terça-feira, 25 de outubro de 2011

Entrada dos jovens no mundo dos adultos

Remontando à criação do homem, o processo ritual acompanha a humanidade desde os seus primórdios. Reveladores dos valores mais profundos das comunidades, os rituais adquirem uma particular importância no debute no mundo adulto.

É um percurso individual, onde cabe o amor, a insegurança, a expectativa, a emoção e as sensações físicas. A maturidade, tanto emocional como física, passa por várias fases e as influências da família, dos amigos, companheiros e mesmo das mensagens implícitas ou impostas pelos meios de comunicação e grupos sociais podem originar reacções muito diferenciadas, o que poderá afectar a auto-estima do jovem.

A transição para a fase adulta e as mudanças consequentes, podem provocar tanto sensações de felicidade, êxtase e orgulho, mas também, de ansiedade, tensão, confusão e mesmo de algum desespero. É ainda uma fase de procura de informação fiável de busca de resposta para muitas questões. Neste processo de maturação, é decisiva a liberdade de escolha, a confidencialidade e o recurso a um apoio compreensivo.

No que diz respeito à questão da sexualidade, e apesar deste ser uma tema cuja importância vai sofrendo alterações ao longo da vida, para o jovem é algo que quase se impõe, independentemente da sua vontade. Mas é importante salientar que o jovem poderá não se sentir ou não querer ser sempre sexualmente activo.

Na maioria da sociedades, é um momento marcante, para a rapariga, a chegada da primeira menstruação. O seu comportamento poderá sofrer com as mudanças hormonais e as adaptações do seu corpo, num primeiro embate com a entrada nas responsabilidades do mundo adulto.

O ingresso neste mundo está intimamente ligada a ritos de iniciação, que se diferenciam entre regiões do mesmo país ou entre países, mas constituem uma importante parte da cultura, tendo lugar na puberdade e de formas separadas para rapazes e raparigas. Nestes momentos, simplesmente traduzidos, por exemplo, numa conversa entre um dos pais e o filho(a), ou adquirindo a dimensão uma cerimónia comunitária, pretende-se ensinar a lidar com a sexualidade e outros aspectos da vida adulta, ajudando a compreender um conjunto de mudanças ocorridas no corpo. Numa preparação para os desafios da vida em sociedade, os ensinamentos são transmitidos, consoante a tradição ou a oportunidade, pelos pais, pela família, por educadores, por pessoas mais velhas e de experiência reconhecida...

Um dos aspectos mais importantes do rito de iniciação, em algumas comunidades, é a circuncisão dos rapazes; um procedimento que deverá ser executado em segurança numa clínica com condições higiénicas e instrumentos esterilizados. É muito importante que os praticantes estejam a par dos riscos para a saúde e da dor associada a este procedimento.

Mas a entrada no mundo dos adultos implica muitas outras dimensões e acarreta consigo um primeiro contacto com algumas responsabilidades que farão parte da vida futura, mas que o jovem poderá recear. A escolha de uma profissão, o sair de casa, encontrar uma habitação, constituir família enfim, uma série de responsabilidades sociais, financeiras, de deveres e direitos com que o jovem, gradual ou abruptamente, se vai confrontando.

Fases de solidão, acontecimentos decepcionantes e insucessos podem ser traumatizantes e é essencial o devido acompanhamento da família, dos professores e companheiros.

O jovem prepara-se para dar entrada no mundo dos adultos, mas este é diferente do dos seus pais. As influências são marcadas pela actualidade, as experiências têm uma outro contexto, num crescimento marcado por uma dualidade entre dois percursos, social e individual, que se acompanham, por vezes, em conflito, outras de forma mais harmoniosa.



Bibliografia
Federação Internacional para o Planeamento Familiar
BBC World Service

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Assédio sexual

Olhares tão penetrantes que parecem despir, peça a peça, a roupa que se veste, toques despropositados, bilhetinhos cheios de segundas intenções e, em casos extremos, piropos que não deixam nada à imaginação. É assim que se descrevem os muitos casos de assédio sexual que, seguindo alguns testemunhos, ocorrem em vários locais de trabalho.

O assédio sexual não é uma brincadeira sem consequências e, muito menos, uma tentativa de aproximação romântica. O assédio é, isso sim, uma forma de agressão que, além de atentar contra a dignidade da pessoa a quem se dirige, também acaba por minar a sua própria relação com a função que desempenha na empresa.

E, se reparaste bem, até agora falámos nas vítimas enquanto pessoas, sem definir o seu género. Isto porque, apesar ser mais comum colocar as mulheres no papel de vítima de agressão (talvez devido à subserviência que lhes foi atribuída ao longo da História), a verdade é que também os homens passaram a ser alvo de assédio sexual.

Estranho, não é?... “Como é que uma mulher consegue assediar sexualmente um homem?”. Bom, tens que perceber que “assédio” não é sinónimo de agressão física (apesar de ser essa a conotação mais forte), mas sim de uma questão de poder abusivo.

Existe um filme protagonizado por Demi Moore e Michael Douglas (Disclosure - Revelação) no qual é transmitida a ideia de como é que um homem se pode tornar vítima de assédio sexual por uma superior hierárquica.

A pior consequência de uma situação de assédio é a perda do emprego e da credibilidade. Como poderás imaginar, alguém que não “colabore” com o assediador corre o risco de ver a sua posição na empresa ser posta em causa ou, pior, acabar por perder o emprego.

Mas o facto é que, apesar da situação descrita, frequentemente as vítimas não chegam a denunciar o assédio. Fazem-no porque temem ser completamente desacreditadas pelo assediador e tornar-se alvo de chacota geral. Outros não o fazem por medo ou por não saber o que fazer ou a quem recorrer nestas circunstâncias.

O facto é que é se torna difícil saber em que ponto é que um piropo (ou outra acção) ultrapassa os limites legais.
No entanto, mesmo sem existir uma fronteira legal, a vítima de assédio não pode simplesmente cruzar os braços e aceitar a sua (má) sorte de “bom” grado. A partir do momento em que não se denuncia um abuso destas proporções, passa-se a ser conivente com uma situação que, como já dissemos, pode piorar e passar das palavras aos actos (abuso físico).

Por isso, convém saberes que há atitudes a tomar caso esta situação de assédio se verifique:

Começar por deixar bem claro que esses avanços te são desagradáveis e que te recusas a participar.

Se mesmo assim o assédio persistir, tenta falar com amigos/familiares/colegas sobre o assunto. Não é boa ideia guardares os teus sentimentos só para ti. E, caso seja necessário mais tarde, terás alguém que te apoie.

Arranja provas que não deixem dúvidas sobre o que se está a passar. Grava conversas, guarda bilhetinhos ou e-mails comprometedores e, se conseguires, arranja uma testemunha.

Depois de reunires provas (isto é muito importante porque uma acusação de assédio sexual não deve ser feita de ânimo leve), deves dirigir-te à entidade patronal. O mais correcto será redigir uma denúncia escrita e enviá-la através de carta registada com aviso de recepção.

É importante apresentar queixa à CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego).

Informa o teu sindicato do que se está a passar para que te possa defender. Caso não sejas sindicalizado(a) faz queixa ao Delegado do Ministério Público do Tribunal do Trabalho ou da Comarca da tua residência.

Para terminar, deves apresentar queixa na GNR, PSP ou na Polícia Judiciária da tua área!


Como já percebeste, o assédio sexual é uma situação muito grave, por isso não deixes que se prolongue. Mesmo que não se passe contigo, se tiveres conhecimento de alguém que esteja a passar por esse problema, tenta ajudá-lo(a).

É preciso que haja uma mudança de mentalidades de forma a cimentar a igualdade e o respeito no local de trabalho. Faz a tua parte!

sábado, 15 de outubro de 2011

Escola e Educação Sexual

Comecemos por enquadrar a sexualidade. A sexualidade tem uma vertente emocional, sendo um elemento essencial na formação da identidade global, do auto-conceito, da auto-estima e do bem-estar físico e emocional de qualquer ser humano. É também uma componente essencial do relacionamento com os outros, nomeadamente no campo amoroso.

A sexualidade pode também estar associada a acontecimentos com uma carga negativa: gravidez não desejada, transmissão de doenças sexuais, episódios de violência e abuso.

A faceta mais marcante da sexualidade, no contexto escolar, é o facto de ser uma das características humanas mais determinadas e moldadas pelo processo de socialização. O que cada um de nós é, fantasia, deseja ou põe em prática a nível sexual é o resultado de uma processo de interacção e aprendizagem contínuo, realizado num contexto formal (a escola ou a religião, por exemplo) ou informal (os meios de comunicação social, são o exemplo por excelência).

Uma vez que todas as sociedades procuram, formal ou informalmente, transmitir valores fundamentais e normas de conduta no que à sexualidade toca, a Escola tem um papel a desempenhar neste âmbito, enquanto espaço privilegiado de socialização para as crianças e os jovens.

Voluntária ou involuntariamente, a Escola é um lugar onde se constroem saberes e que suscita vivências ao nível afectivo-sexual (“faça as contas” à sua vida sentimental e veja se não é verdade que conheceu a maior parte dos(as) seus (uas) namorados(as)… na Escola) e que não se pode furtar a uma abordagem:
- formal;
- estruturada;
- intencional;
- adequada;
de um conjunto de questões relacionada com a sexualidade humana, a qual é comummente designada Educação Sexual em contexto escolar.

Assim, cabe à Escola esforçar-se para:
- formar agentes educativos (professores, auxiliares de acção educativa, psicólogos,…) que ajam de forma adequada e coerente face às dúvidas que lhes são colocadas;
- abordar de forma pedagógica os temas da sexualidade humana, privilegiando o espaço turma;
- apoiar as famílias na Educação Sexual de crianças e jovens, envolvendo-as no processo de ensino/aprendizagem e/ou em actividades específicas;
- estabelecer mecanismos de apoio individualizado e específico às crianças e jovens que dele necessitem. Para terminar, a Escola não deve deixar de lado a estratégia de formação pelos pares, recorrendo a líderes de pares que, graças à sua capacidade de influenciar os outros jovens na sua forma de pensar e agir, podem contribuir de forma significativa para a Educação Sexual, nomeadamente no que diz respeito à prevenção de comportamentos de risco. Na programas de educação pelos pares que são bem sucedidos pesam-se os seguintes aspectos:
- os jovens tendem a imitar amigos/colegas que tomam como modelo;
- é frequente que os jovens ouçam o que esses colegas carismáticos (líderes) lhes dizem;
- estes líderes de pares podem influenciar o comportamento dos restantes jovens de forma positiva através do seu protagonismo e modo de agir;
- estes líderes de pares podem encorajar e apoiar os restantes, quer dentro quer fora da Escola;
- estes líderes podem funcionar como auxiliares do professor em actividades na sala de aula, ajudando colegas que trabalhem, por exemplo, em pequenos grupos.

É, porém, necessário frisar que em circunstância alguma deverão estes jovens assumir papéis que cabem a profissionais e técnicos adultos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"Primeira vez" com segurança

PERGUNTA:
Olá! Gostava de saber qual é o período fértil da mulher pois queria ter uma primeira vez segura. Tenho 14 anos e tenciono usar também o preservativo.
Estou a fazer alguma coisa errada? Será cedo demais?

RESPOSTA:
O período fértil são cerca de seis dias e situam-se a meio do ciclo menstrual. Se tiveres um ciclo de 28 dias, o período fértil situar-se-á entre o dia 11 e o dia 16, a partir do dia em que começou a tua menstruação.
Mas atenção! Nunca te fies só nisto! O ritmo do corpo da mulher varia de pessoa para pessoa, e há por aí muitas gravidezes que aconteceram durante o suposto período "seguro".

Se não queres mesmo engravidar, protege-te! Protejam-se! Usem o preservativo, por exemplo.

Cedo demais... Talvez.
É muito importante que nunca tenhas relações só porque sim, porque as outras pessoas têm. Deve ser só quando TU te sentires preparada e com a pessoa que escolheres e que te escolher.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Direitos Sexuais e reprodutivos no mundo contemporâneo

As palavras de Shakespeare na boca de Othelo tornaram-se clássicas e remetem-nos para a sempre presente questão da existência humana, para as suas dúvidas e angústias, as suas vississitudes e fragilidades. Quem nunca se terá, em algum momento da sua existência, questionado sobre o sentido da sua vida, sobre se lhe fazia sentido continuar a viver, sobre se existe algum propósito no facto de respirar, ter um coração que bate e, acima de tudo, um cérebro que pensa e que é a sede de todas estas dúvidas…? De um modo ou de outro, sabemos que é essa existência, é essa vida o que de mais precioso temos e que tudo o resto é supérfluo, secundário, dispensável. Todos os bens materiais do mundo não chegam para pagar uma vida humana que é, por definição, sem preço.

Se nem sempre este valor foi reconhecido como hoje, se ainda na actualidade em certos contextos culturais e em certas circunstâncias peculiares (por exemplo, na guerra) a vida humana pode ser posta em segundo plano em função de bens considerados maiores, sejam eles materiais, espirituais ou outros, o certo é que o direito à vida, em termos da política internacional como à luz das correntes ideológicas predominantes, é considerado como o principal dos direitos humanos. Lê-se na carta internacional dos direitos do Homem, logo no seu primeiro ponto que “todos os Homens têm direito à vida”. Vejamos a lista completa destes direitos:

1 - O direito à vida.
2 - O direito à liberdade e segurança da pessoa.
3 - O direito à igualdade e o direito a estar livre de todas as formas de discriminação.
4 - O direito à privacidade.
5 - O direito à liberdade de pensamento.
6 - O direito à informação e à educação.
7 - O direito de escolher casar ou não e de constituir e planear família.
8 - O direito de decidir ter ou não os filhos e quando os ter.
9 - O direito aos cuidados e à protecção da saúde.
10 - O direito aos benefícios do progresso científico.
11 - O direito à liberdade de reunião e participação política.
12 - O direito a não ser submetido nem a tortura, nem a tratamento desumano ou degradante.

Se a carta dos direitos humanos tem já vários anos de existência, em tempos mais recentes surgiu a necessidade de salvaguardar outro tipo de direitos. Referimo-nos aos direitos sexuais e reprodutivos que são o conjunto de princípios relacionados com a sexualidade e com a saúde sexual e reprodutiva que todos os indivíduos deverão ter garantidos. Não por acaso, quando se começou a pensar em criar esta lista, foi na anterior, ou seja, na dos direitos humanos onde mais do que inspiração, se foi buscar o mote para desenvolver um conjunto de princípios que se considera necessário salvaguardar.

Deste modo, no que respeita ao referido direito à vida, ele foi utilizado para reforçar algumas das questões que se têm colocado a este propósito no que se refere à questão do género. Exemplos disso são que a vida de nenhuma mulher não deverá ser posta em risco devido à gravidez, ou que a vida de nenhuma criança deverá ser posta em causa devido ao seu género, masculino ou feminino. Sabemos que, ainda hoje existem situações de grandes inequidades relacionadas com o facto de se nascer com um sexo masculino ou feminino. Em alguns contextos culturais, ser-se mulher pode ser um factor de risco. Mesmo em contextos considerados mais “evoluídos”, o género continua a ser um factor de desigualdade, existindo contextos em que se proporcionam maiores condições e possibilidades aos níveis familiares (saídas das raparigas à noite), sociais (o que é permitido a uns e outros fazer em contextos sociais – para as mulheres certos comportamentos podem fazer com que sejam vistas como “mulheres mal comportadas”), profissionais (que profissões são mais acessíveis a indivíduos de que género).

Por este motivo, um dos direitos consagrados pela legislação de diversos países é o da não discriminação baseada do sexo. O que não significa necessariamente que esse direito seja garantido a todas as pessoas. De resto, se optou por introduzir este direito também na carta de direitos sexuais e reprodutivos, tal implica necessariamente que esse é ainda um direito que não se encontra plenamente verificado por esse mundo fora. Caso contrário não seria necessário salvaguardá-lo. Por outro lado, não será alheio a este cuidado de quem elaborou a lista o facto de que a sexualidade é algo intrinsecamente humano. Desde que nascemos que somos seres sexuados e sexuais. Sexuados porque, como já foi reforçado, todos nascemos com um determinado sexo biológico, que cria toda uma série de expectativas, ainda antes de se nascer, na fantasia dos pais, potenciado pela tecnologia que permite que este tipo de informação esteja disponível a partir dos cinco meses.

Somos também sexuais porque desde que nascemos que temos uma tendência natural para gostar de experimentar o prazer. Além disso, o mundo da sexualidade não é constituído apenas da dimensão física e muito menos genital do sexo, mas enriquecida por toda uma dimensão imagética, fantasiada, vivida no âmbito do desejo e da atracção, do sonho e da sedução, e tudo isto mesmo que nunca se chegue a concretizar o acto sexual. É exactamente devido a toda esta dimensão da sexualidade que é importante pensar sobre a questão dos direitos sexuais e reprodutivos.

Sendo uma questão que pode parecer relativamente teórica e pertencendo à esfera da ideologia e eventualmente da política, ultrapassa em muito esta vertente e relaciona-se com a vida de todos nós de uma forma muito próxima. No que respeita aos direitos sexuais, como em relação aos direitos humanos, ou outros, temos sempre que ter em consideração que os direitos de uns terminam quando se iniciam os de outros. Se na actualidade é relativamente consensual o facto de que as pessoas têm relações sexuais eminentemente e na grande maioria das vezes por prazer, será o prazer sexual um direito de todos? A resposta aparentemente lógica a esta questão é que sim, ou seja, todas as pessoas têm direito a ter prazer sexual. Mas e se a minha forma de ter prazer interfere com o bem estar de outros, será que se mantém este direito? O exemplo talvez mais actual desta questão é o da pedofilia. Um pedófilo é, por definição, um indivíduo que se excita sexualmente e que tem desejo sexual por crianças e pré-adolescentes. A sua forma preferêncial de ter prazer sexual é, assim, através das relações sexuais com menores. Terá este indivíduo direito a concretizar as suas fantasias e desejos? De acordo com muitos destes indivíduos, a resposta é que sim. De acordo com a maioria das restantes pessoas e de acordo também com a legislação vigente ma maioria dos países, a resposta consensual é que não. Neste caso em particular o direito que um indivíduo tem em ter prazer não é superior à possibilidade de, através desse acto, ser posto em causa o bem-estar e equilíbrio de uma criança.

Um outro exemplo, relacionado com situações que, à semelhança da pedofilia, não são frequentes, mas que vão encontrando alguma expressão em alguns meios, nomeadamente entre os mais jovens. Refiro-me ao sadomasoquismo, ou seja, a todas e quaisquer práticas em que se utilize a indução de dor, humilhação e sofrimento sobre outra pessoa ou sobre si próprio com o objectivo de obter gratificação sexual. Têm as pessoas sadomasoquistas direito aos seus (des)prazeres? É legitimo provocar dor noutras pessoas ou em si próprio para satisfazer as suas fantasias? Durante muito tempo o sadismo e o masoquismo foram considerados como perturbações mentais, como perversões do desejo e portanto como desvios do comportamento sexual considerado “normal”. Porém, o que é considerado normativo num dado momento deixa de o ser num outro e é sempre importante que existam outros parâmetros que nos permitam qualificar um dado comportamento ou preferência como “anormal”. Em relação à pedofilia, já vimos que no momento actual se consideram os direitos da criança ao bem-estar e à protecção como superiores aos desejos de outrém, fazendo com que o desejo do pedófilo seja considerado perturbado. Em relação ao sadomasoquismo, a posição é um pouco diferente, desde que seja praticado entre adultos que consintam em envolver-se nesses comportamentos e também que não sejam motivo de preocupações e angústias que interfiram com o bem-estar subjectivo do indivíduo. É certo que isto se passa ao nível do que é actualmente mais consensual entre os profissionais da saúde mental, e não propriamente ao nível do senso comum em que o olhar sobre este tipo de práticas é ainda pesado.

Mas nem precisamos de recorrer a exemplos tão extremos para continuarmos a discutir as questões dos direitos sexuais. Refiro-me à questão da livre associação amorosa, ou seja, supostamente todos temos o direito de nos relacionarmos amorosa e sexualmente com quem quisermos (e também com quem se queira relacionar connosco). O certo é que se a pessoa com quem optamos por nos relacionar é do mesmo sexo, as coisas mudam um pouco de contornos. Não é que seja proibido o relacionamento afectivo entre pessoas do mesmo sexo (ainda que a não discriminação com base na orientação sexual não esteja consagrada na lei), mas o certo é que o assumir publicamente de uma relação homossexual não é livre de riscos, quanto mais não seja do olhar crítico, chocado, divertido ou de desprezo dos outros. Mas, além disso, existe ainda o risco da discriminação ao nível profissional ou social isto apesar de, na maioria dos casos e, pelo menos entre nós, prevalecer a tradicional tolerância que, nunca deixo de reforçar, não é sinónimo de uma verdadeira aceitação, mas antes uma solução de compromisso devida aos laços afectivos que se tem em relação às pessoas em causa.

Outra área muito actual em que se colocam questões a propósito dos direitos sexuais e reprodutivos é a relativa ao corpo e a quem tem a autoridade ou a liberdade para agir sobre ele. Esta questão coloca-se, por exemplo, ao nível do transexualismo. Como é do conhecimento comum, o transexualismo é uma condição em que existe uma não coincidência entre o corpo biológico, muito em concreto entre os caracteres sexuais (primários e secundários), e a identidade sexual, ou seja, a consciência internalizada de que se é homem ou mulher. Assim, um indivíduo que tenha órgãos e características sexuais femininas pode sentir-se, do ponto de vista psicológico, como um homem. O que acontece é que, na maioria das vezes, essa pessoa vai ter o desejo de modificar o seu corpo em função da sua vivência interna do mesmo, ou seja, vai desejar efectuar uma mudança de sexo para se sentir bem consigo próprio. Se alguém decide fazer uma operação plástica para modificar, por exemplo, um nariz que se considera demasiadamente grande, recorre a um cirurgião desta especialidade, paga e fica com o nariz desejado, no caso de uma operação de mudança de sexo, é necessário um sem número de procedimentos, exames, avaliações, peritagens, para que se chegue à conclusão de que esse indivíduo está em condições ou não de fazer essa operação. Só para se ter uma ideia, é um processo que implica pelo menos 2 anos para estar concluído, isto na melhor das hipóteses e apenas se os peritos, os homens da ciência, decidirem que essa pessoa cumpre com os critérios pré-determinados para o efeito.

Podemos ainda dar um outro exemplo, talvez um pouco mais extremo, para esta questão em particular. Refiro-me à Apotemnofilia, condição de quem tem fantasias sexuais sobre ser amputado de um ou vários membros do corpo. Algumas destas pessoas chegam ao ponto de quererem passar as suas fantasias à prática e de optarem por fazer uma operação para que lhes sejam retiradas as pernas ou os braços, porque é assim que se sentem bem consigo próprias. A questão é: deverá ser-lhes concedido este desejo? Sabemos à partida que tal operação é irreversível e que irá implicar uma série de limitações para a vida do indivíduo, por exemplo, dificuldades na obtenção de um emprego, o que fará com que provavelmente tenha que viver da assistência social; terá certamente que ter uma série de cuidados de saúde especiais que serão que serão suportados pelo Estado. Terá essa pessoa direito de optar por si própria o que fazer em relação ao seu corpo? Quem é que é “dono” do seu corpo: o próprio, o Estado, os técnicos de saúde?

O caso da Apotemnofilia pode servir-nos apenas como um exemplo – extremo talvez – da forma como se salvaguardam ou não os direitos sexuais e reprodutivos dos cidadãos e, mais do que isso, de quem os salvaguarda. Se alguns dos direitos mais básicos, como os relativos ao género, são ainda sistematicamente postos em causa, quanto mais os outros que podem ser considerados como “luxos” ou extravaganças e, logo, como secundários, já para não mencionar aqueles que, exercidos por outros, podem ir contra as nossas convicções ideológicas ou religiosas, caso do aborto?

Há que não esquecer que qualquer direito implica também um dever, dever este que implica a salvaguarda da integridade e bem-estar do outro. Direitos sexuais e reprodutivos são também direitos humanos, ainda que não estejamos sensibilizados para pensá-los enquanto tal. Está, porém, na altura de o fazer e tal é tarefa da responsabilidade de todos nós, não só técnicos de saúde, como profissionais das áreas sociais e humanas, politicos, teóricos, investigadores, homens, mulheres, cidadãos.

domingo, 9 de outubro de 2011

Os jovens portugueses e a sexualidade. Passado, presente e futuro...?

Mil novecentos e sessenta e dois foi um ano como qualquer outro. A Terra deu 365 voltas sobre o seu eixo. Três biliões, cento e trinta e seis milhões, cento e noventa e sete mil, setecentos e cinquenta e uma almas dormiram, acordaram, trabalharam, estudaram, viveram. Muitas nasceram. Muitas outras terão morrido.

Enquanto na rádio, os Beatles cantam She loves you e I want to hold your hand desenrola-se a crise dos mísseis de Cuba, a Argélia torna-se independente da França após 8 anos de lutas e a Talidomida é retirada do mercado após ter-se descoberto que provocava deformidades no desenvolvimento do feto.

Em Portugal, dá-se uma tentativa de golpe de estado em Beja e, em Lisboa, surge alguma agitação estudantil originada pela proibição das celebrações do Dia do Estudante pelo Governo, o que, por sua vez, leva à demissão de Marcelo Caetano da Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa.

É realizado o filme "Verdes Anos" de Paulo Rocha que retrata uma certa juventude lisboeta, desesperada e oprimida. Esta película é, aliás, um dos poucos momentos em que, durante o Estado Novo, o cinema nacional se terá sintonizado com a realidade portuguesa, espelhando-a de uma forma clara e realista. A película conta-nos a história de Júlio, um rapaz de 19 anos recém chegado a Lisboa vindo da província, que começa a trabalhar como aprendiz de sapateiro. Conhece e começa a namorar Ilda, uma empregada interna numa casa particular. O namoro decorre de uma forma lenta e é Ilda quem tem as principais iniciativas de sedução.
Júlio começa aos poucos a rebelar-se com todos os que o rodeiam - com o tio que o ajudou a ir para a cidade, com o patrão e também com a Ilda. Começa a desconfiar da namorada e acaba por mata-la no final do filme, após a recusa por parte desta relativamente ao seu pedido de casamento.

Com as devidas diferenças e distâncias, esta é uma história que poderia perfeitamente ser actual. Os problemas, as paixões, os encantos e desencantos de Júlio e de Ilda são comuns aos de muitos jovens actuais. No entanto, existem algumas dimensões nas quais é possível encontrar diferenças importantes. Uma delas será certamente a da vida íntima destes jovens.

Como é sabido, a postura fortemente conservadora do Estado Novo relativamente às questões da sexualidade e do género tornavam impossível qualquer abordagem mais explícita da sexualidade no cinema e, de resto, em qualquer outro meio de comunicação social ou na vida quotidiana em geral. Nas escolas os esquemas do corpo humano eram apresentados sem os órgãos genitais e existia a política da divisão de sexos, em que rapazes e raparigas eram confinados a espaços de ensino distintos. Desta forma pretendia-se proteger crianças e adolescentes de experimentalismos considerados desnecessários e perigosos quando, na verdade, este cuidado provavelmente teria apenas como efeito de aguçar a curiosidade e o fomentar da falta de informação sobre o sexo oposto e sobre a sexualidade.

Esta divisão territorial dos indivíduos dos dois géneros traduz também, de alguma forma, aquilo que se vivia em termos das mentalidades nacionais durante este período histórico. De facto, na sociedade portuguesa pré-25 de Abril predomina uma divisão marcada entre as esferas do masculino e do feminino, que se traduz no quotidiano e que é consagrada numa legislação fortemente sexista. As mulheres deverão ser donas de casa, cuidar da vida doméstica e educar os filhos. Os homens deverão ser os responsáveis pela vida activa, pela política e pela guerra. O culto da Virgem Maria, celebrada pelo Estado Novo com a construção do santuário de Fátima, fornece às mulheres um ideal feminino de maternidade do qual se encontra ausente a sexualidade (Rodrigues, 1995). Pelo contrário, quanto aos homens, reina uma muito maior permissividade sexual.

Predominava, assim, uma situação em que toda a conjuntura social, política e cultural reforçava e mantinha um duplo padrão de moralidade sexual rígidificado. Às raparigas era esperado que apenas tivessem relações sexuais no contexto do casamento e aos rapazes que tivessem uma larga experiência sexual com diversas parceiras, independentemente do seu estado civil.

A iniciação sexual no masculino era com frequência efectuada através do recurso à prostituição, uma espécie de ritual de iniciação realizada em grupo ou conduzido pela mão do pai ou, no caso do Júlio, o anti-herói de "Os Verdes Anos", pela mão de um inglês que conhece ocasionalmente. No feminino, imperava o desconhecimento sobre a vida sexual, amiúde apenas atenuado nas vésperas nupciais pelos conselhos maternos. A regra era a de servir o marido, querendo isto dizer que a mulher deveria ser tão submissa ao nível sexual quanto o era na vida doméstica e social. O seu prazer era secundário ou mesmo indesejado.

O 25 de Abril de 1974 veio revolucionar também esta forte divisão no que respeita ao género através da abolição progressiva da legislação discriminatória e do maior acesso à informação. No entanto, é difícil determinar qual o real impacto da revolução na vida íntima dos jovens, dada a ausência de estudos sobre esta temática durante o período pós-revolucionário.
Um dos poucos indicadores que temos a este propósito, ainda que a informação que nos possa dar sobre as práticas sexuais efectivas dos jovens não seja muita, é o relativo às taxas de natalidade dos adolescentes durante esta fase. Estes dados foram obtidos a partir das estatísticas gerais da natalidade do anuário de estatística de 1976 que cobre o período compreendido entre 1966 e a data da sua publicação.

Conforme se pode verificar através destes dados, em raparigas com idades iguais ou inferiores aos 18 anos neste período de tempo, o número total de gravidezes e também a taxa percentual de gravidezes nesta altura da vida, quando comparadas com o total das gravidezes, mantém-se constante até cerca de 1973, sendo que, após essa data, os valores começam a subir de uma forma acentuada.

Parece, assim, que a revolução trouxe consigo um aumento considerável de situações de gravidez nesta fase precoce da vida. Não podemos, entretanto, determinar ao certo se estas surgem devido a um real desejo de maternidade, quiçá devido às transformações sociais que ocorrem nesta fase, ou se são, por outro lado, estas alterações e o consequente aumento da permissividade que levam a uma maior passagem ao acto ao nível sexual, sem que se tomem em consideração quaisquer cuidados contraceptivos.

Efectivamente, é só em 1984 que a lei 3/84 vem permitir o estabelecimento de consultas de Planeamento Familiar que proporcionam aos jovens a possibilidade de viverem a sua vida sexual livre de preocupações. Ainda assim, esta medida não parece ser suficiente, uma vez que as taxas de natalidade durante a adolescência irão continuar em alta ao ponto de se encontrarem, já nos anos 80 e 90, de entre as mais elevadas da Europa.

No que respeita às mentalidades, verificam-se algumas alterações, o que é compreensível se tivermos em consideração que entretanto muito mudou, por exemplo, no que respeita à situação das mulheres. Assim, numa investigação levada a cabo em 1983 pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento (Miguel & Vilar, 1987) sobre os valores e atitudes dos jovens portugueses (15-24 anos), verifica-se que a grande maioria destes (84,4%) consideram que a sexualidade é algo mais do que apenas o acto sexual, ou seja, vêm a sexualidade como uma forma de comunicação ou como uma relação global. Cerca de metade dos então inquiridos valoriza a sexualidade no âmbito do casamento (op.cit, p.85).

Quando questionados sobre a existência de uma prática sexual efectiva, verifica-se que existe uma discrepância significativa entre os resultados relativos ao sexo masculino e ao sexo feminino. Assim, são 70% dos rapazes e apenas 31% das raparigas que admitem já ter tido uma relação sexual. No entanto, estes dados devem ser contextualizados, o que se pode efectuar através da análise a outras questões deste inquérito. Assim, verificamos que são principalmente as raparigas que apresentam sentimentos de culpa mais pronunciados relativamente à actividade sexual, e que são também elas, mais do que os rapazes, que consideram importante manter algum grau de clandestinidade relativamente essa mesma actividade.
Estes dados indicam-nos que as raparigas deste período do início dos anos 80, mesmo que tivessem actividade sexual, mais dificilmente estarão dispostas a admiti-lo. Caso contrário, teremos que presumir um recurso à prostituição ainda intenso por parte dos rapazes para o início da sua actividade sexual, o que, neste período, estaria já em declínio.

Mas todas estas questões não são estanques e têm uma evolução própria. Num outro estudo realizado por Eurico de Figueiredo apenas 3 anos mais tarde do que o anterior, em 1986, verifica-se que, em relação à geração dos seus pais, os jovens apresentam uma muito maior permissividade face às relações sexuais pré-matrimoniais, em particular no caso das raparigas, e uma maior aceitação do trabalho feminino (Figueiredo, 1988). Constata-se, desta forma, uma concepção mais flexível dos papéis de género nos jovens de meados dos anos 80, em favor das mulheres, que vem atenuar o já mencionado duplo padrão de moralidade sexual, concedendo uma maior pemissividade à sexualidade das raparigas.

Este é aliás, um processo que se estende até aos dias de hoje. Desta forma, num estudo realizado ao nível nacional com jovens adultos, as diferenças na ocorrência de actividade sexual de acordo com o género são praticamente inexistentes (Nodin, 2000). Na faixa etária compreendida entre os 18 e os 25 anos verificamos que 80,5% dos rapazes já iniciou a sua vida sexual, enquanto que as raparigas se encontram a uns meros 5 pontos percentuais de diferença, com um total de 75,6% das mesmas a afirmarem já terem experiência sexual.

Diferenças consideráveis encontram-se no tipo de relação que estes jovens afirmam ter com o parceiro. Assim, os elementos do sexo masculino referem ter, em 54% dos casos um parceiro fixo e em 42,7% parceiros ocasionais, enquanto que no sexo feminino estes valores se invertem, de forma que 85,7% das raparigas afirmam ter um parceiro fixo e 6,2% das mesmas reconhecem já ter tido parceiros sexuais ocasionais.

Desta forma, se ao nível do reconhecimento de experiência sexual não encontramos grandes reflexos do duplo padrão de moralidade, tal já não é necessariamente verdade na identificação do tipo de relação que se mantém com um parceiro. A maioria das raparigas considera ter uma relação estável e muito poucas relações ocasionais e os rapazes são de opinião contrária. Provavelmente o que acontece é que a forma de avaliar a relação por ambos é diferente. Algumas das raparigas pensarão ter uma relação estável com os seus parceiros, enquanto que eles não serão da mesma opinião…

Existe aqui um outro dado que nós temos de outros estudos realizados e que convém ter em consideração. Cada vez mais, conforme nos revelam as investigações levadas a cabo nesta área, é atribuída uma especial importância à afectividade no âmbito da sexualidade. Assim, Valentim Alferes verificou que na sua amostra de estudantes universitários, 74,3% dos que não eram virgens declararam ter estado apaixonados pelo seu primeiro parceiro sexual (Alferes, 1997). De resto, em outras investigações efectuadas durante os anos 90, verifica-se algo de semelhante quando se constata que muitos jovens apenas decidem iniciar a sua actividade sexual quando encontram a “pessoa certa” (Pais, 1996).

Estes ideais relativos às relações afectivas não são, aliás, exclusivos das gerações mais novas e encontram-se também em adultos, constituindo-se como um verdadeiro novo padrão de relacionamento ao nível amoroso. Cada vez mais estas relações são consideradas como meios de alcançar a felicidade pessoal e a partilha afectiva com o parceiro. O final do amor é considerado como motivo suficiente e necessário pela maioria das pessoas para terminar a sua relação afectiva.

Por outro lado, ainda num outro estudo coordenado por José Machado Pais (1998), apenas 6% dos jovens considera necessário o casamento para que possa ocorrer um envolvimento sexual. Este dado, contrariamente ao que se crê, não é sinónimo do facto de os jovens terem, na actualidade, uma iniciação sexual mais precoce. Alguns certamente que começarão o seu percurso de descoberta da sexualidade a dois logo no início ou no período médio da adolescência, mas estes não constituem a maioria. As estatísticas oficiais indicam-nos que a idade média para a ocorrência da primeira relação sexual é, nos rapazes, de 17,4 e, nas raparigas, de 19,8 (INE, 1997).
Na verdade, o que nos mostram estes dados do Instituto Nacional de Estatística é que, comparando as idades médias de inicio da actividade sexual de indivíduos de diferentes grupos etários, verifica-se que, de há trinta anos a esta parte não têm existido grandes alterações no que respeita à referida idade, pelo menos nos rapazes.

Nas raparigas, verificou-se um ligeiro decréscimo: as mulheres agora com idades na casa dos 40 iniciaram a sua vida sexual em média quando tinham 21 anos e meio. Ou seja, na prática, as mães das adolescentes de hoje tiveram a sua primeira relação sexual apenas 2 anos mais tarde do que as suas filhas o fizeram ou farão na actualidade. Os rapazes iniciaram em média a sua actividade sexual com a mesma idade com que os seus progenitores masculinos o fizeram.

Assim, e pelo menos em aparência, os comportamentos não se alteraram de uma forma tão significativa quanto à partida poderia parecer. Ou será que estas alterações são também qualitativas e não apenas quantitativas? Alguns indicadores parecem apontar nesse sentido. Verifica-se, por exemplo, que os jovens actuais estão mais dispostos a explorarem diferentes formas de experimentação sexual, que vão bem além do coito vaginal. De facto, tudo indica que práticas outrora minoritárias, como sejam o sexo oral, o sexo anal, as experiências sexuais em grupo, as práticas homossexuais e, em menor escala, as de sadomasoquismo, façam hoje parte do menu ao qual os jovens recorrem na sua vida íntima.
Falamos, mais especificamente nestes casos, de jovens adultos, ou seja, de indivíduos que já estão numa fase do final da adolescência e de entrada na vida adulta, para os quais estas práticas surgem de uma forma complementar às mais convencionais e não como formas exclusivas de comportamento sexual.

Um dos factores que poderá estar na base deste tipo de alterações do conteúdo das relações íntimas dos jovens é o maior acesso a materiais sexuais explícitos. No final da década de 1980, a transmissão do filme "O Império dos Sentidos" foi motivo de grande polémica nacional. Altas autoridades da moral e dos bons costumes deram o seu parecer sobre tal exposição de actos sexuais explícitos. Promoveram-se debates dobre o assunto da sexualidade na televisão e sobre a liberdade de imprensa. No início do novo século (mais precisamente em 2001), o mesmo filme voltou a ser transmitido no 2.º canal da RTP e muito poucas pessoas terão dado conta desse facto, ao contrário desse outro e agitado episódio. Até porque filmes de conteúdos bastante mais explícitos começaram a estar disponíveis noutros canais, de resto sem que qualquer tipo de polémica se lhes tivesse estado associada.

De facto, o fácil acesso que os jovens têm actualmente à pornografia, não só através da televisão por cabo, como também através da Internet, veio dar-lhes, desde idades precoces, uma ideia muito mais clara sobre o que é uma relação sexual entre duas - ou mais - pessoas. Enquanto que há apenas uns anos atrás aquilo que se sabia nesta área decorria da imaginação, das conversas entre amigos e ainda das cenas mais ou menos claras que surgiam na televisão e no cinema, qualquer pessoa tem hoje a possibilidade de enriquecer o seu repertório sexual através do visionamento destes filmes e sites da Internet. Certamente que essa situação leva a uma maior procura de experimentação sexual, por curiosidade e busca de novas sensações.

Esta situação certamente que não é alheia ao facto de, a par da importância atribuída à dimensão afectiva da sexualidade a que já nos referimos, encontrarmos entre os jovens da actualidade a valorização da vertente erótica da experiência sexual (Pais, 1998). A busca do prazer em detrimento de outras dimensões da sexualidade, no que se poderá intitular de hedonismo erótico ou sexual, surge hoje em dia como um valor que pode efectivamente explicar o investimento em actividades sexuais outroura minoritárias. Tudo se faz em prol do prazer, tudo se experimenta, tudo é permitido.

Estes são dados importantes na nossa missão porventura ingrata, mas tentadora, de traçar algumas perspectivas de futuro quanto aos hábitos sexuais dos jovens portugueses. Se a Futurologia não é, de facto, uma ciência de pleno direito temos algumas alternativas, arriscadas, sem dúvida, mas que nospermitem traçar cenários. Tal como postulado por Eurico de Figueiredo (1988), os valores e as atitudes de uma geração enquanto jovem são, de alguma forma, um prenúncio importante sobre o que irão ser as mesmas num futuro mais ou menos próximo.

A globalização, mais do que a massificação do sexo, que se manifesta na grande disponibilidade de informação e de modelos alternativos de comportamento e posturas sexuais, parece já estar a trazer aos jovens um novo alento na exploração de continentes ainda virgens. Tudo indica que o mesmo irá continuar a acontecer, de formas ainda por nós desconhecidas, no futuro. No entanto, se os dados relativos às novas permissividades sexuais parecem indicar que, pelo menos num futuro próximo, os jovens irão procurar explorar o prazer erótico de formas impensáveis pelos seus pais, outros indicadores não nos parecem tão optimistas, nomeadamente no que à saúde sexual destes jovens diz respeito.

Assim, não existem sinais de que as elevadas taxas de infecção por ITS’s (Infecções Transmitidas Sexualmente) e de gravidez na adolescência venham a declinar num futuro próximo. E não o farão enquanto não existir uma política consistente, integrada e abrangente de prevenção ao nível da sexualidade dos jovens.
A Educação Sexual que por fim, após vários anos de espera, inicia a sua introdução nas escolas, fa-lo-á, certamente de uma forma lenta, mercê das resistências ideológicas dos responsáveis escolares, dos docentes e mesmo dos pais. Espera-se, no entanto, que a mais longo prazo possa começar a ter o seu efeito, abrangendo a maioria dos jovens portugueses e possibilitando escolhas responsáveis e posturas esclarecidas.

A população universitária portuguesa é constituída actualmente por cerca de 80% de alunos do sexo feminino. A progressiva integração destas raparigas, futuras mulheres, na vida social e profissional irá ter consequências a diversos níveis. Um dos efeitos prováveis será o esbatimento das barreiras do género, do qual começam já a existir alguns prenúncios. Para já, os homens, começam a estar mais preocupados com o prazer das suas parceiras - descobriu-se, finalmente!, que uma proporção considerável de mulheres não estava satisfeita com a sua vida sexual. No futuro, é possível que os homens, a começar na adolescência, descubram novas angústias relacionadas com o poder que vão ver a escapar-se-lhes das mãos para irem parar a mãos femininas. Porém, é possível que, com o tempo comecem também a assimilar e a tirar partido das vantagens de um mundo não tão rígido em termos dos papeis de género.

O futuro ao futuro pertence, o que é uma forma simpática de dizer que de facto não sabemos se o que aqui conjecturamos se irá concretizar. Podemos apenas traçar cenários e esperar o melhor, não esquecendo, no entanto, que a nós também cabe alguma responsabilidade enquanto adultos e educadores dos jovens de hoje e de amanhã. É a todos nós também que compete intervir, formar, educar, para que os melhores e não os piores cenários se concretizem.


Referências Bibliográficas

Alferes, V. (1997). Encenações e comportamentos sexuais. Para uma psicologia social da sexualidade. Porto: Afrontamento.

Figueiredo, E. (1988). Portugal – Os próximos 20 anos. II Vol. "Conflito de gerações – Conflito de valores". Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Instituto Nacional de Estatística (1976). Anuário de estatística. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.

Instituto Nacional de Estatística (1997). Inquérito á fecundidade e à família. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.

Miguel, N., & Vilar, D. (1987). Situação, problemas e perspectivas da juventude em Portugal – Afectividade e sexualidade no novo contexto social e cultural. Cadernos “Juventude. Lisboa: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento.

Nodin, N. (2000). Os jovens portugueses e a sexualidade em finais do século XX. Lisboa: Associação para o Planeamento da Família.

Pais, J. M. (1996). Sexualidade. In Jovens de hoje e de aqui (pp.195-221). Cadernos Estudos Locais. Loures: Dept. Sócio-Cultural, C. M. Loures.

Ramos, J. L. (1989). Dicionário do cinema português 1962-1988. Lisboa: Caminho.

Rodrigues, J. A. (1995). Continuidade e mudança nos papéis das mulheres portuguesas urbanas. O aparecimento de novas estruturas familiares. Lisboa: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Mães adolescentes

Pode até parecer mentira, mas a verdade é que, em pleno século XXI, ainda há muitos jovens sem informação no que diz respeito à sua própria sexualidade. Mas, mais do que falta de informação, é o medo de assumir a vida sexual activa e a falta de espaço para a discussão dos valores com os pais/adultos que, muitas vezes, acaba por levar à gravidez indesejada.

Claro que também há gravidezes falsamente indesejadas, geradas pela necessidade de afecto das raparigas ou para forçar o parceiro a assumir a relação. Esta ocorrência culmina com as gravidezes que se dão para serem o pretexto de a rapariga poder sair de casa, deixar o seu meio familiar, quase sempre desestruturado e desequilibrado, movida pelo sonho de encetar uma vida nova em que tudo será feliz e harmonioso. Não é regra. Infelizmente esses sonhos quase nunca se tornam realidade...

A adolescência é (ou deveria ser) um período de descoberta do mundo, dos amigos, de uma vida social mais ampla (já se pode até ir à discoteca sem ter os pais sempre a melgar!)... Assim, a gravidez pode interromper, na adolescente (falamos no feminino, porque normalmente é a rapariga que acaba por se privar das suas actividades para cuidar da gestação e da criança), esse processo de desenvolvimento que é próprio da idade.

Acrescem as responsabilidades e há que assumir o papel de adulta, já que se vê "obrigada" a dedicar-se aos cuidados maternos. O prejuízo é duplo: nem é uma adolescente plena, nem será inteiramente adulta!

Mas, ao contrário do que acontecia anteriormente, a informação até está muito mais disponível para os jovens. Abriu-se a discussão da sexualidade e até já há escolas com programas de Educação Sexual. Mas, por incrível que pareça, a situação mantém-se.
Mas afinal, poder-se-á perguntar, se há tanta disponibilidade de informação, por que é que o número de mães adolescentes não se reduz?

Bom, não é lá muito fácil responder a esta pergunta! Afinal de contas, cada caso é um caso. Mas uma coisa é certa: os adolescentes têm, hoje em dia, o acesso facilitado à pílula anticoncepcional e ao preservativo. Os meios de comunicação social e as escolas estão sempre a fazer campanhas de sensibilização, os centros de saúde estão à disposição para tirar toda e qualquer dúvida que possa existir...

No meio de tanta disponibilidade, parece que o problema é os adolescentes ainda não terem assumido a atitude que faz a prática ser eficiente. Ou seja, a partir do momento em que têm acesso à informação, este acesso deveria despoletar uma atitude: a de pôr em prática os conhecimentos adquiridos. Mas infelizmente isso não acontece!

Muitos jovens ainda têm a ideia que com eles não acontece nada de mal - nunca. Esse tipo de coisas acontece sempre aos "outros"! De facto, não é raro ouvir uma mãe adolescente afirmar que "nunca pensei que isto me pudesse acontecer, embora soubesse que podia engravidar".

Este tipo de atitude pode ser designada "pensamento mágico". É verdade, não riam. É um momento em que a dimensão temporal, as atitudes, não são pensadas. E como "não há a menor possibilidade disso acontecer comigo" ou, na versão mais comum, "isso só acontece aos outros", os adolescentes vão deixando acontecer...

E quando descobrem que estão grávidas, a maior parte das adolescentes passa por momentos de grande angústia e tensão. Têm medo de contar ao namorado (se é que a relação é estável), de contar aos pais ou que os amigos descubram e as isolem. A opção, para muitas, é o aborto, feito às escondidas, muitas vezes sem dizerem nada a ninguém.

Outras optam (seja por medo, seja por falta de recursos financeiros, ou até devido às suas convicções) por enfrentar tudo e todos e ir avante com a gravidez. Tanto umas como outras acabam por marcar irremediavelmente as suas vidas: forçam-se casamentos, interrompem-se planos de vida e as crianças, mesmo que sejam muito amadas, são um "imprevisto" que fica para sempre.

Também acontece muitas vezes o medo da jovem levá-la a esconder a gravidez até às últimas consequências. Nesses casos, a falta de um acompanhamento médico desde o início da gravidez, pode trazer complicações, tanto para a mãe como para a criança.

Para as jovens que decidem ter o filho, a fantasia deixa de existir para dar lugar à realidade na hora do parto. É um momento muito delicado que pode gerar medo, angústia e rejeição.
E, quando não há apoio da parte da família, companheiro e amigos, o futuro da adolescente fica seriamente comprometido. Interrompem-se os estudos (muitas vezes até definitivamente) e hipoteca-se a oportunidade de arranjar o emprego/carreira dos seus sonhos...

Viver simultaneamente a própria adolescência e ser pai também não é tarefa fácil. Da mesma forma, o jovem adolescente que se torna pai vê-se envolvido na dupla tarefa de lidar com as transformações da idade e as da paternidade, que requerem trabalho, estudo, educação do filho e cuidados com a companheira, esposa ou "apenas" mãe do seu filho.
A somar a isto, quando a relação não é estável ou foi apenas uma aventura, as relações entre duas famílias que "não têm nada em comum excepto a criança" podem ser muito tensas e até hostis... E quem sofre? Não, não é só a criança. São todos!

E, apesar de todas as dificuldades que advêm da gravidez indesejada na adolescência, não é raro ouvir dizer que os programas de Educação Sexual nas escolas só servem para despertar o interesse aos adolescentes. Como se, ao aprender como se utiliza um preservativo, se fosse a correr experimentar ter relações sexuais!!! Na verdade, quanto mais informação os adolescentes tiverem, quanto melhor for a qualidade da mesma, mais condições estes terão de fazer as escolhas correctas para não prejudicar a sua vida.

Mas dar apenas informações técnicas aos jovens não basta! É muito importante que também sejam orientados em casa, na família. É essencial que possam fazer perguntas, conversar com amigos e parentes mais velhos e aconselhar-se quanto à escolha do melhor método contraceptivo. O importante é que falem e sejam ouvidos (e não julgados)!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Educação Sexual, as atitudes e as crenças

Para falar de Educação Sexual é essencial que comecemos por explicar o que entendemos por sexualidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a Sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade. Integra-se no modo como nos movemos, tocamos e somos tocados. Influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influencia a nossa saúde física e mental. Ou ainda segundo Merleau Ponty (1975), a sexualidade é todo o nosso ser, um ser humano sem sistema sexual é tão incompreensível quanto um ser humano sem pensamento.

A educação para a saúde, na qual se integra a Educação Sexual, concentra-se na mudança de atitudes e crenças, julgados determinantes do comportamento. Procura-se obter com esta estratégia uma promoção do melhor estado de saúde. Paralelamente a este movimento educativo, a promoção da saúde, com o objectivo de melhorar a saúde e prevenir a doença, estendeu-se a campos sociais e legislativos. Tal aconteceu com a Educação Sexual. O Estado, numa perspectiva de melhorar a saúde dos adolescentes e prevenir a doença, deu início a um processo legislativo e de implementação da Saúde Sexual e Reprodutiva nas escolas através do conceito Educação Sexual.

A Educação Sexual tem como objectivo a integração harmoniosa das diversas facetas da sexualidade humana, promovendo a aquisição de uma postura responsável, flexível e gratificante de crianças e jovens enquanto seres sexuados. Neste sentido a Educação Sexual foi pensada através de uma abordagem transversal não reducionista . Isto é, respeitando uma estrutura multifacetada da sexualidade humana, abordando relações interpessoais, responsabilidades, anatomia e fisiologia, etc.

O primeiro grupo de estudo sobre «Sexualidade e Educação» aparece em 1971 no âmbito da «Reforma Veiga Simão» e funciona até 1973, produzindo uma actividade no âmbito da educação mista. A 24 de Março de 1984 surge o primeiro documento legal publicado sobre Educação Sexual em meio escolar, a Lei 3/84. O Estado garante deste modo o direito à Educação Sexual como componente do direito fundamental à educação. O Estado português tem vindo então a enquadrar legislativamente a Educação Sexual, quer a nível das Leis de Base do Ministério da Saúde, quer do Ministério da Educação. Todavia, só através do Decreto-Lei N.º 120/99 de Agosto de 1999 foram definidos e nomeados os conteúdos da Educação Sexual:

Sexualidade Humana;
Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor;
SIDA e outras doenças transmitidas por via sexual;
Métodos contraceptivos e planeamento familiar;
Relações interpessoais;
Partilha de responsabilidades e igualdade entre os géneros.

As atitudes e as crenças face à sexualidade – As atitudes podem ser definidas como uma predisposição para a avaliação favorável ou desfavorável. Estas predisposições vão sendo consolidadas, em particular na adolescência, através das experiências de vida ou da aprendizagem com os pares. De acordo com Félix López, esta predisposição pode ser subdividida em crenças (componente cognitiva da atitude), sentimentos (componente afectiva da atitude), e ainda numa disposição para o comportamento (componente comportamental).

Durante a adolescência a estrutura valorativa entra muitas vezes em ruptura, as atitudes entram muitas vezes em contradição com o sistema de crenças. O comportamento nesta fase do ciclo de vida contraria um sistema valorativo muitas vezes imposto por pais e educadores. A procura de um próprio mapa valorativo conduz o jovem a atitudes contraditórias e a uma constante procura de harmonia entre crenças e atitudes. A Educação Sexual procura de certa forma capacitar para a reflexão, responsabilização e para o desenvolvimento de atitudes positivas face à sexualidade.

As atitudes podem mudar ao longo da vida e podem ir desde uma atitude conservadora – erotofóbica - em que a sexualidade é vista unicamente no sentido da reprodução, até uma atitude liberal – erotofílica -, na qual a sexualidade é entendida como dimensão humana com múltiplas possibilidades. A mudança num ou noutro sentido depende de numerosos factores, todavia, conhecendo-se a estrutura de determinada atitude, é mais fácil compreender certos comportamentos sexuais e levar a cabo intervenções que facilitem a mudança (López, 1999).

A presente legislação relativamente à Educação Sexual é a prova da restruturação do mapa de atitudes sociais face à sexualidade. Na realidade afastámo-nos de uma atitude de negação, interdição, proibição e obsessão face à sexualidade dominada pela ideologia judaico-cristã. Esta perspectiva assentava num modelo dualista de corpo (matéria impura) e alma (matéria pura), dando origem ao modelo biomédico, a uma estrutura social e legislativa de proibição e recriminação da sexualidade. Todavia, para muitos, as atitudes socais face à sexualidade, confrontadas com um boom da comercialização da imagem e do sexo, mudaram-se do campo da interdição para o campo da permissividade. Aqui nasce uma certa preocupação social face ao que pode ser aprendido e controlado através da Educação Sexual em meio escolar.


Referências Bibliográficas

Bennett, P., & Murphy, S. (1999) Psicologia e Promoção da Saúde (traduç. portuguesa). Lisboa: Climepsi Editores.

Equipa de Apoio Técnico sobre Educação Sexual (EATES) ao Centro Nacional da Rede de Escolas Promotoras de Saúde (2000). A Educação Sexual em Meio Escolar – Linhas Orientadoras. Lisboa: Ministério da Educação e Ministério da Saúde.

López, F. (1995). Amor, Erotismo, Biologia e Educação Sexual. Sexualidade e Planeamento Familiar, S.2 (6), 8-12.

López, F., & Fuertes, A. (1999). Para Compreender a Sexualidade (traduç. portuguesa). Lisboa: APF.

López, F.,García, C., Montero, M., Rodríguez, J. A., & Fuertes, A. (1986). Educacíon Sexual en la Adolescencia. Salamanca: Edições Universidade de Salamanca.

Loureiro, I. (1998). Educação Sexual nas Escolas. Sexualidade e Planeamento Familiar, N º 17/18, Série 2 ( Jan/Jun 1998 ), 10-12.

Vaz, J.M., Vilar, D., & Cardoso, S. (1996). Educação Sexual na Escola. Lisboa: Universidade Aberta.

Vilar, D. (1987). Aprendizagem Sexual e Educação Sexual. In Sexologia em Portugal: sexualidade e cultura, II Vol. (pp.165-180). Lisboa, Texto Editora.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Culto do Corpo

Se há uma coisa da qual pudemos ter certeza é o facto de nascermos e morrermos seres sexuados. Pudemos nascer do sexo masculino ou do sexo feminino, até pudemos nascer com um sexo que não desejamos. Mas nascemos com um sexo...somos seres sexuados e toda a nossa vida e a maior parte dos nossos comportamentos irá ser condicionada por essa constante.

Este corpo sexuado é o objecto mais privado que possuímos, sendo, simultaneamente, aquele através do qual interagimos em sociedade. É através dele que sentimos e “infligimos” a atracção física, e vivenciamos a beleza. É sem dúvida um objecto de culto, alvo de padrões culturais de beleza que diferem de cultura para cultura de sexo para sexo e evoluem com o passar dos anos e das modas. O corpo pode ser também um veículo de uma das nossas melhores linguagens: a linguagem corporal. Os movimentos e as expressões possuem um papel vital na manifestação de emoções e sentimentos como a paixão, o desejo ou o amor.

Quer queiramos quer não, a beleza individual, a imagem, o corpo, desempenham um papel fundamental na escolha do parceiro. O ideal de beleza e o estatuto subjacente sobrepõe-se à escolha de parceiro com fins reprodutivos. A ideia de beleza interior pode parecer um conceito muito nobre, mas na realidade é em prol do aspecto físico que fazemos sacrifícios. Pensando bem, não aproveitamos o nosso pouco tempo livre para lermos as últimas novidades literárias. Não, vamos ao ginásio, fazemos exercício, aperfeiçoamos o corpo, melhoramos o nosso cartão de visita.

Desde cedo aprendemos a olhá-lo e a compará-lo. Este é um ritual que começa logo na infância quando descobrimos as diferenças entre “meninos e meninas”, mais tarde já durante a adolescência iniciam-se as comparações entre os géneros. Entre grupos de rapazes e raparigas gera-se um frenesim e uma competição pela presa do sexo oposto. As raparigas anseiam pelo boom revolucionário de ancas e seios e exterminam pêlos voluntariosos os rapazes contam pelos dedos das mãos os novos pêlos da face, exibem os músculos e medem o pénis, consomem horas em frente a espelhos na esperança de parecer belos aos olhos de quem se quer agradar.

Mais tarde fazem-se novos sacrifícios pela imagem, basta olhar para o comprimento (e também para a largura) de saltos altos sobre os quais milhares de mulheres se equilibram das 9 às 17h ou a fileira de cremes e produtos de beleza, com que nos "besuntamos". A própria força da gravidade é contrariada por wonder bras (aqueles soutiens que levantam os seios) ou por wonder pants (roupa interior que tem o mesmo efeito, mas, neste caso no traseiro de homens e de mulheres). Todas estas práticas retratam formas de estar e viver com o próprio corpo, muitas delas apressando os anos, outras procurando retardá-los.

Um corpo bonito, uma boa forma física foram sempre sinónimos de uma maior receptividade do sexo oposto por estarem associados a uma melhor performance sexual. Padronizou-se que um corpo musculado, atlético era garantia de prazer. Em volta da sexualidade e do corpo criaram-se inúmeros mitos, aliás, sendo ainda a sexualidade um assunto tabu que só em anos mais recentes tem sido desmistificada. A Educação Sexual em meio escolar é popular entre os mais novos, permitindo muitas vezes clarificar conhecimentos e eliminar tabus.

Todavia são ainda inúmeros os mitos erróneos que se espalham à velocidade da luz. Corpos musculados podem ser sinónimo de prazer para uns, longe de o serem para outros, o sexy e o sensual são conceitos muito pessoais, sentidos de diferentes e variados modos. Não são as loiras que detém o poder da atracção sexual e as morenas o intelecto, de certo que não é o tamanho dos seios ou o diâmetro das ancas que semeia desejo ou o tamanho do pénis que assegura orgasmos. É a linguagem do corpo associada a uma boa dose de imaginação que nos torna atraentes e sedutores.

Quando existe desconhecimento ou quando se instala a comparação e se desassocia a linguagem do corpo de todos os sentimentos, implantam-se tabus e medos. O desconhecimento do funcionamento do nosso corpo torna-nos intolerantes e competitivos. A sexualidade deve ser vivida de modo tranquilo, concedendo-nos o tempo necessário, respeitando o nosso tempo e respeitando o tempo dos outros. Aprendendo a viver com o nosso corpo, os nossos defeitos e as nossas qualidades e tirar partido de todos eles.

sábado, 1 de outubro de 2011

Amor - uma abordagem "científica"



Este artigo expressa as teorias apresentadas por vários autores. Como todas as teorias, também estas são constestáveis.







APAIXONAR-SE

É frequente distinguir três fases no processo de enamoramento e em cada uma delas se observa a intervenção de diferentes hormonas. Vejamos:

Fase 1: Desejo
O desejo é "alimentado" pelas hormonas testosterona e estrogénio. A testosterona não existe apenas nos homens e desempenha um papel importante no desejo sexual das mulheres.
Fase 2: Atracção
Esta é a fase mais "aguda", durante a qual as pessoas envolvidas parecem não ser capazes de fazer mais nada além de suspirar pelo(a) eleito(a) do seu coração. Os casos mais graves incluem perda de apetite e insónia.
Nesta fase há um grupo de neurotransmissores que desempenham um papel importante para induzir o comportamento que a caracteriza. Entre estes estão:
- dopamina
(é também activada pela cocaína e pela nicotina)
- norepinefrina/adrenalina
(acelera o ritmo cardíaco e provoca sudação)
- serotonina
(a sua acção traduz-se em alterações do comportamento)

Fase 3: Ligação afectiva
Ninguém aguenta ficar na fase 2 para sempre, pelo que a necessidade de estabelecer uma ligação mais forte e assumir um compromisso surge naturalmente. Há duas hormonas cuja presença marca esta fase:
- oxitocina
(é libertada durante o parto e está directamente implicada na produção de leite materno; é também libertada por ambos os sexos durante o orgasmo e pensa-se que será de alguma forma responsável pela ligação entre dois adultos que mantêm uma relação de intimidade)
- vasopressina


ATRACÇÃO

Segundo alguns estudiosos, existem alguns factores que nos tornam mais ou menos atraentes para o sexo oposto.

Simetria perfeita
Pensa-se que, sem nos apercebermos, encaramos a assimetria do rosto como um indício da existência de problemas genéticos no indivíduo em causa. Assim, muitos estudos revelaram que os homens parecem sentir-se atraídos pelas mulheres com os rostos mais simétricos. Nas mulheres essa preferência não é tão acentuada.

A «mulher-ampulheta»
Os homens parecem apresentar uma preferência por mulheres com uma relação anca-cintura de 0,7. Esta relação pode ser obtida graças à seguinte fórmula: medida da cintura ÷ medida da anca. Esta atracção não parece estar associada ao peso. Há quem estabeleça uma ligação entre esta relação e a fertilidade da mulher.

E quem diz que os elementos de um casal são frequentemente bastante parecidos não está assim tão errado, uma vez que (mais uma vez) há estudos que indicam que temos tendência a procurar um parceiro que tenha algumas características em comum connosco.