de escolaridade. Nesse sentido foi elaborado o Quadro II, onde se evidencia a forma transversal e integrada como a Educação Sexual foi implementada, nos currículos que melhor a podiam tratar. Para a elaboração deste quadro a autora baseou-se num projecto/programa de Educação Sexual para o ano lectivo 1999/2000, apresentado e aprovado em Conselho Pedagógico da Escola Secundaria D. Dinis.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Contracepção de emergência


O que é a contracepção de emergência?
Os contraceptivos de emergência são métodos para evitar uma gravidez não desejada, depois de ter havido relações sexuais sem protecção. Geralmente, é considerado necessário recorrer a este método quando:
se rompe um preservativo durante a relação sexual;
a mulher se esqueceu de tomar a pílula ou não a tomou da forma correcta e teve relações sexuais;
é um caso de violação;
há situações - a analisar caso a caso - em que tenham ocorrido relações sexuais não protegidas (por exemplo, um daqueles "arroubos" de paixão a que nenhum dos envolvidos foi capaz de resistir e antes do qual ninguém parou para pensar).

Regra geral, não se trata de nada de especial; apenas uma pílula contraceptiva "normal", com uma dosagem diferente da habitual. As pílulas de contracepção de emergência devem ser tomadas o mais cedo possível (a primeira, o mais tardar, até 72 horas após o acto sexual sem protecção).


O que fazer?
O mais indicado é que se dirija ao seu médico assistente, ao ginecologista ou à consulta de Planeamento familiar do Centro de Saúde da sua área de residência. É importante que a mulher fale com um médico antes de recorrer à contracepção de emergência pois, apesar de esta ser uma opção simples e segura para a maioria das mulheres, existem casos particulares em que este método não é aconselhado sem supervisão médica. É o caso de mulheres que possam:
- não ter a certeza de ter ou não engravidado no último mês (atenção a sinais como náuseas, aumento do volume das mamas, anormalidades no último período menstrual);
- ter cancro da mama;
- ter um tumor no sistema reprodutor;
- ter problemas cardíacos;
- ter coágulos nas pernas (varizes, p.e.) ou pulmões;
- ter doenças como diabetes, problemas de fígado, doenças de coração, doenças de rins, fortes enxaquecas ou hipertensão;
- qualquer doença que possa constituir um risco para a sua saúde.

Como tomar?
A contracepção de emergência faz-se em duas etapas. A primeira toma deve ser feita o mais cedo possível, até 72 horas após a relação sexual sem protecção. A segunda toma deve ser feita 12 horas depois da primeira toma.
Meia-hora antes de cada toma, é aconselhável tomar um comprimido para o enjôo (para prevenir eventuais vómitos).

A tabela seguinte, obtida a partir da página de Internet da Associação para o Planeamento da Família (APF), revela a forma de aplicar este método recorrendo a marcas presentes no mercado português. Note-se que já existe no nosso mercado uma embalagem de quatro pílulas para contracepção de emergência, o Tetragynom).

ATENÇÃO!!!
A contracepção de emergência é uma "bomba hormonal", que actua activamente sobre o sistema reprodutor da mulher, logo, este método não deve ser utilizado repetidamente, sendo importante discutir com um técnico de saúde o tipo de contracepção regular que se deseja escolher. Assim, três semanas depois da tomada das pílulas, vá a uma consulta médica para escolher o novo método e excluir uma possível falha da contracepção de emergência.

Se depois de recorrer a este método a mulher desejar ter relações sexuais, é muito importante que utilize um método de barreira (preservativo ou outro) até ao aparecimento do período menstrual.

Nota final:
O que torna este método pouco atraente (recordar que se trata de um método de emergência):
Não protege contra doenças sexualmente transmissíveis, o que inclui a SIDA, entre outras.
Tem que ser posto em prática muito rapidamente.
Implica ter uma caixa de pílulas "sempre à mão".
Pode provocar efeitos secundários (enjoo e vómitos, p.e.).



Marca1.ª Toma2.ª Toma
Microginon4 pílulas3 pílulas
Neomonovar4 pílulas3 pílulas
Gynera4 pílulas3 pílulas
Minulet4 pílulas3 pílulas
Marvlon4 pílulas3 pílulas
Diane 353 pílulas3 pílulas
Mercilon5 pílulas5 pílulas
Minigeste5 pílulas
5 pílulas

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Adolescentes, o Sexo e os Outros

Não é fácil ser-se adolescente. É um período de grandes mudanças a vários níveis: familiares, sociais, emocionais, pessoais. É nesta fase que, de certa forma, o adolescente se torna pessoa, procura ganhar autonomia e tenta perceber qual a sua posição no mundo, sendo necessário, muitas vezes, dar algum significado à sua própria existência. Daí que esta seja também uma época de grandes ideais em que o adolescente é capaz de se empenhar em causas de uma forma que dificilmente fará noutra altura da sua vida.

O corpo é o lugar de muitas destas mudanças. Este corpo vai progressivamente adquirindo características de adulto e perdendo os traços de criança. Não é pouco frequente a sensação de se estar a habitar um corpo estranho, como se um dia o adolescente tivesse acordado e descoberto ter encarnado num invólucro desconhecido que se controla com alguma dificuldade. Pior, este corpo parece ter vontade própria, e quando menos se espera tem reacções estranhas: a cama aparece molhada de manhã, quando se acorda; começa-se a sangrar dos sítios mais inesperados e sensações estranhas surgem quando se fica excitado sexualmente.

É, desta forma, natural que o adolescente se sinta invadido por dúvidas. Elas estão relacionadas com aquilo que se passa no seu corpo nesta fase, com estas transformações e erupções que o deixam algo perplexo. É compreensível, assim, que ele procure esclarecer estas dúvidas das formas que puder. É algo que lhe diz respeito, que o perturba e espanta.

Esta necessidade do adolescente em esclarecer as suas dúvidas e os meios que ele encontra para o fazer leva a que a sexualidade, nesta fase da vida se transforme numa moeda de troca para com o mundo. Ou seja, ao ter que ir buscar a informação que não tem, em algum local, o adolescente vai ter que entrar em diálogo e em interacção com o seu meio. A sexualidade transforma-se, assim, num importante significante utilizado pelo adolescente nas suas interacções com os outros.

Antes ainda de procurar a sua informação directamente naqueles que o rodeiam, o adolescente vai procura-la nos meios que tem disponíveis ao seu alcance. Isto porque já percebeu que a sexualidade não é uma temática acerca da qual se fale abertamente. Já sabe que poderá ser repreendido se falar sobre o assunto ou, então, que irá provocar constrangimento se o fizer. Assim, há que ter cautela e, primeiro, procurar pelos próprios meios a informação desejada. E, actualmente, tal não apresenta qualquer dificuldade.

É comum a discussão sobre questões ligadas à sexualidade nos meios de comunicação social, nomeadamente em revistas dedicadas aos próprios adolescentes; a internet é um meio que os jovens dominam e que permite o acesso a uma grande quantidade de informação, entre a qual se encontra uma vasta quantidade de dados sobre sexo; várias linhas telefónicas de ajuda existem sobre esta temática, nas quais os jovens, na segurança proporcionada pelo anominato, podem colocar e esclarecer as suas angústias mais intímas.

Em todos estes meios nos quais o adolescente procura informação, reina ainda o silêncio na comunicação. Existe uma procura activa da informação, mas de forma preferencialmente não interactiva, ou seja, de forma que não implique uma comunicação com os outros sobre o interesse relativo ao sexo.

No entanto, esta fase informativa faz com que o adolescente tenha já muitos dados, quando passa a uma outra fase – a fase da procura de informação junto dos outros. E esta fase surge muito da necessidade de verificar se aquilo que ele sente e se aquilo por que está a passar é unico, ou se existem outros que tenham a mesma experiência. Não raras vezes o jovem se questiona sobre a normalidade dos seus sentimentos, já para não falar das dúvidas sobre as formas do seu corpo.

O investimento de atenção e energia sobre o corpo, justifica-se pelos factores inerentes ao seu próprio crescimento e também pelo facto de o corpo passar a ser, ele também, um poderoso meio de comunicação. Meio de comunicar estados afectivos, meio de protestar contra o sistema, contra os pais, contra a escola, mas também de demonstrar interesse, disponibilidade ou indisponibilidade em relação aos outros. De chocar ou atrair. Assim, se já de uma forma não verbal se torna possível interagir com os outros, a utilização da palavra adquire um papel fundamental por permitir a troca de experiências e de informações. Com os amigos, falar sobre sexualidade adquire a função de moeda de troca.

Falar com os amigos e colegas é uma das formas mais habituais de aquisição de informação sobre sexualidade junto dos jovens. E é possível perceber porquê. É através dos amigos que o processo de socialização se efectua, nesta fase da vida. São os amigos que vão ser investidos na proporção directa de que os pais vão ser desinvestidos. É com eles que se cria uma intimidade emocional e afectiva que os torna confidentes dos problemas e angústias. Tornam-se conselheiros por excelência nos momentos difíceis, depositários dos sonhos e fantasias, dos projectos, bem como das ansiedades. Não é de estranhar assim que, em diversos estudos efectuados que abordam esta questão, os amigos surjam entre os principais meios de obtenção de informação em matéria de sexualidade. Seguem-se alguns desses dados:

54,1% dos homens e 32,8% das mulheres afirmam que os amigos influenciaram, até um certo ponto, a sua visão da sexualidade (Vasconcelos, 1998).
60,6% dos jovens do Concelho de Loures afirmam que os amigos constituiram fontes de informação sobre sexualidade, percentagem esta bastante superior à dos que afirmaram ter obtido esta informação junto dos pais (46,1%) ou de professores (15,5%) (Machado Pais, 1996).
55,2% dos jovens adultos afirmam ter obtido informação sobre os contraceptivos que utilizam junto dos amigos, valor este mais uma vez superior ao relativo aos pais (49,6%) ou aos professores (23,4%) (Nodin, 2001).

O facto de os jovens procurarem informação sobre sexualidade junto dos amigos tem as suas vantagens e desvantagens. Por um lado, sabe-se que a influência dos amigos se conta de entre as mais intensas neste periodo do desenvolvimento, acabando, por isso por ser uma moeda valiosa . As desvantagens prendem-se com o facto de que muitas vezes os conhecimentos que os jovens têm sobre sexualidade são incorrectos, fundamentados em crenças deturpadas ou pura e simplesmente falsas.

Caso particular relativo à obtenção de informação junto dos pares é o do parceiro sexual. Seria de esperar que se discutisse sobre sexualidade com a pessoa com quem se tem relações sexuais. No entanto, os estudos efectuados e que abordam esta temática demonstram o contrário. O que aponta no sentido de que, entre os casais de jovens, a sexualidade é como que uma pedra preciosa . É preciosa porque se constitui como objecto de troca física e emocional. No entanto, não se fala sobre ela, como se se tivesse medo de a perder. É um objecto de troca essencialmente a um nível não verbal. Faz-se mas não se discute aquilo que se faz. Como a prevenção ao nível da sexualidade implica que os parceiros de uma relação sexual sejam capazes de discutir as questões básicas de utilização do preservativo ou do método contraceptivo de sua eleição, esta dificuldade dos jovens pode implicar sérios riscos para a sua saúde.

Também os pais jogam um papel importante nesta procura de informação dos jovens sobre sexualidade. Relativamente a eles, pode-se dizer que são fontes de informação a peso de ouro . E por diversos motivos. Para começar, é no contexto da família que os jovens vão obter de tudo um pouco o essencial que lhes vai valer para a vida. O seu equilibrio emocional, a sua personalidade, os seus valores, todos são fortemente influenciados pela convivência e educação dos pais. Desta forma, também em matéria de sexualidade, o básico vai ser obtido no contexto social que melhor conhecem, ou seja, a família. Também aqui o não verbal tem um peso particularmente importante. É mais por aquilo que se presencia e que se observa do comportamento e atitudes dos pais que as crianças e os adolescentes vão construindo o seu próprio conceito de sexualidade.

Assim, mesmo nas famílias em que não se fala sobre este tema, as questões associadas aos papéis de género, ou seja, as tarefas que são consideradas como sendo da responsabilidade dos homens e das mulheres, a expressão dos afectos, de entre muitas outras questões, são fornecidas logo com o leite materno. Daí que seja quase um lugar comum dizer que a educação sexual se faz desde o berço e essencialmente pelos pais, primeiros agentes no processo de transformar a criança em pessoa. O peso de ouro que os pais adquirem neste processo advém exactamente desta sua função. Até porque não é necessário que se fale sobre sexualidade em casa para que, logo à partida, os adolescentes adquiriram toda uma postura face a estas questões que os vai acompanhar durante toda a sua vida.

Isto não quer dizer que não seja necessário falar de sexualidade em casa. Tal é, não só importante, como essencial para o à-vontade com que os jovens irão encarar a sexualidade. Além de que lhes vai abrir as portas para que, de facto e de uma forma activa, procurem informação junto dos pais quando de tal necessitarem. Esta é a forma de os pais se transformarem, de facto, em pequenas grandes minas de ouro nas quais os jovens podem adquirir preciosas informações que lhes são tão caras.

Por último, mas nem por isso menos importantes, vêm os professores. Qual é o preço da informação que os professores podem dar sobre sexualidade? Qual o valor das suas atitudes e posturas no decurso das suas aulas e fora delas? Há que não esquecer que uma parte considerável do tempo dos jovens é passado em contextode sala de aula com os seus professores e professoras. Assim, se é com os pais que o básico da personalidade e capacidades dos jovens se vai formar, é com os professores que uma vasta quantidade de informação pode ser colectada, consolidada e, desta forma, enriquecida a personalidade dos adolescentes, também no que respeita à sexualidade.

Da mesma forma que com os pais, esta transmissão de conhecimentos e valores não passa apenas por aquilo que se diz nas salas de aula, mas também por aquilo que se faz. As atitudes, gestos e posturas dos professores são um veículo de valores, conceitos e preconceitos sobre questões tão básicas como os papéis de género, o conservadorismo ou o liberalismo na abordagem da sexualidade. Um exemplo clássico é o do aparecimento da primeira menstruação a um arapariga na escola e da forma como a instituião escolar lida com esta situação. É tratada como um acontecimento natural? Ou como se de uma doença se tratasse? Como algo que deve ser comemorado? Ou ainda como algo que deve ser mantido em segredo? Além disso, quem é que se encarrega de falar com a rapariga sobre o sucedido? É o professor em cuja sala se deu a ocorrência, ou é chamada uma professora de propósito para o efeito? A rapariga é enviada para o gabinete de enfermagem e depois para casa?

Esta é uma sitação que faz parte do quotidiano da escola e, portanto faz parte do quotidiano quer dos alunos quer dos professores. Lidar com estas questões é estar já a fazer educação sexual. É também através da forma como o professor lida com estas questões que um adolescente se poderá sentir mais confortável em procura-lo para pedir ajuda para algum problema que tenha – por exemplo uma gravidez não desejada. Aqui as coisas funcionam um pouco como um fundo de investimento. Se os professores têm a disponibilidade e o à-vontade para abordar as questões da sexualidade na sala de aula, então mais facilmente os alunos se lhes irão dirigir com dúvidas nesta área e os procurarão se necessitarem.

Obviamente que nem sempre é fácil para os próprios professores falar sobre sexualidade com os alunos, nas aulas ou fora delas. Muitos não tiveram a possibilidade de, ao longo do seu próprio desenvolvimento, falar com alguém, pai, mãe, professor ou técnico, sobre estas questões. Tão pouco tiveram formação adequada e específica sobre como abordar a educação sexual em sala de aula. Isto deixa-os frequentemente numa posição de insegurança face à abordagem destas questões, mesmo que para tal tenham motivação .

É importante que o professor seja capaz de reconhecer que existem questões para as quais não está qualificado para dar resposta. Situações em que não tem o troco adequado para dar ao aluno que os procura. Isto não diminui o seu papel de educador mas, pelo contrário, valoriza-o enquanto intermediário entre os problemas dos alunos e os recursos que os poderão melhor ajudar.

De resto, a introdução da educação sexual nas escolas é uma realidade. De acordo com as linhas orientadoras para a introdução da educação sexual em meio escolar (Ministério da Educação et al., 2000), a sexualidade deverá ser abordada de forma transversal aos currículos escolares. Ou seja, não irá haver uma nova disciplina específica de educação sexual mas, em cada uma das disciplinas já existentes nos diferentes graus de ensino, deverão ser abordadas questões relacionadas com a sexualidade articuladas, obviamente, com os respectivos currículos.

Isto significa que, a curto prazo, a sexualidade será moeda de troca corrente entre professores e alunos no contexto da escola. Até porque se privilegiam, para os objectivos propostos, a utilização de metodologias dinâmicas e interactivas, e envolvem assuntos sobre os quais é suposto que se debatam valores e posições pessoais, dos alunos, bem como dos professores.

Os jovens de hoje em dia vão ter um privilégio que a grande maioria dos actuais adultos e jovens adultos não teve durante o seu crescimento e percurso escolar que é o de terem acesso a uma abordagem sistematizada da sexualidade no contexto da escola, permitindo-lhes, assim, a possibilidade da integração de informações e valores ao longo do seu desenvolvimento.

Este é um investimento que sendo feito hoje pode dar grandes lucros no futuro, ao diminuir o desconhecimento, as falsas crenças, o conselho benevolente mas tecnicamente incorrecto que, na verdade, só complica em vez de ajudar. Não irá, certamente, resolver todos os problemas do mundo ou, à nossa escala, do país, mas poderá, a seu tempo, diminuir alguns dos graves problemas de saúde que afectam os nossos jovens, dos quais o VIH e a gravidez não planeada são apenas exemplos. Moedas de troca, pedras preciosas, fundos de investimento e pesos de ouro, são valores que continuarão, certamente, a fazer parte do quotidiano dos jovens. Preciosos já todos eles são, cada um à sua maneira. Esperamos que, num futuro que começa agora, possam passar a ser mais valorizados ainda.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Métodos contraceptivos - anel vaginal

O que é o Anel Vaginal?
O anel vaginal contém uma combinação de hormonas semelhante à da pílula convencional, entre as quais estrogénios. As hormonas difundem-se através das paredes da vagina. O anel é flexível, transparente e incolor, com cerca de cinco centímetros de diâmetro, facilmente aplicável e que pode ser aplicado pela própria mulher (semelhante à da colocação de um tampão).

Durante as três semanas (21 dias) em que deve estar aplicado, o anel confere uma protecção eficaz. Na quarta semana ele é retirado e aparece a menstruação.
A colocação e retirada do anel é fácil, sobretudo porque não existe uma posição obrigatória que condicione a sua eficácia. Para retirar o anel basta inserir um dedo na vagina até o sentir e puxa-lo para fora, suavemente.

Segundo o presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, este sistema tem a vantagem de diminuir os problemas hepáticos pois, por serem absorvidas através do revestimento da vagina, as hormonas não passam pelo fígado. Os efeitos secundários são os que são observados em mulheres que utilizam a pílula (embora alguns fabricantes insistam em afirmar que com este método diminui a intensidade de efeitos como as dores de cabeça e o aumento de peso).

Graças à sua forma (circular, com cerca de 5 centímetros de diâmetro) e flexibilidade, a adaptação às paredes vaginais é boa, o que assegura que se mantém no local de forma confortável, pois é sustentado pelos músculos da parte mais estreita da vagina.

Contrariamente ao que algumas pessoas possam pensar, e porque fica colocado na zona mais profunda da vagina, o anel não interfere nem é "sentido" durante a relação sexual.

Como começar a utilizar o anel vaginal?
Se não utilizou qualquer contraceptivo hormonal no mês anterior, considere o primeiro dia da sua menstruação como o "dia 1" e coloque o seu primeiro anel vaginal. Deve fazê-lo pelo menos antes do "dia 5", mas não mais tarde do que esse dia, mesmo que a sua menstruação não tenha terminado. Durante este primeiro ciclo, use um método contraceptivo adicional, como um preservativo ou um espermicida nos primeiros sete dias de utilização do anel.
Se tomava uma pílula hormonal combinada (pílula que contém um progestagénio e um estrogénio), após a última toma da pílula pode inserir o anel vaginal durante os sete dias seguintes. No máximo terá de inserir o anel até ao dia em que deveria retomar a toma da pílula. Não necessita de associar um outro método contraceptivo.
Se tomava uma pílula contendo apenas progestagénio, poderá colocar o anel vaginal em qualquer altura. Não faça intervalo entre a sua última toma da pílula e o primeiro dia de utilização do anel vaginal. Quando transita de um contraceptivo que contém apenas progestagénio para o anel, deve associar outro método adicional de contracepção, como o preservativo ou um espermicida, durante os primeiros sete dias de utilização do anel.
Se tinha um implante subcutâneo, pode aplicar o anel vaginal no mesmo dia em que retirar o implante. Se está a mudar de um contraceptivo injectável, deve colocar o anel no dia em que deveria tomar a sua próxima injecção. Se usava um dispositivo intra-uterino (DIU) poderá colocar o anel no dia em que o retirar.

A venda do anel vaginal só é feita com apresentação obrigatória de receita médica e, pelo menos por enquanto, não é comparticipado.

sábado, 17 de setembro de 2011

Interrupção Voluntária da Gravidez

Este é, e sempre será, um tema que suscita muita polémica. As leis, as ideias e as religiões abordam esta temática de modo diferente. Em todas as religiões cristãs é totalmente condenado. O direito de escolher livremente e o aborto são uma discussão que percorre o mundo e os países. Em Portugal o Referendo Sobre o Aborto realizado em 1998 (Referendo é uma consulta à população de um país para se perceber qual é a sua vontade) estabeleceu a seguinte legislação.

A Lei – em que situações é legalmente permitido o aborto em Portugal?
a) por razões de saúde da mulher grávida: se a interrupção de gravidez for indicada para evitar grave e duradoura lesão para a saúde física e psíquica da mulher, devendo ser realizado nas primeiras 12 semanas de gravidez. No caso de ser a única forma de evitar risco par a vida da mulher, pode ser realizada em qualquer altura da gravidez.
b) Por doença do feto: se houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer de forma incurável, de grave doença ou malformação e for realizada nas primeiras 24 semanas de gravidez.
c) Por violação: se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual e for realizada nas primeiras 16 semanas de gravidez.

Em qualquer das circunstâncias a decisão de abortar ou continuar a gravidez cabe à mulher grávida depois de informada e esclarecida.

A interrupção da gravidez deve ser sempre realizada por um médico ou sob a sua direcção e numa instituição hospitalar pública ou privada competente, de forma a assegurar as melhores condições de segurança para a mulher.
Ou seja, o que a lei diz:

A IVG é permitida:
-quando a vida da mulher está em risco;
-até às 24 semanas de gravidez quando o feto corre riscos;
-até às 16 semanas em caso de violação.

Quando ocorre uma IVG, a mulher tem direito a ser informada e esclarecida.

A IVG deverá:
-ser realizada por um médico ou sob a sua direcção;
-ocorrer num hospital ou clínica;
-ter as condições de segurança adequadas.

Do ponto de vista médico a IVG não é uma intervenção complicada, desde que realizado em boas condições. Mas não pudemos esquecer os aspectos psicológicos, os sentimentos da mulher. Esses são mais complicados. Este pode ser um momento difícil para uma mulher e também para um homem. Porque o aborto não é somente coisa de mulheres, diz respeito também aos homens.

No entanto, apesar da lei, existe o aborto ilegal. A mulher (ou o casal) pode decidir abortar por razões pessoais que não estão abrangidas pela Lei. O aborto é muitas vezes realizado sem condições de segurança e higiene para a saúde da mulher.

Duas coisas em que deve pensar:
Sempre que se tem relações sexuais e não se quer engravidar, deve utilizar-se um método que previna a gravidez.
O aborto realizado repetidas vezes, mesmo em condições de segurança, pode originar lesões graves no corpo e na saúde da mulher.

Após uma relação sexual, se enfrentar uma situação de uma gravidez não desejada, procure o apoio de um técnico ou de pessoas de confiança, como os pais ou os amigos. Tome uma decisão informada e apoiada pelas pessoas em que confia.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Educação Sexual nas Escolas

Introdução: Isabel Maria Cunha (1)


Os jovens "são apaixonados, irascíveis, e capazes de ser levados pelos impulsos, sobretudo os impulsos sexuais... em relação aos quais não exercem nenhum autocontrolo. Além disso são volúveis e instáveis nos seus desejos, os quais são tão transitórios quanto veementes..."

Aristóteles

Neste número do Boletim resolvemos por em destaque o tema da Educação Sexual nas Escolas, por considerarmos ser um assunto que está na ordem do dia e na preocupação dos Professores, Pais e Escolas. Contudo, se dermos uma vista de olhos ao que já foi escrito e dito em entrevistas, artigos de jornais, revistas, noticiários... tem-se a impressão de que já foi tudo dito. Mas, qual ou quais as conclusões?



Se nós fossemos assexuados, produziríamos clones de nós próprios e seríamos potencialmente imortais como o são, ainda hoje, muitos seres unicelulares. Mas a evolução empurrou-nos para um destino em que a nossa sexualidade é a causa da nossa grande diversidade e da nossa mortalidade. Pagamos caro a capacidade de produzirmos seres diferentes de nós e entre si. Mas quanto ganhamos em afectividade!... A expressão da nossa sexualidade é, afinal, uma forma de comunicação. Se fossemos assexuados, o tão falado Amor de Mãe não existia, como não existiria o amor entre homem-mulher e entre Pais e filhos. A nossa sexualidade é indutora de sentimentos de afecto, de paixão, de amor, atingindo-se por vezes um grau de intimidade entre duas pessoas que se conhecem e compreendem de tal modo que já não precisam de falar. Um simples olhar e sabe-se o que o outro está a pensar e o que nos quer dizer... Uma intimidade onde o silêncio fala e não é solidão. E é quando os corpos e as almas se encontram numa relação sexual cheia de amor que ser sexuado é gratificante para o indivíduo. Mas, nos dias de hoje, os corpos andam tão depressa que nem esperam pela alma.

Lembro-me do caso, verídico, de um rapaz que, tendo pedido namoro a uma colega, foi confrontado no dia seguinte com a entrega de um calendário onde, segundo ela informou, podia verificar os dias em que podiam ter relações sexuais e aquelas em que as mesmas eram interditas. E... ele foi-se embora. Aquela moça não sabia que não há nada mais excitante do que o jogo da sedução.

É triste ver os nossos jovens, alguns ainda tão novinhos, em práticas sexuais para as quais não estão preparados nem física nem psicologicamente. Quantas relações antes de tempo deixam marcas negativas para toda a vida. Quantos problemas físicos e psicológicos resultantes de situações complicadas com as quais não se está preparado para lidar.

Ouvimos os alunos a pedir com uma certa emotividade: Educação Sexual na Escola, já! Mas que entendem eles por Educação Sexual? Quem a vai dar? Qual a preparação desses professores (ou não vão ser professores?)? Quem e como avaliar os resultados dessa educação?

Há anos que a Educação Sexual é obrigatória nas Escolas do Reino Unido, a partir dos 12 anos. Quais os resultados? A número 1 da Europa em adolescentes grávidas. O que significa isto? Que lá a educação não foi bem orientada? Então, como fazer? O Primeiro-Ministro Britânico, além de ter afirmado em recente entrevista que pretendia tomar a profissão docente como a mais prestigiada na Grã-Bretanha, dizia também uns meses antes que pretendia fomentar a virgindade entre os jovens do seu país. É por aí que se deve ir?

Tantas interrogações e tão poucas certezas...
De todas as mudanças que se processam na adolescência, o aumento do impulso sexual, acompanhado de sentimentos e ideias novas e muitas vezes estranhos, é dos mais característicos. E, tanto para os rapazes como para as raparigas, uma das tarefas mais difíceis de realizar, nessa altura, e a de lidarem com a sexualidade nascente e ajustarem-na ao seu sentido de identidade e aos seus valores, sem conflitos ou ansiedades excessivos. As mudanças físicas que vêem acontecer no seu corpo, as ideias novas que lhes chegam a mente, os sentimentos e impulsos que experimentam, confundem-nos. Os pais, os professores e os amigos podem ajudar ou dificultar o ajustamento a essas mudanças e podem também influenciar no sentido de se tornarem motivo de orgulho ou uma fonte de confusão e ansiedade. Os jovens querem e têm direito a receber informação correcta sobre questões práticas como relações sexuais, concepção, gravidez e controlo de natalidade mas, e talvez sobretudo, querem saber como integrar o sexo com os outros valores e como se devem relacionar de forma mutuamente compensadora e construtiva com indivíduos do seu próprio sexo e do sexo oposto. Muito provavelmente, eles gostariam que os ajudassem a construir uma ética sexual pela qual se norteassem, que tivesse por base os valores em que acreditam. Dar aos jovens uma informação franca e adequada sobre o que e o desenvolvimento normal de um adolescente e as possíveis variações que podem acontecer pode evitar muita angústia e aflição desnecessárias.

E como é que a nossa Sociedade responde a tudo isto?
A sociedade actual, numa altura em que ela busca um equilíbrio que sente precário, dá-lhe uma resposta incoerente, conflituosa e hipócrita, atirando-lhe aos olhos, filmes, telenovelas, imagens (que podem ser vistas em qualquer escaparate de rua), livros e até bandas desenhadas, que só usando de eufemismo se podem classificar de eróticas em vez de pornográficas, ao mesmo tempo que lhes exige que se saibam comportar. Face aos problemas que surgem de gravidez na adolescência propõe a despenalização do aborto; face ao aumento de SIDA, coloca máquinas de preservativos nas escolas; face à necessidade de uma educação para a sexualidade seria, objectiva, equilibrada, promotora de uma consciência reflexiva que conduza a uma ética sexual baseada em valores universalmente aceites de liberdade responsável, de responsabilidade consciente, de respeito pelo outro e pela vida e de justiça individual e social, propõe uma educação transversal, transdisciplinar, dada por quem a quiser dar, uma "educação para os valores, sejam eles quais forem".

Só podemos concluir uma coisa: não são os jovens que andam desorientados. São os adultos que não sabem que orientação lhes dar. E tudo isto se faz em nome de uma liberdade que, analisada criticamente, defende interesses económicos que ninguém tem a coragem de enfrentar. E os nossos jovens não deviam ser respeitados dando-lhes a oportunidade de crescerem equilibradamente sem serem espicaçados para uma sexualidade prematura que só aumenta as suas dificuldades? Depois... os professores que os eduquem...

Muitos adultos na nossa sociedade ocidental permanecem contrários a programas de Educação Sexual nas escolas. Uns porque acreditam que a Educação Sexual, mesmo quando só iniciada na puberdade, é prematura para jovens menos maduros e pode leva-los à promiscuidade. Outros porque acham que as informações sobre o sexo só devem ser dadas pelos Pais na intimidade do Lar. Contudo, temos hoje nas escolas, pelo menos teoricamente, todos os jovens com idades entre os 6 e os 15 anos. E todos sabemos que muitos dos Pais não discutem questões relativas à sexualidade ou porque não sabem, ou porque não têm tempo, ou porque não se sentem a vontade para o fazerem.

A educação da sexualidade faz parte da educação global do ser humano e, como tal, deve ser tratada com o mesmo cuidado que qualquer aspecto da educação da nossa juventude nos deve merecer. Mas, como deve ser feita? Na tentativa de procurarmos a resposta que a nossa sociedade propõe, levamos até vós a legislação e extractos de alguns artigos que recolhemos sobre esse tema. Tire depois as suas próprias conclusões.

Considerando útil a todos os professores o conhecimento da legislação que suporta a Educação Sexual nas escolas passamos a transcrever os extractos mais significativos da mesma.

- Lei n.° 120/99, de 11 de Agosto

Artigo 2.°

1- Nos estabelecimentos de Ensino Básico e Secundário será implementado um programa para a promoção da saúde e da sexualidade humana, no qual será proporcionada adequada informação sobre a sexualidade humana, o aparelho reprodutivo e a fisiologia da reprodução, sida e outras doenças sexualmente transmissíveis, os métodos contraceptivos e o planeamento da família, as relações interpessoais, a partilha de responsabilidades e a igualdade entre os géneros.

2- Os conteúdos referidos no número anterior serão incluídos de forma harmonizada nas diferentes disciplinas vocacionadas para a abordagem interdisciplinar desta matéria, no sentido de promover condições para uma melhor saúde, particularmente pelo desenvolvimento de uma atitude responsável quanto a sexualidade humana e uma futura maternidade e paternidade conscientes.

3- A educação para a saúde sexual e reprodutiva deverá adequar-se aos diferentes níveis etários, consideradas as suas especificidades biológicas, psicológicas e sociais, e envolvendo os agentes educativos.

4- Na aplicação do estipulado nos números anteriores deverá existir uma colaboração estreita com os serviços de saúde da respectiva área e os seus profissionais, bem como com associações de estudantes e com as associações de pais e encarregados de educação.

5- Nos planos de formação de docentes, nomeadamente os aprovados pelos centros de formação de associações de escolas dos Ensinos Básico e Secundário, deverão constar acções específicas sobre Educação Sexual e reprodutiva.


Artigo 3.°

(...)

2- Considerando a importância do uso do preservativo na prevenção de muitas doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente a SIDA, será disponibilizado o acesso a preservativos através de meios mecânicos, em todos os estabelecimentos do Ensino Superior e nos estabelecimentos de Ensino Secundário, por decisão dos órgãos directivos ouvidas as respectivas associações de pais e de alunos.


- Decreto-Lei n.º 259/2000, de 17 de Outubro

Artigo 1.°

1- A organização curricular dos Ensinos Básico e Secundário contempla obrigatoriamente a abordagem da promoção da saúde sexual e da sexualidade humana, quer numa perspectiva interdisciplinar, quer integrada em disciplinas curriculares cujos programas incluem a temática.

2- O projecto educativo de cada escola (...) deve integrar estratégias de promoção da saúde sexual (...) favorecendo a articulação escola-família, fomentar a participação da comunidade escolar e dinamizar parcerias com entidades externas a escola, nomeadamente com o centro de saúde da respectiva área (...)

3- O plano de trabalho de turma (...) deve ser harmonizado com os objectivos do projecto educativo de escola e compreender uma abordagem interdisciplinar da promoção da saúde sexual, por forma a garantir uma intervenção educativa integrada.

Artigo 3.°

1- A instalação de dispositivos mecânicos para acesso a preservativos em estabelecimentos de Ensino Secundário (...) deve decorrer de um amplo consenso na comunidade escolar, competindo aos respectivos órgãos de direcção executiva desencadear o processo de audição das associações representativas dos pais e encarregados de educação e dos alunos, fazendo incluir tal medida, se for caso disso, nos planos anuais de actividades das suas escolas.

Artigo 5.°

1- Para efeitos do disposto no n.°5 do artigo 2.° da Lei n.° 120/99, de 11 de Agosto, os serviços competentes do Ministério da Educação devem integrar nas suas prioridades a concessão de apoios à realização de acções de formação contínua de professores no domínio da promoção da saúde e da Educação Sexual.

Isto é o que a lei diz... Contudo, percorrendo a imprensa a que nos foi possível aceder, encontramos as mais variadas opiniões sobre a Educação Sexual nas escolas, o que indicia que o assunto é, no mínimo, polémico.

Em declarações ao Jornal de Notícias de 27.10.2000, Ana Benavente, Secretária de Estado da Educação, confirma que "(...) todas as escolas terão de ter esta dimensão, mas irão concretizá-la apenas da forma que forem capazes de o fazer. Não vai haver modelos únicos a implementar da mesma forma em todas as escolas". A mesma fonte revela que Ana Benavente "justifica a opção pelo tratamento interdisciplinar da Educação Sexual - sem a criação de uma disciplina específica - com a necessidade de uma estratégia flexível".

"Uma disciplina pressupõe um determinado conjunto de informações, a mudança de comportamentos e, no final, a avaliação. Ora, a Educação Sexual prende-se com a vida afectiva de todos e não é por se ensinar que se aprende", esclarece a Secretaria de Estado.

Para Ana Benavente, "a escola esta disponível para dar o seu contributo, mas isso não liberta a sociedade de intervir nessa área". (...) "Por outro lado, gostaríamos também que as associações de estudantes tivessem um papel activo, organizando as iniciativas que entenderem de forma a mobilizar os jovens nas escolas".

Mas, ainda segundo a Secretária de Estado, o ministério poderá não contar com as gerações mais antigas de docentes, "menos abertas à discussão da sexualidade", afirmando ainda que "haja professores com formação em Educação Sexual, mas que não conseguem avançar com projectos nas escolas devido a essas tendências".

Entrevistado por Sérgio Vitorino, Duarte Vilar, da Associação para o Planeamento e Família confiou ao Jornal de Noticias de 27.10.2000 as suas opiniões sobre este tema reconhecendo que a "Educação Sexual não é uma panaceia mas e um contributo para que os jovens possam tomar decisões conscientes quando precisarem de as tomar. (...) E não há receita mágica para todas as escolas a não ser o envolvimento de toda a comunidade educativa, incluindo os pais". Relativamente à legislação que suporta a Educação Sexual em contexto escolar, Duarte Vilar acrescenta ainda que estamos "perante uma boa lei, cujas reflexões técnicas resultam, aliás, de um longo processo de debate e projectos experimentais da APF". Pretendendo desfazer equívocos, Duarte Vilar esclarece que "não se pretende promover qualquer comportamento específico mas dar às crianças e aos jovens instrumentos para escolhas responsáveis", advertindo, contudo, para a necessidade de "avaliar daqui a uns tempos as dificuldades e eventuais vazios legais".

Nesta altura, muitos professores questionarão, e legitimamente, as suas capacidades para lidar com a Educação Sexual mas Duarte Vilar, relembrando que "nenhum professor é obrigado a fazer Educação Sexual", tranquiliza os docentes os quais "poderão contar com a ajuda dos técnicos", assegurando ainda que "a Educação Sexual não e nada de especial e prepara-se como qualquer outra actividade pedagógica, com objectivos e estratégias" e que o "a vontade para falar do tema aos jovens se ganha com a prática".

A mesma fonte ouviu André Pires e Diana Dionísio, dois dos milhares de alunos do Ensino Secundário que saíram à rua exigindo a Educação Sexual na escola. Sobre a natureza da Educação Sexual, Diana Dionísio exige que "ela diga a verdade sobre a diversidade das formas de viver a sexualidade e de relações afectivas e familiares, sem preconceitos ou tabus. É que às vezes parece que ainda nos querem fazer acreditar na cegonha". Quanto à aprendizagem normal dos jovens em matéria de sexualidade André Pires acrescenta que os "rapazes só falam entre rapazes e as raparigas entre raparigas, em contexto informal. As ideias erradas e as pressões para se assumirem determinados papeis persistem, e os tabus e as vergonhas também".

A formação em Educação Sexual devera ser extensiva a todos os professores, como reconhecem Diana e André. "Sem ela, a maioria dos docentes tenta fugir ao assunto", afirma Diana. No que concerne à intervenção dos pais, estes jovens não concordam que "uma minoria de pais possa vetar a existência de máquinas de preservativos nas escolas". Para Diana, "se os alunos quisessem a interferência dos pais na matéria, falariam com eles em casa sobre a sua sexualidade, mas muitos não encontram essa liberdade".

No mesmo artigo desta fonte, João Cruz, da Confederação das Associações de Pais, CONFAP, afirma a extrema utilidade da legislação que a confederação "só aceitou por esta determinar que é a escola - toda a comunidade educativa, incluindo alunos e pais - quem decide". João Cruz considera ainda que a Educação Sexual deve ser "voltada para a questão dos afectos e para o envolvimento dos centros de saúde, que têm muito a ensinar aos nossos jovens" sendo necessário "criar neles as condições para que façam um atendimento eficaz aos jovens e que a aplicação da Lei seja avaliada dentro de dois anos".

No Diário de Coimbra, de 10 de Novembro de 2000, o psiquiatra Daniel Sampaio sustenta que "a eficácia dos programas de Educação Sexual vai depender da forte ligação da escola à comunidade e do apoio dos pais". Para este psiquiatra, estas realidades são pouco consistentes em Portugal atendendo a que "a ligação entre escolas e comunidade é reduzida, a articulação com os centros de saúde é praticamente inexistente, a saúde escolar tem pouca expressão e os professores e técnicos de saúde pouco cooperam".

Daniel Sampaio acrescenta ainda que "a falta de formação dos professores, a dificuldade em apresentar projectos originais relacionados com o contexto local e a insuficiência e indefinição dos materiais de apoio poderão complicar esta missão. Daniel Sampaio critica também as "orientações técnicas sobre Educação Sexual em meio escolar", realçando "a sua falta de flexibilidade, utilização de expressões equívocas e opções discutíveis e inexistência de definição de objectivos". E conclui, advertindo que é "necessário agir com prudência", pois "um início errado pode lançar o descrédito sobre o tema, comprometendo as acções futuras".

Numa perspectiva diferente, no Diário de Coimbra, de 10.11.2000, Rui Rosas da Silva no seu artigo "Educação Sexual nas nossas escolas", considera que "o Ministério da Educação e o Governo que o sustenta, partem da premissa dogmática de que é inevitável que os jovens tenham relações sexuais". Dos riscos que tais relações acarretam, "cabe ao Ministério da Educação protegê-las a partir das escolas, tentando, no entanto, torná-las o mais prazenteiras possíveis: a sexualidade dos rapazes e das raparigas, por força da natureza, é bom não esquecer, pode ser reprodutora", conclui Rui Rosas da Silva. O mesmo autor continua referindo que "o Ministério não alerta os alunos para viverem de acordo com qualquer critério de continência e, muito menos, de castidade, como ultimamente tantas autoridades públicas o tem feito noutras terras bem mais avançadas do que a nossa. Facilita-lhes a prática sexual, minorando-lhe ao máximo os perigos da concepção. Para o efeito, explica-lhes nas aulas como se realiza a cópula sem perigo de engravidar, e põe à disposição dos estudantes preservativos nas escolas, a fim de que os actos que eles efectuem sejam, simultaneamente, inócuos, quer sob o ponto de vista da higiene venérea, quer da fertilidade natural. (...)". Rui Rosas da Silva questiona ainda a obrigatoriedade curricular da educação sexual, tal como a lei prevê, porque "retira a uma boa parte dos pais Portugueses o direito de dizer não a um Governo e a um Ministério que lhes impõem matérias atentatórias dos seus princípios ético-educativos fundamentais".

Em entrevista ao Diário de Coimbra, de 22.10.2000, D. João Alves, Bispo de Coimbra, defende "que a informação e educação acerca da sexualidade fazem-se melhor na família, quando ela esta verdadeiramente preparada para esta sua importante missão" pois aí "reinará um clima de confiança, de equilíbrio, da responsabilização de cada um, em doação espontânea e feliz" que toma "fácil a formação progressiva conforme os problemas vão aparecendo e a progressividade é regra de ouro a nunca desrespeitar". Não desprezando a informação que - como adverte - "deve ser dada na altura própria e pelo modo mais adequado", D. João Alves salienta que ao "falar-se de sexualidade, a educação há-de levar a que ela seja a energia positiva e enriquecedora e não força perturbadora e anuladora do verdadeiro desenvolvimento pessoal". Contudo, D. João Alves acrescenta que "num clima de pansexualismo com reflexos graves sobre os jovens " é "incontestável que muitas famílias não têm condições para fazer uma boa formação de seus filhos e particularmente no campo da sexualidade".

Compreendendo o contexto em que emerge agora a promoção da Educação Sexual dos adolescentes, até porque "os efeitos negativos estão aí à vista em tantos jovens", D. João Alves acolhe a nova regulamentação com alguma preocupação "atendendo as numerosas tendências e ideologias entre os professores, por vezes contraditórias; atendendo à impreparação e à imaturidade de alguns professores; atendendo à fraca ligação da escola à família, etc., etc." o que, segundo o bispo de Coimbra, "não facilitará a formação de uma estrutura definida de pensamento e de critérios seguros de vida". "Cresce por isso o valor das associações de pais em colaboração com as escolas de seus filhos (...)" que poderão "prestar uma ajuda inestimável", sustenta D. João Alves, que exorta a escola a desenvolver um grande esforço (...) para provocar essa ajuda e a acolher, e para os pais saírem de uma atitude apática e de desinteresse por este trabalho".

Estamos a iniciar um processo educativo inédito no nosso pais cuja importância parece inquestionável mas convém não esquecer, como lembra Rui Rosas da Silva, que "toda a Cândida inocuidade das iniciativas deste tipo, como se está a verificar em muitos países onde ela se instalou, nem se tem mostrado inofensiva nem favorável a saúde publica".

In Boletim n.º 15 da Associação de Professores de Biologia e Geologia, de Dezembro de 2000.

(1) Presidente da Direcção Nacional da APPBG e Directora do Boletim.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Consulta de Ginecologia

A primeira consulta de Ginecologia deve acontecer no início da adolescência, independentemente de a jovem em questão ter ou não iniciado a sua vida sexual. O(A) ginecologista é um(a) médico(a), um(a) profissional que é a fonte mais fidedigna de informação correcta no que toca à sexualidade e à saúde reprodutiva. É a ele(a) que se pode e deve fazer todas (mesmo todas) as perguntas, por mais embaraçosas, patetas ou até escabrosas que elas nos pareçam. E é na posse de informação correcta que, sem medos nem mitos, poderemos disfrutar de uma vida sexual plena (num contexto de muito amor).

As consultas de Ginecologia existem nos Centros de Saúde, Hospitais e, claro, em consultórios privados. Se não houver uma recomendação (a situação mais comum) por parte de uma familiar ("eu vou ao da minha mãe") ou amiga, é sempre possível pedir o conselho do Médico de Família. Ou, em alternativa, ir a uma consulta de Planeamento Familiar.

Não existe uma "idade certa" para a primeira consulta - depende da maturidade psicológica e física da jovem em questão. É desejável que a decisão de consultar o ginecologista seja tomada em conjunto com um adulto (mãe, irmã, avó...) que a acompanhará nessa consulta. É comum que a primeira consulta surja associada ao aparecimento da primeira menstruação.
No entanto, se estes cenários "ideais" não se concretizarem, é inadiável uma ida ao ginecologista após a primeira relação sexual.

O que acontece na consulta?
Na primeira consulta, em primeiro lugar, são feitas perguntas de rotina, para que o médico conheça a história clínica da paciente. Perguntas como: quando surgiu a primeira menstruação; se o ciclo menstrual é regular; se a menstruação é acompanhada de dores mais ou menos fortes; se já teve relações sexuais; se utiliza algum método contraceptivo; se já teve alguma gravidez, bem ou mal sucedida; se existe alguma doença crónica na sua família, entre outras.

No caso de já ter iniciado a actividade sexual, além da habitual colpocitologia (o célebre exame de Papanicolau), feita durante o exame ginecológico de rotina, pode ser feito um rastreio mais fino às doenças sexualmente transmissíveis. É também esta a ocasião mais indicada para uma conversa sem preconceitos sobre o método anticonceptivo mais eficaz a utilizar para esta jovem, em particular.

Nas consultas de rotina faz-se o exame ginecológico. Atenção! O exame não dói! Trata-se, afinal, de um exame ao corpo, neste caso, a uma parte específica. Um dos aspectos mais importantes deste exame é que a mulher tenha confiança no seu ginecologista e não lhe esconda nada do que sentiu ou está a sentir durante o exame. Se for a primeira vez e se sentir mesmo insegura, a jovem pode pedir ao médico que lhe explique o que vai fazer. Qualquer bom médico o fará sem problemas.

Para fazer o exame, a mulher fica deitada de costas na mesa ginecológica, com os pés apoiados num suporte e as pernas afastadas.
Durante o exame o médico usa sobretudo as mãos (enluvadas), podendo recorrer a alguns instrumentos, como o espéculo (para facilitar o acesso e visibilidade na zona vaginal) ou a espátula (para retirar amostras citológicas). É também feito o toque bi-manual, exame durante o qual o médico introduz dois dedos na vagina, ao mesmo tempo que colca a mão sobre o abdómen, a fim de sentir os órgãos genitais (como o útero) e sentir se há alguma alteração (de posição, por exemplo) significativa a assinalar.

O exame termina, as amostras vão para o laboratório e, mais tarde, o ginecologista analisará os resultados.

E, para finalizar, algumas ideias erradas que ainda existem na cabeça de muitas pessoas:
1. O exame ginecológico não dói.
2. O toque bi-manual não provoca perda de virgindade.
3. Os instrumentos utilizados, nomeadamente o espéculo, também não provocam a ruptura do hímen, sobretudo porque o seu tamanho varia com as características anatómicas da mulher.

domingo, 11 de setembro de 2011

Adolescentes e homossexualidade

A questão da homossexualidade não é nova mas foi principalmente na última década que se verificou um crescente interesse no seu estudo e análise. E não é por acaso que isso acontece, nas sociedades ocidentais - e falamos apenas delas - neste dado momento concreto. O emergir da discussão sobre os direitos individuais e o maior respeito pelas determinações e orientações de cada um, a introdução da questão "HIV", bem como os dados científicos baseados na evidência, permitem debater este assunto com maior lucidez, objectividade e sem tantos preconceitos como os que, nas sociedades ditas "ocidentais", impediram durante muito tempo uma leitura imparcial e rigorosa da questão.


Como definir "homossexualidade"?
Provavelmente, cada Leitor terá a sua própria definição do que é a homossexualidade, se é apenas dizer que uma pessoa do mesmo sexo é bonita ou interessante, ou assumir publicamente a sua preferência por um companheiro do mesmo género. E aqui convém dizer que falamos de ?género? e não de ?sexo?, que são coisas ligeiramente diferentes, dado que têm a ver com o papel e a representação psicológica e social, e não exclusivamente com a anatomia.

Em todo o caso, pode-se designar homossexualidade como a atracção sexual, emocional e afectiva de pessoas de um género por pessoas do mesmo género, como parte de um continuum da expressão sexual. Muitos adolescentes têm relações homossexuais como parte da sua aprendizagem, experimentação e conhecimento do corpo. Por outro lado, muitos dos homens e mulheres homossexuais tiveram as suas primeiras experiências durante a adolescência, tendo sido no final desta que as suas determinações e opções se consolidaram. De qualquer forma, este tipo de relações nesta idade não tem qualquer ?valor predictivo?.


Os porquês da discriminação
Se sempre existiu homossexualidade nas sociedades humanas, poder-se-á perguntar porquê a reacção de rejeição tão veemente (em algumas sociedades, designadamente as ocidentais, repito, dado que esta questão é pacífica em muitas regiões do mundo). Bom. Sem querer esgotar o assunto, valerá a pena referir duas ou três coisas: por razões que a antropologia facilmente explica, associadas ao desígnio de contribuir "a todo o custo" para a continuação da espécie, esta forma de orientação sexual foi quase sempre reprimida ou pelo menos olhada de esguelha - como, aliás, o era o facto de uma mulher não conseguir ter filhos, o que levava inclusivamente a ser expulsa da tribo ou do clã.
Por outro lado, não se pode ignorar a contribuição decisiva de praticamente todas as religiões e as condenações e culpabilizações inerentes a quem cometia esse "pecado". Finalmente, como os homossexuais representam uma minoria, a maioria que, durante milénios, quis equiparar a verdade universal às suas "verdades" próprias, exerceu essa ditadura que passava pela humilhação e exclusão (e até erradicação) de quem fosse diferente. E ser diferente num assunto "tabú" ainda é mais complicado e gera atitudes mais repulsivamente agressivas.


O mundo está (felizmente) a mudar
Com o evoluir das sociedades, quando hoje em dia não ter filhos já não lança ninguém no opróbrio, quando as liberdades, direitos e garantias individuais são promovidas e não apenas as da comunidade como um todo, a questão da homossexualidade, tal como muitas outras, tornou-se objecto de debate e de discussão. E se, por um lado, ainda se observam frequentemente atitudes segregacionistas e de exclusão (algumas vezes de auto-exclusão), é crescente a tolerância e mesmo a normalidade com que o assunto é felizmente encarado. Para isso tem contribuído a afirmação pública de pessoas e individualidades de várias áreas da ciência e da cultura relativamente ao facto de serem homossexuais. Há uns anos não se admitiria que, por exemplo, um ministro de um governo fosse assumidamente "gay", o admitisse publicamente e continuasse a ser ministro. Hoje já o é, em alguns países.

Não se trata portanto de dizer paternalisticamente que "o que cada um faz é da sua conta" e que "temos que ser tolerantes", mas francamente, de muito mais: o de entender que a sociedade é composta por indivíduos diferentes, na cor, no tamanho, nas capacidades, na orientações sexuais e nas opções e estilos de vida. E se os determinantes dessas diferenças são genéticos, ambientais ou um misto dos dois, dependerá muito do tema e do que a ciência consegue (ou não) adiantar sobre o facto. E consegue muito pouco?

De facto, ainda há não mais do que vinte anos, a homossexualidade era definida como uma "doença mental" por Academias de Psiquiatria tidas como cientificamente irreprováveis - afinal provaram que não eram tão irreprováveis como isso? e o que é confrangedor é ver que, ainda hoje, se assiste a classificações deste tipo.


A homossexualidade não é uma questão de escolha
Cada vez mais se entende que a homossexualidade, como uma das possíveis orientações sexuais, não é uma questão de escolha, ou seja, não se escolhe ser homo, hetero ou bissexual. É-se, apenas e tão só, embora permaneçam desconhecidos os determinantes dessa orientação. O que já pertence ao capítulo das opções pessoais é a forma de comportamento e os estilos de vida que as pessoas, homossexuais (ou não) adoptam, designadamente o tipo de experimentação sexual e o viver (ou não) uma vida com relações homossexuais assumidas. Por outro lado, é bom que fique claro que as experiências homossexuais, masculinas e femininas, durante a adolescência, não são, para a larga maioria dos jovens, um factor predictivo da sua orientação futura.
No que se refere à prevalência desta situação, embora alguns relatórios tenham indicado estimativas, em adultos, de cerca de 4% para os homens e 2% para as mulheres, desconhece-se a taxa na adolescência e estas prevalências variam enormemente de região para região e de comunidade para comunidade, muito dependente do grau de aceitação social e até político.


As mesmas necessidades e padrões de desenvolvimento
Os adolescentes homossexuais partilham os mesmos padrões de desenvolvimento dos seus congéneres heterossexuais, designadamente o estabelecimento de uma identidade sexual, a decisão sobre os comportamentos, a gestão dos afectos, as opções relativas a ter ou não relações, de que tipo e protegidas ou não, etc. Os riscos que correm, relativamente às doenças de transmissão sexual, como a infecção a HIV ou outras, exigem as mesmas estratégias de educação para a saúde. Assim, os cuidados antecipatórios que se debatem com qualquer adolescente não devem excluir nenhum, independentemente das suas opções e orientações que, como se afirmou, podem até não querer dizer coisa nenhuma em relação ao futuro. Por outro lado, e como já referimos, sendo uma minoria na sociedade os homossexuais estão sujeitos a uma pressão social e a um "empurramento para a clandestinidade" que pode trazer um menor acesso aos serviços, um maior desconhecimento da informação credível e de rigor e, também, um aumento dos problemas psicológicos e sociais, numa adolescência já pontuada por dúvidas, angústias e "duelos" entre modelos de vida, de comportamentos, de relações e de concepções de sociedade.


Problemas a vários níveis?
Os problemas psicossociais derivam fundamentalmente do fenómeno de exclusão, vergonha (é preciso ver que ainda vivemos em sociedades onde os conceitos religiosos, mesmo nos não praticantes e não crentes, tem um peso extraordinário em pequenas coisas do dia-a-dia, mesmo que já não nas grandes decisões e opções), estigmatização social, hostilidade, etc. Aliás, não é por acaso que o risco de suicídio é muito superior para os adolescentes homossexuais, mesmo descontando outros factores do contexto social que possam também ser geradores de situações depressivas.

Muitas vezes, o comportamento exibicionista, associado a uma vontade de afirmar que "também se faz parte da sociedade", afasta e segrega mais as pessoas - mas é paralelo e "tão sem graça" como o comportamento exibicionista de um par heterossexual.
É fundamental, assim, ter uma atitude de instilar segurança à medida que os adolescentes formam a sua identidade sexual, sem rotulações precoces e imediatistas. Há uma evolução no processo de orientação sexual e, tal como para os adolescentes heterossexuais, não podemos confundir relações sexuais com sexualidade. A questão dos afectos é fundamental, dado que a expressão desses mesmos afectos é socialmente mal vista e pode limitar os impulsos amorosos que, se fosse o caso de um par heterossexual, até poderia ser motivo para uma fotografia ou um cartaz socialmente e esteticamente (e politicamente) "correcto".


A família e a sociedade
Não é apenas a nível da sociedade que um adolescente homossexual encontra problemas, pelo contrário. A nível da família e do grupo de amigos as atitudes hostis e de incompreensão, ou de humilhação e até agressividade podem ser a regra. O desprezo a que podem ser votados leva, muitas vezes, a sofrerem assédios, ataques e outros tipos de situações, desde "partidinhas dos colegas" e brincadeiras de mau gosto até violência inter-pares. Por outro lado, a estigmatização e os preconceitos podem impedir uma socialização completa, com repercussões no desenvolvimento (a todos os níveis), na escolaridade e no sucesso educativo, e na integração laboral, conduzindo a maior secretismo e exclusão. Não são raros os empregos onde os homossexuais têm que esconder as suas opções afectivas mas, por outro lado, "aguentar" todas as anedotas e piadas relativas às pessoas que se sentem atraídas por outra do mesmo sexo. Todos estes factores levam a que os homossexuais, principalmente os masculinos, sejam mais facilmente "conduzidos" para estilos de vida e opções de maior risco, marginalização e, no fundo, menor realização pessoal, profissional e falhas no seu bem-estar.

Os pais, por outro lado, sentem-se quase sempre frustrados e muitos "nem querem ouvir falar do assunto", fechando as portas ao diálogo e recusando aos filhos adolescentes direitos fundamentais: o da partilha dos seus problemas e o de poderem assumir a sua orientação sem serem por isso penalizados ou até mesmo expulsos do lar. É por isso que é necessário desdramatizar o assunto e falar abertamente nele - afinal, há tão pouco tempo uma coisa tão diferente e tão menor como uma criança ter piolhos era ainda escondida e geradora de vergonha nas famílias?

Temos que evoluír para uma cidadania plena? É normal na adolescência haver uma certa "ambiguidade" quanto à orientação sexual, resultante não apenas da necessidade de experimentação e de condutas de ensaio, como das várias hipóteses afectivas que se colocam a qualquer jovem. A amizade, por exemplo, pode ser confundida pelo próprio com amor, sobretudo para quem nunca experimentou certas sensações e sentimentos. O que é importante é que os jovens não se sintam culpabilizados ou pressionados, e que tenham acesso às fontes de informação sobre sexualidade, relações sexuais, planeamento familiar, doenças de transmissão sexual, ou seja, exactamente a mesma informação que todos os outros jovens.

As sociedades estão sempre em evolução - veja-se a diversidade de culturas, hábitos e conceitos que existem no mundo (como já afirmei, convém não reduzir o mundo ao que se faz e vive nos países "ocidentais"). Cada sociedade define as suas regras, certas ou erradas, conforme o sentir e o pulsar do momento. Com a rapidez da evolução tecnológica e da comunicação, também os valores e regras se alteram com maior facilidade e em períodos de tempo mais curtos. A discussão dos problemas, aberta e directa, como acontece nas democracias, permite acabar com tabús e situações injustas e de segregação.
A homossexualidade é um dos assuntos que, certamente, sofrerá uma evolução nos tempos mais próximos, no sentido de desdramatizar e de aceitar que nem todas as pessoas têm que ter as mesmas opções, sejam elas determinadas por condicionantes genéticos, ambientais, educativos, sociais ou quaisquer outros. Viver numa sociedade que aceita a diferença é uma forma de promover a cidadania e os direitos individuais e colectivos.