Pode até parecer mentira, mas a verdade é que, em pleno século XXI, ainda há muitos jovens sem informação no que diz respeito à sua própria sexualidade. Mas, mais do que falta de informação, é o medo de assumir a vida sexual activa e a falta de espaço para a discussão dos valores com os pais/adultos que, muitas vezes, acaba por levar à gravidez indesejada.
Claro que também há gravidezes falsamente indesejadas, geradas pela necessidade de afecto das raparigas ou para forçar o parceiro a assumir a relação. Esta ocorrência culmina com as gravidezes que se dão para serem o pretexto de a rapariga poder sair de casa, deixar o seu meio familiar, quase sempre desestruturado e desequilibrado, movida pelo sonho de encetar uma vida nova em que tudo será feliz e harmonioso. Não é regra. Infelizmente esses sonhos quase nunca se tornam realidade...
A adolescência é (ou deveria ser) um período de descoberta do mundo, dos amigos, de uma vida social mais ampla (já se pode até ir à discoteca sem ter os pais sempre a melgar!)... Assim, a gravidez pode interromper, na adolescente (falamos no feminino, porque normalmente é a rapariga que acaba por se privar das suas actividades para cuidar da gestação e da criança), esse processo de desenvolvimento que é próprio da idade.
Acrescem as responsabilidades e há que assumir o papel de adulta, já que se vê "obrigada" a dedicar-se aos cuidados maternos. O prejuízo é duplo: nem é uma adolescente plena, nem será inteiramente adulta!
Mas, ao contrário do que acontecia anteriormente, a informação até está muito mais disponível para os jovens. Abriu-se a discussão da sexualidade e até já há escolas com programas de Educação Sexual. Mas, por incrível que pareça, a situação mantém-se.
Mas afinal, poder-se-á perguntar, se há tanta disponibilidade de informação, por que é que o número de mães adolescentes não se reduz?
Bom, não é lá muito fácil responder a esta pergunta! Afinal de contas, cada caso é um caso. Mas uma coisa é certa: os adolescentes têm, hoje em dia, o acesso facilitado à pílula anticoncepcional e ao preservativo. Os meios de comunicação social e as escolas estão sempre a fazer campanhas de sensibilização, os centros de saúde estão à disposição para tirar toda e qualquer dúvida que possa existir...
No meio de tanta disponibilidade, parece que o problema é os adolescentes ainda não terem assumido a atitude que faz a prática ser eficiente. Ou seja, a partir do momento em que têm acesso à informação, este acesso deveria despoletar uma atitude: a de pôr em prática os conhecimentos adquiridos. Mas infelizmente isso não acontece!
Muitos jovens ainda têm a ideia que com eles não acontece nada de mal - nunca. Esse tipo de coisas acontece sempre aos "outros"! De facto, não é raro ouvir uma mãe adolescente afirmar que "nunca pensei que isto me pudesse acontecer, embora soubesse que podia engravidar".
Este tipo de atitude pode ser designada "pensamento mágico". É verdade, não riam. É um momento em que a dimensão temporal, as atitudes, não são pensadas. E como "não há a menor possibilidade disso acontecer comigo" ou, na versão mais comum, "isso só acontece aos outros", os adolescentes vão deixando acontecer...
E quando descobrem que estão grávidas, a maior parte das adolescentes passa por momentos de grande angústia e tensão. Têm medo de contar ao namorado (se é que a relação é estável), de contar aos pais ou que os amigos descubram e as isolem. A opção, para muitas, é o aborto, feito às escondidas, muitas vezes sem dizerem nada a ninguém.
Outras optam (seja por medo, seja por falta de recursos financeiros, ou até devido às suas convicções) por enfrentar tudo e todos e ir avante com a gravidez. Tanto umas como outras acabam por marcar irremediavelmente as suas vidas: forçam-se casamentos, interrompem-se planos de vida e as crianças, mesmo que sejam muito amadas, são um "imprevisto" que fica para sempre.
Também acontece muitas vezes o medo da jovem levá-la a esconder a gravidez até às últimas consequências. Nesses casos, a falta de um acompanhamento médico desde o início da gravidez, pode trazer complicações, tanto para a mãe como para a criança.
Para as jovens que decidem ter o filho, a fantasia deixa de existir para dar lugar à realidade na hora do parto. É um momento muito delicado que pode gerar medo, angústia e rejeição.
E, quando não há apoio da parte da família, companheiro e amigos, o futuro da adolescente fica seriamente comprometido. Interrompem-se os estudos (muitas vezes até definitivamente) e hipoteca-se a oportunidade de arranjar o emprego/carreira dos seus sonhos...
Viver simultaneamente a própria adolescência e ser pai também não é tarefa fácil. Da mesma forma, o jovem adolescente que se torna pai vê-se envolvido na dupla tarefa de lidar com as transformações da idade e as da paternidade, que requerem trabalho, estudo, educação do filho e cuidados com a companheira, esposa ou "apenas" mãe do seu filho.
A somar a isto, quando a relação não é estável ou foi apenas uma aventura, as relações entre duas famílias que "não têm nada em comum excepto a criança" podem ser muito tensas e até hostis... E quem sofre? Não, não é só a criança. São todos!
E, apesar de todas as dificuldades que advêm da gravidez indesejada na adolescência, não é raro ouvir dizer que os programas de Educação Sexual nas escolas só servem para despertar o interesse aos adolescentes. Como se, ao aprender como se utiliza um preservativo, se fosse a correr experimentar ter relações sexuais!!! Na verdade, quanto mais informação os adolescentes tiverem, quanto melhor for a qualidade da mesma, mais condições estes terão de fazer as escolhas correctas para não prejudicar a sua vida.
Mas dar apenas informações técnicas aos jovens não basta! É muito importante que também sejam orientados em casa, na família. É essencial que possam fazer perguntas, conversar com amigos e parentes mais velhos e aconselhar-se quanto à escolha do melhor método contraceptivo. O importante é que falem e sejam ouvidos (e não julgados)!
Nenhum comentário:
Postar um comentário