O período que decorre entre o nascimento e a aquisição da linguagem é um período marcado por um extraordinário desenvolvimento mental. De acordo com Piaget (1978), esta fase nem sempre é devidamente reconhecida por não ser acompanhada pelo desenvolvimento da linguagem, o que não nos permite seguir o progresso da inteligência e dos sentimentos, como acontecerá mais tarde? (Piaget, 1978:18).
Este período mostra-se decisivo para todo o desenvolvimento posterior, pois, em dois anos, a criança ganha um conjunto de novas e importantes competências, como seja o aparecimento da marcha, o início da linguagem e do controlo dos esfíncteres. Todas elas tornam a criança mais independente e com maior capacidade de explorar o meio.
Se a primeira fonte de prazer corporal se encontra na região oral e a amamentação é, sem dúvida, uma fonte de prazer expressivo para o recém-nascido, com o desenvolvimento e maturação do sistema nervoso central, e com a gradual aquisição da coordenação motora, a criança lança-se à descoberta do seu corpo e dos prazeres que este lhe proporciona (Piaget, 1978; Felix, 1995; Lopez & Fuertes, 1999; Strecht, 2001).
É um facto da observação quotidiana que os bebés e as crianças mexem e interessam-se pelos seus órgãos genitais. Esta ?masturbação? (entende-se esta masturbação infantil como a manipulação dos órgãos genitais, observável nos rapazes a partir dos 6/7 meses e nas raparigas a partir dos 10/11 meses; no entanto, e de realçar que autores como Bakwin (1973) e Kinsey (1953) apontam para a existência de orgasmos a partir dos 6 meses (Pereira, 1987)) infantil conduz a sensações que vão do prazer à curiosidade (Lopez & Fuertes, 1999).
No entanto, estas actividades não são, nesta fase, reconhecidas como manifestações precoces da sexualidade e, portanto, não são reprimidas pelos adultos, pois a sociedade não reconhece o exercício da sexualidade não genitalizada.
Um outro aspecto importante e fundamental da sexualidade infantil são as relações entre o bebé e os adultos que lhe estão próximos (as figuras de apego. com as quais se operam os processos de vinculação). O apego, de acordo com Bowlby (1969), citado por Montagner (1993), é um sistema que garante os vínculos entre os progenitores e as crias, com fins de sobrevivência, mas que no ser humano tem um papel crucial. Bowlby entende a vinculação como a capacidade inata dos recém-nascidos se ligarem aos adultos que lhe estão próximos, sobretudo os que dele cuidam no dia-a-dia.
O bom desenvolvimento depende da qualidade dos vínculos, que por sua vez mediatizam a sexualidade ao longo de toda a vida e, muito particularmente, durante a primeira infância (Felix. 1995; Lopez & Fuertes, 1999).
A teoria da vinculação de Bowlby ajuda a compreender a nossa capacidade futura de estabelecer relações com boa qualidade afectiva através de padrões de vinculação seguros, o que significa um bom nível de auto-estima e um grau adequado de confiança nos outros (Strecht, 2001). O vínculo afectivo entre a criança e o adulto que a cuida (apego) implica sentimentos, comportamentos e um conjunto de expectativas que se forma durante o primeiro ano de vida.
Na experiência relacional com as figuras de apego, a criança adquire:
a confiança e a segurança que lhe permite abrir-se a contactos com o meio envolvente;
o uso e o significado de formas de comunicação íntimas e informais;
o uso e o significado de expressões emocionais; e
a capacidade de explicitar as suas necessidades, bem como a de satisfazer as necessidades dos outros.
Ao generalizarem estas experiências, as crianças vão posteriormente utilizálas em outras relações sociais, nomeadamente naquelas que impliquem afectos e formas de comunicação íntimas, como o namoro, as relações sexuais e a amizade (Félix, 1995, Lopes&Fuentes, 1999).
De uma forma simplificada e resumida, podemos dizer que as principais características da sexualidade nesta idade são:
1. Importância das figuras de apego nos processos de vinculação.
2. Actividades íntimas de satisfação oral ? mamar, chupar no dedo ? que podem ser entendidas como actividades eróticas não genitais.
3. Reconhecimento dos papéis sexuais, estabelecendo a diferença dos papéis atribuídos a um ou ao outro sexo.
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